![]() Nº 11 - Fevereiro de 1998 - ano II
Ao aprofundar nossa compreensão da existência, abrimos a porta que leva à compaixão. O desenvolvimento de uma consciência da dor e da ignorância que nós, bem como os outros, vivemos, estimula simpatia e, depois empatia. Esse
crescente interesse pelos outros inspira um sentimento de amor - um amor que perde suas ligações com os nossos conceitos e sentidos, um amor que é sem sujeito nem objeto.
A compaixão é a capacidade de sentir plenamente a situação de uma outra pessoa. Relacionamentos familiares próximos ajudam a desenvolver essa capacidade, mas hoje em dia, o senso de união da família não é forte. Sem o apoio da família tendemos a nos retrair para dentro de nós mesmos. Já que achamos tão difícil nos relacionar com os outros, mesmo com nossos amigos, dedicamos nossos esforços para proteger a nós e aos nossos bens materiais. Nosso interesse raramente vai além de nós mesmos, além das nossas necessidades e desejos pessoais. O cuidado para com os outros e a sensibilidade em responder a eles, ambos fundamentais à compaixão, têm pouca chance de se desenvolver. Um modo de aprender compaixão é cultivar o desejo de ajudar os outros. Este simples gesto abre, automaticamente, o coração. Nós alargamos nossas perspectivas e aumentamos nossa sensibilidade às necessidades dos outros, e isso, então, nos leva a desenvolver a capacidade de, efetivamente, servir de ajuda. Por fim, podemos aprender a amar sem qualquer motivo ulterior ou qualquer sentido de ego. Esse sentimento de amor altruísta estimula uma abertura que permite à compaixão surgir naturalmente. Podemos, então, agir com habilidade e compaixão em todas as circunstâncias. Como aprendemos a pôr de lado o fato de sermos centrados em nós mesmos? Quanto mais aberto você se deixar ser, mais você será capaz de se comunicar com seus amigos, com sua família, com qualquer pessoa. Abertura, num sentido último, significa compaixão. Em vez de reprimir ou tentar evitar seus sentimentos, abra tanto quanto puder seu coração, seus sentimentos toda a sua personalidade. Abra-se para seus níveis mais fundos de sentimentos. Você pode fazer isto por meio do relaxamento, que é a chave da meditação. Fique muito quieto, respire muito delicada e suavemente, e mantenha sua mente na presença da atenção pura. Uma vez que o relaxamento tenha se estabelecido deste modo, você irá curar seus sentimentos interiores. Então, um calor interior virá. Com este calor e este relaxamento interiores, você sentirá mais abertura e, com essa abertura, mais comunicação. Visto que o calor interior se transmuta em sabedoria, você será capaz de ver as situações das outras pessoas mais claramente, e, com essa clareza, poderá também aprender mais sobre você mesmo. Você poderá abrir-se para sua natureza interior. Quando seu coração se abre verdadeiramente, você pode se comunicar com todos os seres, com toda a existência. Pode ver a natureza do samsara. A abertura é a chave da compaixão, de modo que, quando você conseguir desenvolver uma abertura maior, o ego e a tendência a agarrar as coisas para si perdem sua força. Quando estiver assim menos autocentrado, poderá ver que cada indivíduo tem que passar por este ciclo do samsara. Você aprende a ter mais aceitação, e a compaixão cresce em profundidade e se torna mais abrangente. A compaixão autêntica está além dos pensamentos, além do "ego", livre de qualquer crença de que há um "eu" presente no ato da compaixão. A verdadeira compaixão, portanto, gera um sentido profundo de aceitação, e mesmo de perdão, com relação àqueles que nos causaram dor ou infelicidade. Quando somos sensíveis às fraquezas e egoísmos dos outros, percebemos que o mal que fazem é feito simplesmente por ignorância. Pergunta: Como posso desenvolver um coração mais compassivo?
P: Parece importante ajudar o próximo por compaixão. No entanto, muitas vezes não sei o que fazer; sinto-me ignorante e impotente na maioria das situações. P: Às vezes, parece muito egoísta dizer: "Não posso fazer nada". P: Sabedoria e meditação soam muito semelhantes para mim. Qual é exatamente a
ligação entre elas? A Expansão da Mente - Tarthang Tulku - Edit. Cultrix
![]() DO "EU" EGOÍSTA A AUSÊNCIA DO "EGO"
O QUE É "ZEN"?
