![]() Nº 10 - Dezembro de 1997 - Ano 2 ![]() "Não fazer o mal, praticar o bem Purificar a mente Este é o ensinamento do Buda" Dhammapada v.183 "Aquele que tem ido ao Buda, ao Darma e à Ordem como refúgio,
"Este, na verdade, é um seguro refúgio, este é o melhor refúgio;
A SEMENTE DE MOSTARDA Certa vez, quando o Buda discursava, uma mulher de nome Kisa Gotami correu para ele em grande desespero. Em seus braços carregava uma criança. A mulher prostrou-se aos pés do Buda: "Senhor eu vos imploro, dê-me um remédio para meu filho". Contudo estava visível que a criança já estava morta. Kisa Gotami havia ficado louca de dor e desvairada carregava o cadáver da criança para onde ia. O Buda ficou em silêncio por algum tempo. Em seguida ele disse: "se você quer a cura da criança traga-me uma semente de mostarda da cidade, mas tem uma condição: A semente de mostarda deve ser encontrada em uma casa na qual ninguém tenha morrido." Kisa Gotami correu para a primeira casa e perguntou:
Na próxima casa ela perguntou: Em todos os lugares a resposta era sempre a mesma. Os vivos eram poucos mas os mortos eram muitos. Então Kisa Gotami sentou-se descansada e sua mente foi se tornando calma. Ela pensou consigo mesma: "Será sempre a mesma resposta em toda casa. O Buda sabia que seria assim". E ela saiu da aldeia e foi para o cemitério. Ela enterrou a criança e pronunciou as seguintes palavras: E então Kisa Gotami procurou o lugar onde o Buda estava meditando; prestou-lhe homenagem e disse: ![]() PLENA ATENÇÃO À RESPIRAÇÃO E METTA BHAVANA A Plena Atenção à Respiração é o ponto de partida para o desenvolvimento de plena atenção e consciência em todas as atividades da vida. Observar a respiração é apenas o início. Devemos tentar ampliar essa plena atenção até estarmos conscientes de todos os movimentos do nosso corpo e de exatamente tudo que estamos fazendo. Temos que estar conscientes do mundo que nos rodeia e das outras pessoas. Conscientes, em última análise, da própria Realidade. O desenvolvimento da plena atenção é importante também porque é a chave para a integração psíquica. Quando chegamos meio hesitantes para a nossa primeira aula de meditação, não temos uma individualidade verdadeira. Normalmente somos apenas um punhado de desejos conflitantes, até mesmo vários eus conflitantes, agregados frouxamente em torno de um nome e um endereço. Esses desejos e eus podem ser tanto conscientes como inconscientes. E, mesmo limitada, a consciência que cultivamos ao praticar a Plena Atenção à Respiração nos ajuda a unir melhor esse punhado de coisas conflitantes que somos; a torná-lo um conjunto um pouco mais reconhecível e identificável. Se formos adiante, a prática da plena atenção nos ajuda a criar uma verdadeira unidade e harmonia entre esses diferentes aspectos de nós mesmos. Em outra palavras, é através da plena atenção que começamos a criar uma verdadeira individualidade. A individualidade é essencialmente integrada. E não há progresso possível a não ser que nos tornemos integrados, a não ser que sejamos verdadeiros indivíduos. Porque sem integração não pode haver compromisso. Somente uma pessoa integrada, um verdadeiro indivíduo, pode se comprometer com um objetivo, porque todas as suas energias estão fluindo na mesma direção; uma energia, um interesse, ou um desejo não estão em conflito com outra energia, outro interesse, outro desejo. Portanto, plena atenção e consciência, nos mais variados níveis, têm uma importância crucial - são a chave de tudo. Porém há nesse ponto um grande perigo: o de, no decorrer da prática da plena atenção, nós desenvolvermos o que eu chamo de "consciência alienada", que não é a verdadeira consciência. Essa consciência alienada surge quando estamos conscientes de nós mesmos sem, no entanto, nos experienciarmos de verdade. Daí porque, junto com a prática da plena atenção e conscientização, é muito importante entrarmos em contato com nossas emoções, sejam quais forem elas. O ideal é entrarmos em contato com emoções positivas - se tivermos ou pudermos desenvolver alguma. Mas pode ser que tenhamos que entrar em contato com emoções negativas. É melhor estabelecermos um contato vivo, real com nossas emoções negativas (o que significa reconhecê-las e vivenciá-las, e não deixar-se levar por elas) do que ficarmos num estado alienado, sem vivenciarmos verdadeiramente emoção alguma. É aqui que entram a Metta Bhavana e práticas similares baseadas em Metta. Metta, bondade amorosa, amizade (num sentido profundo e positivo), é a emoção positiva fundamental. Com o passar dos anos, vejo cada vez mais claramente a importância de emoções positivas na nossa vida - seja vida espiritual ou mundana. Elas são cruciais para o nosso desenvolvimento como indivíduos. São elas que nos levam adiante, não as Idéias abstratas. São as emoções positivas que nos mantêm no caminho espiritual, dando-nos inspiração e entusiasmo, até que tenhamos desenvolvido a Visão Perfeita e possamos ser motivados por ela. Portanto, a Metta Bhavana, como prática para o desenvolvimento da emoção positiva fundamental que é a metta, é nos absolutamente imprescindível. Adaptado de "A system of Meditation", in Sangharakshita, A Guide to the Buddhist Path
