![]() Nº 1 - 16 - Julho de 1998 - ano II
ASSUMINDO OS OITO PRECEITOS PARA TODA A VIDA
Deve-se proferir somente palavras
Falar palavras gentis, palavras
O pior entre duas pessoas é aquele
O tolo pensa que venceu a batalha Nós assumimos preceitos para tornar nossas vidas felizes, não miseráveis. Há pessoas que têm vidas infelizes porque não observam nenhuma disciplina, e também porque não seguem orientações nem princípios para uma vida feliz. Mais cedo ou mais tarde elas precisam compreender a importância dos preceitos. A observação de preceitos também melhora a meditação. Quando a mente está clara, a consciência não a afeta, não havendo motivos para remorso, assim, a concentração será melhor. O cumprimento dos preceitos funciona como um lembrete, um modo de ajudar-nos a estar conscientes. Quando se pratica uma ação que infringe um dos preceitos, a mente logo dirá: "Pare! Você não se lembra?" e você dirá, "Ah! Eu prometi não ..." O preceito funciona como o toque leve do chicote que faz com que o cavalo se mantenha no caminho, ou como o soar de uma buzina a advertir um motorista a permanecer em sua fila. Algumas pessoas dirão: "Que benefício traria isso para mim? Não gosto de seguir regras. Minha vida vai bem do jeito que está." Mas a vida dessas pessoas não está bem. Se estivesse, elas não necessitariam de se envolver com mentiras, roubos, intrigas e de terem a fala áspera. Ao invés de desperdiçarem energia infringindo os preceitos, elas estariam em melhor situação usando suas energias em atividades mais saudáveis. Se frequentemente rompemos os preceitos, teremos grande dificuldade quando tentarmos parar de fazê-lo. Nós já estamos propenso a repetir o erro. Constantemente nos colocamos em situações difíceis. Não apenas através de roubo, de má conduta sexual, mas também por mentira, participação em intrigas e uso de palavras grosseiras. Não deveríamos ter medo em comprometermos em assumir os preceitos. Deveríamos nos sentir felizes por termos decididos a tornar nossas vidas felizes. Pessoas viciadas em álcool, drogas, jogatinas e em outra atividades pouco saudáveis, têm muita dificuldade em tomar a decisão de parar. Elas fincam o pé e sempre arranjam inúmeras desculpas. Entretanto, uma vez comprometidas a parar e, principalmente depois de manter essa atitude por algum tempo, de repente elas notam que estão pensando com mais clareza, comendo melhor, economizando e desenvolvendo boas relações com a família e com outras pessoas. Então elas tornam-se agradecidas e se congraçam por terem tomado tal atitude. Desistir de um vício é muito difícil; uma pessoa pode fazer várias tentativas sem sucesso. Porém, se sua aspiração for bastante forte, com certeza ele será bem sucedido. Do mesmo modo, podemos ter dificuldade em nos comprometer a abandonar um comportamento pouco saudável, entretanto, uma vez assumido esse compromisso e, principalmente trabalhado insistentemente para mantê-lo, nós também seremos muito felizes por Ter tomado a decisão que traz uma grande melhoria em nossas vidas. Bhante Gunaratana
Boletim BHAVANA - Bhavana Society - vol. 14 nº 2 verão de 1998
O estabelecimento de uma relação harmoniosa e virtuosa com o mundo traz bem-estar e leveza ao coração e clareza imperturbável para a mente. Uma base virtuosa traz grande felicidade e liberação em si mesma e é a precondição para a meditação sábia. Com essa base podemos estar conscientes e não desperdiçar a extraordinária oportunidade de um nascimento humano, a oportunidade de crescer em compaixão e na compreensão verdadeira em nossa vida.
