![]() Nº 15 - Junho de 1998 - ano II
Fundamentos do Misticismo Tibetano - Lama Anagarika Govinda
ou AQUILO QUE VOCÊ DIZ A UMA PESSOA, ELA PODE GUARDAR PARA SEMPRE Uma tabuleta no armazém de Jimtown, perto de onde moro, diz: Que sejam bem poucas e doces, Pois nunca se sabe qual delas Um dia você mesmo terá de engolir. Penso muito no fato do Buda ter criado um categoria à parte para a Palavra Correta. Ele poderia ter incluindo-a na Ação Correta, pois falar é uma forma de ação. Durante algum tempo, pensei que a fala ocupava uma categoria separada porque falamos muito. Mas depois mudei o meu ponto de vista - algumas pessoas não falam muito. Agora, acho que ela ocupa uma categoria separada por causa do poder que a palavra tem. Li uma frase em uma revista, alguns anos atrás. Tratava-se de um tapa-buracos acrescentado ao final da coluna porque o artigo não era suficientemente grande. Não me lembro do nome da revista nem do tema do artigo, mas lembro-me da frase. Ela dizia: "Paus e pedras talvez quebrem os meus ossos, mas as palavras podem me ferir para sempre." Às vezes, durante uma aula, eu digo: "Levantem a mão os que já sofreram algum tipo de fratura óssea." Depois que as pessoas levantam as mãos, eu digo: "Não abaixem a mão se o osso ainda estiver doendo." Em geral, todas as mãos são abaixadas. Depois eu digo: "Levantem as mãos se ainda estiverem se sentindo magoados por causa de algo que lhes disseram no ano passado." Muitas mãos são levantadas. "Mantenham as mãos erguidas se ainda estiverem magoados por causa de uma observação que alguém lhes fez nos últimos cinco anos." As mãos continuam levantadas. "Nos últimos dez anos ... vinte anos ... trinta anos ... uma observação que tenha sido feita quando vocês tinham menos de cinco anos de idade." Muitas pessoas ainda conservam uma das mãos erguida. Elas olham em torno e sorriem timidamente, mas não creio que alguém estivesse achando a coisa engraçada. Este é um belo momento de comiseração compartilhada, de sermos testemunha de que todos nascemos para carregar a carga representada pela dor das observações ofensivas. Talvez pensemos que, se fôssemos adultos maduros, teríamos superado as reprimendas sofridas na infância. Pergunto-me se algum dia chegaremos a conseguir isso. Acho que somos todos muito vulneráveis, como bombas recheadas de creme - firmes por fora mas frágeis por dentro, e muito doces. Na década de 60, quando o espírito da época era não guardar nada consigo, pensei várias vezes em escrever um livro intitulado Guardando Tudo para Si. Acho que estava alarmada com a possibilidade de que as pessoas tivessem deixado de perceber o quanto todos nós somos vulneráveis. Recentemente mudei o título de meu livro para Guardando Tudo para nós até Descobrirmos como Falar sobre Isso de uma Forma Proveitosa. Creio que somos obrigados a dizer a verdade. Dizer a verdade é uma maneira de cuidar das pessoas. O Buda pregou a honestidade completa, além de alertar para o fato de que tudo o que a pessoa diz deve ser verdadeiro e proveitoso. Quando o Buda ensinou a Palavra Correta, ele nos proporcionou um guia para fazer correções. Advertências e conselhos devem ser oportunos, sinceros, amáveis e proveitosos. Quando falo às pessoas sobre esses critérios, elas freqüentemente exclamam: "Mas desse jeito nunca seria possível advertir alguém!" Penso de outra forma. Acho que com a Palavra Correta, as pessoas podem fazer sugestões ou observações de modo que a outra pessoa possa ouvi-la e usá-la sem sentir-se diminuída. É Mais Fácil do que Você Pensa (A Fórmula Budista para a Felicidade) - Sylvia Boorstein - Editora Cultrix.
