![]() Nº 8 - Maio de 1997 - Ano 2
Siddharta Gautama nasceu na cidade de Kapilavastu, reino dos Sakyas, no norte da Índia (atualmente Nepal) a cerca de 2 500 anos (século VI a.C.). Seu pai era o rei Sudhodama e sua mãe a rainha Maya que veio a falecer logo após seu nascimento. Seu nascimento se deu na LUA CHEIA do mês de maio (VESAK). Aos 16 anos, de acordo com os costumes da época, casou-se com Yasodhara. Os anos passavam-se alegre e descuidados, até que um dia Siddharta viu um doente, um velho, um cadáver e um asceta. Este encontro despertou no príncipe Siddharta uma profunda reflexão sobre a realidade da vida e o sofrimento dos homens. Tornou-se contemplativo, perdeu o interesse pela vida palaciana e, apesar do pedido do rei seu pai, abandonou o palácio deixando sua mulher e seu filho Rahula, tornando-se um buscador da Verdade. Tinha então 29 anos. Nos 6 anos seguintes, percorreu todo o país procurando mestres e ensinamentos, buscando o conhecimento das famosas filosofias de seu tempo, através das quais pudesse resolver os muitos problemas da vida. Estudou com grupos de ascetas, adotando uma vida severa e contemplativa; inutilmente, no entanto. Nenhuma daquelas escolas lhe oferecia uma resposta satisfatória. Certo dia, após banhar-se nas águas do rio Neranjara, perto de Gaya, sentou-se sob uma figueira (ficus indica), conhecida mais tarde como árvore BODHI, meditou, e ali finalmente alcançou a Iluminação. Assim surgiu o BUDA. Siddharta tinha então 35 anos. Até aquele momento, o príncipe Siddharta não era o Buda. O Buda não foi uma divindade, nem qualquer espécie de deus, nem profeta. Buda foi um homem que encontrou a verdade e viveu a verdade. "BUDA" é uma palavra sânscrita que significa "O ILUMINADO", "O DESPERTO", isto é, aquele que está liberto da Ignorância e pleno da Suprema Sabedoria. O Buda, após sua Iluminação, deu seu primeiro ensinamento no Parque das Gazelas, nos arredores da cidade de Benares, a um grupo de cinco ascetas, antigos companheiros seus. Neste primeiro ensinamento está contido a essência do Budismo que podemos sintetizar em dois princípios: AS QUATRO NOBRES VERDADES e O NOBRE CAMINHO ÓCTUPLO , que constituem o alicerce dos ensinamentos budistas. Os dois princípios se juntam na estrutura dos ensinamentos formando uma unidade indivisível O DHARMA .
O Nobre Caminho Óctuplo é também chamado O Caminho do Meio; ele proporciona visão interior e o conhecimento que leva a paz, a sabedoria, a iluminação, o Nibbana. O Nobre Caminho Óctuplo é formado pela:
Os ítens 7 e 8 do Caminho Óctuplo fazem parte da Meditação. A Meditação é a atividade que nos ajuda a compreender plenamente os ensinamentos do Buda, tornando-os parte integral de nosso ser em vez de mais um conjunto de novas idéias para distrair a mente.