O Buda delimitou cinco áreas de moralidade básica que levam à uma vida consciente. Estas regras de treinamento não são mandamentos; são guias de direção que nos ajudam a viver mais harmoniosamente e a desenvolver a paz e o poder da mente. Primeiro Preceito: Observo o preceito de abster-me de destrui os seres vivos. Segundo Preceito: Observo o preceito de abster-me de tomar o que não me for dado. Terceiro Preceito: Observo o preceito de abster-me de má conduta sexual. Quarto Preceito: Observo o preceito de abster-me da palavra falsa. Quinto Preceito: observo o preceito de abster-me de tomar bebidas alcoólicas que PERTURBAM a mente. O quinto preceito e o terceiro estão interligados. Ambos tratam de comportamentos destrutivos e desestabilizadores. Estes preceitos são remédios certos para curar-nos. Precisamos apenas nos observar e também a aqueles próximos a nós para vermos a verdade. Nossa estabilidade, da nossa família e da sociedade não pode ser obtida sem a prática desses preceitos. Observando indivíduos e famílias que são instáveis e infelizes, veremos que muitos deles não praticam esses preceitos. Praticar esses preceitos é o melhor meio de restaurar a estabilidade no seio da família e na sociedade. Para muitas pessoas esses preceitos são fáceis de serem seguidos, para outros, muito difícil. É importante para essas pessoas juntar-se a outras e compartilhar suas experiências.
Embora alguns pensem que o princípio do carma exista apenas na doutrina budista, na realidade ele pode ser encontrado em quase toas as tradições espirituais. Geralmente é exposto de forma simples: "Se você for bom, irá para o céu, você será feliz. Se você for mau, irá para o inferno, você sofrerá." Nessas tradições, o princípio da inevitabilidade das conseqüências, que chamamos carma, é como um trem com apenas dois destinos: céu e inferno. A visão budista é a de que o trem tem muitas paradas intermediárias. Quanto maior a bondade de uma pessoa, maiores as suas experiências de felicidade. Quanto maior a negatividade de uma pessoa, maior o seu sofrimento e dor. A realidade atual do nosso dia-a-dia é o resultado cármico dos nossos pensamentos, palavras e atos, nesta vida e em vidas passadas. Algumas pessoas têm dificuldade com a visão mais extensa que o budismo possui do carma porque não acreditam em renascimento. Como não podem constatar que elas próprias ou qualquer outra pessoa terão uma existência futura, ou que tiveram alguma existência anterior, não conseguem aceitar a idéia de renascimento. Mas o fato de que não conseguimos nos lembrar de vidas passadas ou vislumbrar vidas futuras não é motivo suficiente para não acreditarmos nelas. Há muitas coisas nas quais temos confiança, apesar de não podermos enxergá-las ou constatá-las empiricamente. O carma pode ser comparado a uma semente que, em condições adequadas, dará lugar a uma planta. Se você colocar na terra uma semente de cevada, pode ter certeza de que obterá um broto de cevada. A semente de cevada não vai produzir arroz. A mente é como um campo fértil - coisas de todos os tipos podem crescer nele. Quando plantamos uma semente, isto é: um ato, uma palavra ou um pensamento, num dado momento, será produzido um fruto que irá amadurecer e cair por terra, perpetuando e incrementando aquela mesma espécie. Momento a momento, plantamos sementes de causalidade potentes com nosso corpo, fala e mente. Quando se juntarem as condições adequadas para o amadurecimento do nosso carma, teremos que lidar com as conseqüências das coisas que plantamos. Embora sejamos responsáveis por aquilo que semeamos, esquecemos que lançamos aquelas sementes e quando amadurecem, damos crédito a pessoas ou coisas fora de nós pelo acontecido, ou então as culpamos por isso. Somos como uma ave pousada sobre uma rocha que consegue ver sua sombra, mas que, quando voa, esquece-se de que a sombra existe. A cada vez que pousa, a ave pensa que encontrou uma sombra completamente nova. No momento, temos um pensamento, falamos ou agimos. Mas perdemos de vista o fato de que cada pensamento, palavra e ação produzirá um resultado. Quando o fruto finalmente amadurece, pensamos, "Por que isto aconteceu comigo? Não fiz nada para merecer isto". Uma vez que tenhamos cometido uma ação negativa, a menos que ela venha ser purificada, viveremos as suas conseqüências. Não podemos nos esquivar da responsabilidade, nem tentar fazer o carma desaparecer por meio de justificativas. As coisas não funcionam assim. Todo aquele que pratica um ato irá infalivelmente