Gostaria de começar dizendo que ZEN não é o mesmo que conhecimento, apesar do conhecimento não estar completamente desvinculado do ZEN. O ZEN não é exatamente religião, ainda que as realizações da religião possam ser alcançadas através do ZEN. O ZEN não é filosofia, ainda que a filosofia, em nenhum sentido, possa exceder o âmbito do ZEN. O ZEN não é ciência, ainda que o espírito de ênfase da realidade e da experiência seja também necessário ao ZEN. Portanto, rogo que não tentem explorar a essência do ZEN motivados apenas por mera curiosidade, visto que o ZEN não é algo novo trazido para cá pelos Orientais; o ZEN está presente em todo lugar, no espaço ilimitado e no tempo infinito. Contudo, antes do Budismo Oriental ser divulgado no mundo Ocidental, as pessoas do Ocidente ignoravam a existência do ZEN. O ZEN ensinado pelos Orientais no Ocidente, não é, de fato, o verdadeiro ZEN. É somente o método para compreendê-lo. O ZEN foi, inicialmente, descoberto por um príncipe de nome Siddharta Gautama (chamado de Sakyamuni após sua Iluminação) que nasceu na Índia há 2500 anos. Após ter alcançado a Iluminação e ser chamado Buddha, ensinou-nos o método para conhecer o ZEN. Este método foi transmitido da Índia para a China e, posteriormente, para o Japão. Na Índia o método era chamado "DHYANA", cuja pronúncia em chinês é "CH'AN" e em japonês é "ZEN". Na verdade são todos idênticos. O ZEN tem existência eterna e universal. Não há necessidade de qualquer professor para transmiti-lo; o que é ensinado por professores é somente o método pelo qual um indivíduo pode pela própria experiência conhecer o ZEN. Equivocadamente, algumas pessoas entendem o ZEN como tipo de experiência misteriosa; outras pensam ser possível adquirir poderes sobrenaturais através da experiência ZEN. Naturalmente, o método para a prática da Meditação ZEN pode causar vários tipos de fenômenos estranhos no que concerne à sensação mental e física; e também, através da prática da unificação do corpo e da mente, o indivíduo pode ficar capacitado a alcançar o poder mental para controlar ou alterar fatores externos. Porém, tais fenômenos, vistos como mistérios da religião, não são o objetivo da prática do ZEN, porque podem somente satisfazer a curiosidade ou a megalomania do indivíduo e não solucionar os problemas existentes nas vidas das pessoas. O ZEN inicia a partir da raiz do problema. Ele não começa com a idéia de conquistar os ambientes social e material externos, mas sim de alcançar total conhecimento do "EGO" do indivíduo. A partir do momento em que você sabe o que é o seu "EGO", e este "EGO" que você agora considera como sendo você mesmo irá, simultaneamente, desaparecer. Chamamos a este novo conhecimento da noção do "EGO", de "Iluminação" ou de "compreensão de sua própria natureza básica". Este é o início para ajudá-lo a resolver completamente os verdadeiros problemas. Finalmente, você descobrirá que você, indivíduo, aliado à totalidade da existência, é único e indivisível. Devido a você próprio ter imperfeições sente, consequentemente, que o ambiente é imperfeito. É como um espelho com superfície irregular - as imagens nele refletidas são também distorcidas. Ou, como a superfície da água agitada por ondulações - a imagem da lua nela refletida ée; irregular e instável. Se a superfície do espelho é clara e polida, ou se o ar sobre a superfície da água está quieto e as ondas calmas, então, o reflexo no espelho e a imagem da lua sobre a água serão claros e precisos. Por essa razão, sob a ótica ZEN, a principal causa da dor e do infortúnio da humanidade não é o ambiente traiçoeiro do mundo no qual vivemos, nem a terrível sociedade da espécie humana, mas o fato de nunca termos sido capazes de reconhecer nossa natureza básica. Assim, o método ZEN não nos conduz a fugir da realidade nem a fechar nossos olhos como faz o avestruz australiano quando da chegada dos inimigos e nem a enterrar nossa cabeça na areia julgando que todos os problemas serão resolvidos. O ZEN não é um idealismo auto-hipnotizante. Através da prática do ZEN, o indivíduo pode eliminar o "EGO", e não somente o "EU" egoísta e mesquinho, mas também o "EU" generoso, que em filosofia é chamado de Verdadeiro ou Essência. Só então existe liberdade absoluta. Assim, um perfeito praticante do ZEN jamais sente que qualquer responsabilidade é um fardo, nem sente as pressões que as condições de vida exercem sobre as pessoas. Ele sente somente que está incessantemente trazendo a vitalidade da vida com força total. Esta é a expressão da liberdade absoluta. Portanto, a vida ZEN, é inevitavelmente normal e positiva, feliz e generosa. A razão para isso é que a prática do ZEN irá continuamente suprir você com os meios para escavar sua preciosa mina de Sabedoria. Quanto mais profunda for esta escavação, maior será a Sabedoria alcançada, até que, eventualmente, você obtenha toda a Sabedoria o universo. Neste momento, não haverá uma única coisa em todo tempo e espaço que não esteja contida dentro do âmbito de sua sabedoria. Neste estágio a sabedoria torna-se absoluta e, uma vez que é absoluta, o termo "sabedoria" não terá mais propósito. Pode ter certeza de que aquele estágio em que o "EGO" o motivava a perseguir coisas tais como fama, riqueza e poder, ou a fugir do sofrimento e do perigo, desapareceu completamente. Além disso, mesmo a sabedoria que eliminou seu "EGO" torna-se um conceito desnecessário para você. Evidentemente do ponto de vista de uma súbita Iluminação, é muito fácil para um praticante ZEN alcançar este estágio; contudo, antes de alcançar a passagem para a súbita Iluminação, o indivíduo deve despender um grande esforço nesta jornada. Caso contrário, os métodos ZEN seriam inúteis. Ven. Dr. Sheng-Yen
![]() Se com a renúncia d'uma pequena felicidade puder se
|
01 | 02 | 03 | 04 | 05 | 06 | 07 | 08 | 09 | 10 | 11 | 12 | 13 | 14 | 15 | 16 | 17 |
18 | 19 | 20 | 21 | 22 | 23 | 24 | 25 | 26 | 27 | 28 | 29 | 30 | 31 | 32 | 33 | 34 |