Através da exposição do CAMINHO, fica evidente que este é um modo de vida que pode ser seguido, praticado e desenvolvido por cada indivíduo. É uma disciplina corporal, verbal e mental, assim como um autodesenvolvimento e autopurificação. Trata-se de um CAMINHO que conduz a apreensão da Realidade última, a obtenção da liberdade, da felicidade e da paz, mediante a perfeição moral, espiritual e intelectual. ![]() MEDITAÇÃO SOBRE A COMPAIXÃO O amor é um desejo de trazer paz, alegria e felicidade a uma outra pessoa. A compaixão é um desejo de eliminar o sofrimento que atinge o outro. Todos temos em nossas mentes as sementes do amor e da compaixão, e podemos ampliar essas belas e maravilhosas fontes de energia. Podemos fazer crescer o amor incondicional que nada espera em troca e que, portanto, não conduz à ansiedade e à mágoa. A essência do amor e da compaixão é a compreensão, a capacidade de reconhecer o sofrimento físico, material e psicológico de outros, de nos sentirmos "na pele" do outro. Mergulhamos em seu corpo, em seus sentimentos, em suas formações mentais e presenciamos seu sofrimento em nossos próprios olhos. A observação superficial, na qualidade de alguém "de fora", não basta para que vejamos seu sofrimento. Precisamos nos tornar como um objeto de nossa observação. Quando estivermos em contato com o sofrimento do outro, nascerá em nós um sentimento de compaixão. O significado literal do termo "compaixão" é "sofrer com o outro". Começamos por escolher como nosso objeto de meditação alguém que esteja passando por sofrimento físico ou material, alguém que seja fraco, um pobre, um oprimido ou desprotegido. Este tipo de sofrimento é fácil de se ver. Depois, podemos praticar o contato com formas mais sutis de sofrimento. Às vezes, a pessoa não parece estar sofrendo mas podemos perceber que ela tem mágoas que deixaram marcas ocultas. Gente com excesso de conforto material também sofre. Examinamos profundamente a pessoa que é o objeto da nossa meditação sobre a compaixão, durante a meditação sentada e também quando estivermos com ela. É preciso que nos proporcionemos tempo suficiente para entrarmos em contato profundo com seu sofrimento. Continuemos a observá-la até que a compaixão surja e impregne o nosso ser. Quando observamos em profundidade, o fruto da nossa meditação naturalmente se transformará em algum tipo de ação. Não diremos simplesmente, "Eu o amo muito", mas em vez disso, "Farei alguma coisa para diminuir seu sofrimento". A idéia da compaixão está presente de fato quando ela consegue eliminar o sofrimento do outro. Devemos descobrir formas para fortalecer nossa compaixão e para lhe dar expressão. Quando entramos em contato com o outro, nossos pensamentos e atos deveriam transmitir nosso desejo de compaixão, mesmo que o outro diga e faça algo que não seja fácil de se aceitar. Praticamos dessa maneira até percebermos com clareza que nosso amor não depende do outro ser amável ou não. Só assim podemos saber que nossa compaixão é firme e verdadeira. Nós mesmos ficaremos mais à vontade, e a pessoa que vem sendo objeto da nossa meditação acabará também se beneficiando. Seu sofrimento diminuirá lentamente, e sua vida aos poucos se tornará mais luminosa e mais alegre graças à nossa compaixão. Podemos também meditar sobre o sofrimento daqueles que nos fazem sofrer. Quem quer que já nos tenha feito sofrer, sem sombra de dúvida sofre também. É preciso apenas que acompanhemos nossa respiração e olhemos em profundidade. Veremos, naturalmente, seu sofrimento. Parte das suas dificuldades e tristezas pode resultar da falta de prática dos seus pais quando ele ainda era pequeno. Seus próprios pais, porém, podem ter sido vítimas dos seus respectivos pais. O sofrimento foi transmitido de geração a geração, renascendo nele. Se percebermos isso, não iremos mais culpá-lo por nos fazer sofrer, já que sabemos que ele também é vítima. Olhar em profundidade é compreender. Uma vez que tenhamos compreendido os motivos para seu comportamento condenável, nosso rancor com relação a ele desaparecerá, e nós sentiremos o profundo desejo de que ele sofra menos. Podemos sorrir, sentido-nos refrescados e leves. A presença do outro não é necessária para que se produza uma reconciliação. Quando olhamos em profundidade, estamos nos reconciliando com nosso verdadeiro eu. Para nós, o problema já não existe. Mais cedo ou mais tarde, ele perceberá nossa atitude e partilhará do frescor da corrente de amor que flui naturalmente do nosso coração. Paz a Cada Passo - Thich Nhat Hanh - Editora Rocco - 1996.
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Tal qual um lago, profundo, límpido e calmo,
Assim tornam-se os sábios serenos ao ouvir os Ensinamentos. Dhammapada versículo 82 Calmo é seu pensamento, calmos sua palavra e feito;
O veneno não penetra na mão onde não há ferida,
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