É muito importante que, os sistemas educacionais como as escolas, os meios de comunicação, educadores, pais, terapeutas, empresários e qualquer cidadão preocupado com a crise que atravessamos, estejam mobilizados num grande compromisso de mudança de mentalidade, daí ser preciso:
Adaptação do artigo Terapias Ecológicas de Laura Roizman publicado na revista Thot nº 68 - 1998.
O primeiro passo ao lidar com os sentimentos é reconhecer cada sentimento no instante em que surge. O meio para isso é a plena consciência. No caso do medo, por exemplo, você recorre à plena consciência, olha para o medo e o reconhece como medo. Você sabe que o medo brotou de você mesmo e que a plena consciência também brotou de você. Os dois estão em você, não em luta, mas um cuidando do outro. O segundo passo consiste em se tornar uno com o sentimento. Melhor não dizer, "Vá embora, Medo. Não gosto de você. Você não é eu." Muito mais eficaz é dizer, "Oi, Medo. Como é que você está hoje?" Em seguida, você pode estimular esses seus dois aspectos, a plena consciência e o medo, a se cumprimentarem como amigos e a se unirem. Isso pode parecer assustador, mas, como você já sabe você é mais do que seu medo, não é preciso se amedrontar. Desde que sua mente esteja alerta, ela fará companhia ao seu medo. A prática fundamental é nutrir a plena consciência com a respiração consciente, para mantê-la alerta, cheia de vida e força. Embora no início sua plena consciência possa não ser muito potente, se você a alimentar, ela se tornará mais forte. Contanto que a sua consciência esteja plena e presente, você não será submerso pelo medo. Na realidade, você começará a transformá-lo no exato instante em que dentro de si der à luz a percepção. O terceiro passo é o de acalmar o sentimento. Como a consciência plena esta cuidando bem do seu medo, ele começa a acalmar-se. "Inspirando, acalmo as atividades do corpo e da mente." Você acalma seu sentimento só por estar com ele, como uma mãe segurando ternamente o filhinho que chora. Ao sentir a ternura da mãe, o neném se acalma e pára de chorar. A mãe é sua mente alerta, nascida das profundezas da sua consciência, e ela tratará do sentimento da dor. A mãe que segura o bebê forma uma unidade com ele. Se a mãe estiver pensando em outras coisas, a criancinha não se acalmará. A mãe tem de abandonar as outras coisas e apenas segurar seu filhinho. Por isso, não evite seu sentimento. Não diga, "Você não é importante. Você é só um sentimento." Passe a formar uma unidade com ele. Você pode dizer, "Expirando, acalmo meu medo". O quarto passo é largar o sentimento, soltá-lo. Graças à sua calma, você está à vontade, mesmo em meio ao medo; e sabe que esse medo não vai crescer e se transformar em algo esmagador. Quando você se descobre capaz de tomar conta do seu medo, ele já está reduzido a um mínimo, tornando-se mais brando e menos desagradável. Agora você pode sorrir para ele e deixá-lo partir, mas por favor não pare por aqui. Acalmar e largar um sentimento são apenas curas para os sintomas. Você agora tem a oportunidade de se aprofundar e trabalhar na transformação da raiz do seu medo. O quinto passo é olhar profundamente. Você examina em profundidade o seu bebê - seu sentimento de medo - para ver o que está errado, mesmo depois que o bebê parou de chorar, mesmo depois que o medo se foi. É impossível segurar uma criança no colo o tempo todo. Por isso, você deve examiná-la para ver a causa do que está errado. Com esse exame, você verá o que o ajudará a começar a transformar o sentimento. Por exemplo, que seu sofrimento tem muitas causas, internas e externas ao seu corpo. Se há algo de errado em volta dele, se você conserta a situação, com carinho e cuidado, ele se sentirá melhor. Ao examinar seu bebê, você verá os elementos que o estão fazendo chorar. Ao vê-los, você saberá o que fazer e o que não fazer para transformar o sentimento e se sentir livre. Este processo é semelhante ao da psicoterapia. Em companhia do paciente, o terapeuta observa a natureza da dor. Muitas vezes, o terapeuta pode revelar causas de sofrimento que se originam da forma pela qual o