por Francisco Guedes - FWBO ![]() IMPERMANÊNCIA O ensinamento básico do budismo é a impermanência ou a mudança. Para cada existência, a verdade básica é que tudo muda. Ninguém pode negar essa verdade e todo o ensinamento do budismo está condensado nela. Este ensinamento é para todos. Seja onde for, este ensinamento é verdadeiro. Ele é entendido como o ensinamento da inexistência de uma entidade individual. Por estar cada existência em constante mudança, não existe um eu individual. De fato, a natureza essencial de cada experiência nada é senão a própria mudança. Ela é a própria natureza de toda existência. Não existe uma natureza especial ou entidade individual permanente para cada existência. Este também é chamado o ensinamento do nirvana. Quando percebemos a perene verdade de que "tudo muda" e encontramos serenidade nisso, descobrimo-nos no nirvana. Sem aceitar o fato de que tudo muda, não podemos encontrar perfeita tranqüilidade. Mas, infelizmente, embora seja verdade, temos dificuldade em aceitá-lo. Por não conseguirmos aceitar a verdade da impermanência é que sofremos. Em conseqüência, a causa do sofrimento é a não aceitação dessa verdade. O ensinamento da causa do sofrimento e o ensinamento de que tudo muda são, pois, dois lados da mesma moeda. Em termos subjetivos, este ensinamento é simplesmente a verdade básica de que tudo muda. O mestre Dogen disse: "Ensinamento que não parece forçar alguma coisa em você, não é verdadeiro ensinamento". O ensinamento em si próprio é verdadeiro e em si mesmo nada força em nós; é por causa de nossa tendência humana que recebemos o ensinamento como se alguma coisa nos estivesse sendo imposta. Mas, quer nos sintamos bem ou mal a respeito disso, essa verdade existe. Se nada existisse, essa verdade não existiria. O budismo existe por causa de cada existência particular. Devemos encontrar a perfeita existência através da existência imperfeita. Devemos encontrar a perfeição na imperfeição. Para nós, a completa perfeição não é diferente da imperfeição. O eterno existe por causa da existência não-eterna. No budismo, esperar algo fora deste mundo é um ponto de vista herético. Não buscamos nada fora de nós mesmos. Devemos encontrar a verdade neste mundo, através de nossas dificuldades, de nosso sofrimento. Este é o ensinamento básico do budismo. O prazer não é diferente da dificuldade. Bom não é diferente de mau. Bom é mau; mau é bom. São dois lados da mesma moeda. Portanto, a iluminação deve estar na prática. Este é o entendimento correto na prática, o entendimento correto da nossa vida. Assim, encontrar prazer no sofrimento é a única maneira de aceitar a verdade da impermanência. Sem compreender como aceitar essa verdade, você não pode viver neste mundo. Mesmo que tente escapar dele, seu esforço será em vão. Se você pensa que existe alguma outra maneira de aceitar a eterna verdade de que tudo muda, é ilusão sua. É o ensinamento básico de como viver neste mundo. Qualquer que seja seu sentimento acerca disso você tem de aceitá-lo. Você tem de realizar este tipo de esforço. Assim, enquanto não nos tornamos fortes o bastante para aceitar a dificuldade como prazer, temos de continuar no esforço. Na verdade, quando você se torna suficientemente honesto e franco, não é difícil aceitar essa verdade. Você pode mudar um pouco sua maneira de pensar. Sabemos que é difícil, mas a dificuldade não será sempre a mesma - algumas vezes será difícil, outras nem tanto, Se você está sofrendo, achará algum prazer no ensinamento de que tudo muda. Quando você tem problemas, é bem fácil aceitar este ensinamento. Então, por que não aceitá-lo em outras ocasiões? É a mesma coisa, Às vezes, você até pode rir de si mesmo ao descobrir quão egocêntrico é. Mas, independente de como se sinta a respeito deste ensinamento, é muito importante mudar sua maneira de pensar e aceitar a verdade da impermanência. Mente Zen, Mente de Principiante - Shunryu Suzuki - Editora Palas Athena
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