viver os seus resultados, quer positivos, quer negativos. Cada movimento dos nossos pensamentos, palavras e atos é como um ponto no tecido da nossa futura realidade. Latentes em nossa experiência presente estão oceanos de carma vindos de incontáveis vidas passadas, carma este que, nas condições apropriadas, frutificará. Para encontrarmos liberação do samsara, isto é, do ciclo de renascimentos, precisamos trabalhar no nível das causas, não no nível dos resultados: o prazer e a dor que aparecem como conseqüência do nosso comportamento. Para fazer isso, precisamos purificar nossos erros passados e modificar a mente que planta as sementes do sofrimento, precisamos purificar os venenos mentais que perpetuam o carma infindável. Este processo é chamado "fechar a porta da não-virtude", ou seja, evitar conseqüências cármicas com a tomada de medidas preventivas, não mais dar vazão às faltas da mente através das nossas ações. Falamos em carma positivo, negativo e neutro. Os atos que geram carma positivo levam à felicidade pessoal e felicidade para os outro. Carma negativo provoca sofrimento para nós mesmos e para os outros. Quando nossa intenção é beneficiar os outros, criamos pensamentos, palavras e ações virtuosas e carma positivo. Quando somos motivados pelos venenos da mente, criamos pensamentos, palavras e ações não-virtuosos e carma negativo. O carma neutro é gerado por ações inócuas, ações motivadas nem pelo desejo de ferir nem pela intenção de ajudar. Por não ter efeito positivo algum, é considerado não-virtuoso. Por essa razão o carma é muitas vezes discutido somente em termos de positivo ou negativo. Precisamos adquirir certeza absoluta da infalibilidade do processo cármico que atua constantemente em nossa vida, pois o nosso sofrimento sem fim, nossas experiências de estados de nascimentos superiores e inferiores têm suas raízes no desenrolar inexorável do carma positivo e negativo. É crucial entendermos o que é virtuoso e o que é não-virtuoso. Caso contrário, mesmo enquanto praticantes que tentam servir e trazer benefícios, podemos, de fato, criar mais mal do que bem. O defeito sutil que é o orgulho pode aparecer, "Sou uma pessoa tão espiritualizada", ou "Minha tradição é a melhor", ou "Aquelas pobres pessoas que não têm um caminho espiritual!" Quando fazemos esses julgamentos, apenas criamos carma negativo. Se deixarmos de usar nosso corpo e mente de modo cuidadoso, disciplinado, nossos defeitos podem piorar. Nossa mente está repleta de venenos. A generosidade, por mais insignificante que pareça cria grande virtude. Manter disciplina no relacionamento sexual, dizer a verdade, usar a fala para criar harmonia, para ajudar a mente de uma outra pessoa e para criar benefícios temporários e definitivos, para si próprio e para os outros, essas também são virtudes, assim como o são regozijar-se com a felicidade dos outros, aprender visão correta e gerar pensamentos que mostram bondade e intenção de ajudar. O fruto cármico de uma ação não-virtuosa é parecido quer você próprio pratique a ação, quer você peça que alguém a pratique, quer você se regozije quando uma outra pessoa a realiza. Sempre que manifestamos amor, compaixão, bondade de coração e a intenção pura de trazer ajuda, essas qualidades, como um solvente, naturalmente purificam e dissolvem o carma negativo. O carma negativo pode também ser purificado por meio do arrependimento sincero de todas as nossas ações negativas, nesta vida e em todas as vidas passadas, arrependimento não apenas em relação a incidentes específicos dos quais nos lembramos, mas em relação a todo o rol de atos nocivos que cometemos desde o tempo sem princípio. O arrependimento precisa ser sincero, como se de repente percebêssemos que, por engano, tínhamos engolido um veneno mortal. Sentimos angústia por termos agido, durante incontáveis vidas, por formas que apenas resultarão em sofrimento. Arrependemo-nos por ser negligentes, ignorantes quanto às conseqüências morais do que fizemos. Reconhecemos essas ações como danosas e aceitamos responsabilidade por elas. Outro recurso de purificação é firme decisão de não cometermos quaisquer ações negativas no futuro. Não podemos passar o dia nos entregando a pensamentos e ações negativos e, então à noite, esperar purificá-los com um pouco de prática de meditação. Em lugar disso, precisamos assumir o compromisso sincero de nunca repeti-los. Portões da Prática Budista - Chagdud Tulku Rinpoche - Editora Paramita
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