paciente encara a vida, das opiniões que ele tem sobre si mesmo, sobre a sua cultura e o mundo em geral. O terapeuta examina esses pontos de vista e essas opiniões com o paciente, e juntos eles colaboram para libertá-lo daquele tipo de prisão em que estava. No entanto, o esforço do paciente é crucial. O professor deve trazer à luz o professor que existe dentro do aluno; e o psicoterapeuta deve trazer à luz o psicoterapeuta que está no íntimo do seu paciente. O "psicoterapeuta interno" do paciente poderá então trabalhar em tempo integral de uma forma muito eficaz. O terapeuta não trata do paciente simplesmente lhe repassando um outro conjunto de opiniões. Ele tenta ajudar o paciente a perceber que tipos de idéias e de crenças levaram ao seu sofrimento. Muitos pacientes querem se ver livres dos sentimentos dolorosos, mas não querem se livrar das opiniões, dos pontos de vista que são as verdadeiras raízes dos seus sentimentos. Portanto, o terapeuta e o paciente têm que trabalhar juntos para ajudar o paciente a ver as coisas como elas são. O mesmo vale para quando recorremos à plena consciência para transformar nossos sentimentos. Depois de reconhecermos o sentimento, de nos tornarmos unos com ele, de o acalmarmos e de o largarmos, podemos examinar suas causas em profundidade. Elas muitas vezes se baseiam em percepções incorretas. Assim que compreendemos as causas e a natureza dos nossos sentimentos, eles começam a se transformar. PAZ A CADA PASSO - Thich Nhat Hanh - Editora Rocco
Enquanto não formos capazes de compreender de fato as nossas mentes, permaneceremos estranhos a nós mesmos, sem ter consciência do nosso verdadeiro potencial. Podemos passar muitos anos tentando aprender a natureza da mente mas, na realidade, o que quer que experimentemos é a mente. Isso não quer dizer que objetos externos sejam a nossa mente, senão que as próprias projeções de experiência que fazemos são uma parte da mente. São muitos os modos de explicar a mente, porque vários indivíduos a vivenciam de maneira diferente, e há um sem-número de tipos, graus e níveis mentais que devem ser levados em conta. A mente é muito versátil, como o artista - cria confusão, ilusão e sofrimento, assim como grande ordem e beleza inigualável. Projeta todas as formas e sustenta todos os nossos dramas íntimos; pode manifestar a verdade absoluta, bem como todos os nossos pensamentos e emoções. A mente não é uma coisa, nem muitas coisas, nem coisa alguma em si mesma. Podemos usar várias palavras para descrever o campo de atividade da mente e discutir-lhe o funcionamento aparente; às vezes podemos rotular a mente de "consciência", às vezes, de "percepção" mas, quanto mais investigamos e observamos, tanto mais complexa ela se nos afigura. A maior parte das interpretações da mente é limitada porque elas relacionam a mente com algum outro conceito - a mente é assim, a consciência é assado. Ao lidar com a mente, o nosso ego classifica a nossa experiência temporal em formas, estruturas e perfis específicos, que se convertem em padrões rigorosos que governam a nossa existência, como a constituição governa o país. Eles, contudo, se sobrepõem à mente; não são a mente propriamente dita. Muitas vezes, ao tentar descobrir a natureza da mente, incorremos no erro de sair à cata de significados. Cuidamos que, se compreendermos o sentido de certos conceitos, palavras ou experiências, teremos conquistado uma posição segura no verdadeiro conhecimento. Mas os significados dependem de outros conceitos, e eles mesmos não têm uma base substancial. A busca do significado pode constituir-se assim num ciclo que se perpetua a si próprio; ficamos parecidos com o gato empenhado em caçar o próprio rabo ou com o corredor que começa hiperventilando-se e depois não consegue mais controlar a respiração. Porque existem poucos dados específicos sobre o funcionamento interior da mente, é difícil descobrir conhecimentos muito precisos a seu respeito. Podemos encarar a mente no seu sentido físico como relacionada apenas com o cérebro e com uma série de padrões neurológicos. Ou, intelectualmente, podemos estar interessados no