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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

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A invasão

Alexandre Gomes

Muitos ainda lembravam-se daquele dia trágico no qual as naves alienígenas chegaram. Ainda hoje os que tinham tentado negociar com os invasores - e portanto retardado a resistência - sofriam o desprezo generalizado, só superado pelo ódio aos colaboracionistas que apressaram-se a fazer o "trabalho sujo" do governo estrangeiro.

Foram anos duros no qual as cidades eram destruídas, a pilhagem era rotineira e a morte já não chocava mais porque tinha sido incorporada ao cotidiano. Uma escravidão geral rompeu com as velhas diferenças. Já não havia partidos, classes ou nações, apenas uma multidão humilhada de miseráveis para os quais sobreviver talvez não fosse uma vantagem.

Junto com os invasores veio a doença, a destruição do velho modo de vida que levou de roldão as idéias que os conquistados faziam de si mesmo, seus sonhos de grandeza, sua auto-estima. Pior que a escravidão do corpo é a escravidão das mentes de quem enxerga que não é possível resistir e já não existem opções senão obedecer.

Os mais sábios dentre os invadidos sentia-se ignorante frente à supremacia dos invasores, suas armas, seus equipamentos. Muitos acabavam por acreditar-se realmente inferiores, afinal uma espécie capaz de tamanhos avanços deveria também estar certa quanto à sua certeza de superioridade sobre os infelizes habitantes daquela nação destruída.

Havia algo nos invasores que parecia confirmar esta superioridade. Entre eles não havia velhos ou doentes, por toda parte só viam os fortes invasores em posturas na qual seu domínio transparecia aos olhos de todos os invadidos. Os poucos que tinham visitado as terras de origem dos senhores garantiam que lá existiam velhos, doentes e fracos, mas suas declarações nunca foram levadas a sério não só pela fama de exagerados mentirosos dos viajantes, mas também porque ela contradizia as evidências.

Os senhores deixavam claro sua intenção de varrer todos os sinais do velho mundo. As velhas línguas foram banidas e todos tiveram de aprender a pronunciar os incompreensíveis sons da língua dos senhores. Sua dificuldade em falar, seu indefectível sotaque ao pronunciar aqueles sons servia também para que se sentissem inferiores.

Também os deuses e seus sacerdotes foram varridos do mapa e substituídos pelas divindades e sacerdotes dos invasores. Um destino terrível, asseguravam os invasores, se seguiria à morte para aqueles que não louvassem suas divindades, as únicas divindades verdadeiras, asseguravam.

Alguns tentaram ver semelhanças entre os velhos deuses destituídos e os novos impostos pelos invasores. Mas o plano dos invasores de destruir tudo o que lembrasse o velho mundo não se permitia estas semelhanças, até porque isto não só diminuía a importância do que diziam ser uma "libertação" daquelas almas escravas, mas também porque implicava em algum mérito entre os escravos, alguma possibilidade de identidade entre eles.

Quando a derrota se tornou evidente e o ânimo da resistência arrefeceu a construção daquele novo mundo começou. Tinha-se a impressão que muito pouco sobraria naquela terra tantas eram as naves que partiam carregadas rumo à nação dos colonizadores. Mas nem a humilhação dos derrotados, nem seus pesados grilhões de escravo, nem as cinzas de seu velho mundo, nem as naves abarrotadas com as riquezas dos conquistados diminuíram a violência dos senhores.

Condenados ao massacre como escravos ou como guerreiros muitos preferiram a morte rápida na guerra à morte cotidiana da escravidão. Mas o poder do inimigo, sua tecnologia, sua crueldade, sua determinação de escravizar foram mais fortes e não houve rebelião que não terminasse com o campo banhado no sangue dos rebeldes.

Um dia, acreditavam os mais velhos e os mais jovens, os invasores redescobririam seu velho mundo e sua dignidade. Um dia teriam como lutar com as estranhas máquinas dos invasores. Naquele dia, hoje um mero sonho, nasceria um novo mundo - porque o velho já não fazia mais sentido depois da invasão - no qual os invasores seriam mandados de volta a sua origem, fosse ela qual fosse. Desta esperança, deste sonho, se alimentavam os famintos.

- Malditos humanos - diziam os invasores, enquanto esperavam.

 


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São Carlos, Quinta-feira, 17 de Fevereiro de 2000

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