modo com que funciona a percepção através dos sentidos físicos ou no modo com que formulamos conceitos ou tomamos decisões. Quando investigamos a mente do ponto de vista da meditação, vemos que ela é muito mais do que o cérebro ou do que um filtro de impressões; muito mais do que uma simples coleção de conceitos. Através da meditação podemos ir, além dos significados e categorias, à experiência direta dos níveis interiores da mente. Podemos vivenciar a mente como viva, sensível e brilhante... como um sol radioso. A consciência, ou a simples atenção, lida com sensações, percepções, imagens e emoções, mas estas são apenas fragmentos que, acrescentados uns aos outros, não compõem toda a mente. Ela é muito mais vasta do que todas essas coisas reunidas. A psicologia budista pressupõe mais de cinqüenta eventos mentais específicos e, pelo menos, oito estados diferentes de consciência; mas estes, mesmo assim, representam apenas o nível superficial da mente. Podemos ir além da consciência a fim de descobrir os níveis não-conceptuais da mente; podemos examinar todas as camadas, como se estivéssemos removendo as pétalas de uma rosa. Podemos examinar a mente além do nível substancial, até além do nível da existência ou da não-existência - porque ela é inimaginavelmente vasta. Quando a investigamos de um modo mais profundo, descobrimos que a mente em si não tem substância. Não tem cor, não tem forma, não tem formato, não tem características, não tem posição; não tem princípio e tampouco tem fim. Não está dentro e não está fora e, nessas circunstâncias não pode ser descrita com precisão como sendo isto ou aquilo. Ela não se mistura com outras coisas e, no entanto, não está separada delas. Não pode ser inventada, nem destruída, nem rejeitada, ou aceita. Ela está além do raciocínio e dos processos lógicos, além do tempo comum e de toda a existência. Quando praticamos a meditação, começamos a reconhecer a tremenda atividade que se processa na mente. Podemos começar a trabalhar com pensamentos e problemas particulares e, quando passamos pelo processo de confrontá-los, aceitá-los suprimi-los ou modificá-los, podemos lograr uma compreensão da mente e do jeito como ela trabalha. Um dos principais obstáculos para descobrir e apreciar a profundidade e a qualidade da mente é o fato de q termos como certa e não a respeitarmos na forma devida. Esse respeito não precisa ser de um tipo egoísta, mas é muito importante compreender o quanto a nossa mente é valiosa e preciosa. Em geral, toda vez que nos ocorrem experiências positivas, louvamos o ego em lugar de louvar a mente, pois consideramos o ego como se este fosse o agente do intelecto. Em compensação, quando ocorrem problemas ou dificuldades, culpamos a mente; damos nomes às nossas várias neuroses, e aceitamo-las como se fossem reais e como se fizessem parte da mente, embora esta, em si, seja inocente. Essa rejeição da mente como algo que nos é estranho e até como algo nocivo para nós não constitui uma atitude saudável. Demonstramos freqüentemente grande preocupação com o que concerne ao nosso corpo, embelezando-nos e criando auto-imagens impressionantes, mas é muito raro apreciarmos da mesma forma o espectro, a esfera e a totalidade da nossa mente. A mente é a fonte de todos os conhecimentos e de toda a inspiração. Quando nos tornamos iluminados é a mente que se ilumina; e quando estamos tristes é a mente que se entristece. À medida que começamos a apreciar e respeitar as nossas mentes, verificamos que ela pode transformar nossa experiência cotidiana. Nossos problemas nos parecem menos reais - pois descobrimos que todos eles, na realidade, se criam a si mesmos. Quanto mais investigamos as nossas mentes, tanto mais passamos além dos problemas, além das palavras e dos conceitos... até descobrir a verdade e a compreensão. Não precisamos seguir às cegas a opinião de ninguém, mas podemos explorar a nossa mente de maneira cada vez mais profunda, até descobrir-lhe a natureza - que é iluminadora, radiante, viva. GESTOS DE EQUILÍBRIO - Tarthang Tulku - Editora Pensamento
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