"Se é a razão que faz o homem; é o sentimento que o conduz" (Rosseau)
Alexandre Gomes
Razão e emoção tem se alternando ao longo dos séculos no comando das infindáveis
gerações de homens. Há épocas nas quais a razão é soberana e que os homens se
pretendem guiados pelo bom senso, inevitavelmente o reinado da razão é sucedido por
outro no qual os filhos daqueles homens racionais decidem que só a emoção é capaz de
realmente nos fazer compreender o mundo.
Às eras de fé sucedem-se as eras da lógica desde que o mundo é mundo, até porque os
excessos de uma fazem brotar a outra. E em geral uma sequer pode ser definida sme que seja
em oposição à outra. Apesar de todos os efeitos literários e filosóficos desta
dicotomia a eterna briga destas irmãs siamesas não faz sentido algum em termos
absolutos.
Provavelmente os melhores argumentos a favor da emoção são aqueles que demonstram
irrefutavelmente que ela é uma necessidade racional, assim como os melhores defensores da
razão provam sem sombra de dúvida o quanto ser racional pode ser emocionante.
Este debate jamais será concluído porque o homem não pode dispensar nenhuma das duas, o
que varia ao longo das gerações é apenas a dose necessária de cada uma na vida da
elite pensante - e por conseguinte dos demais.
Os homens de uma determinada época em geral tendem a considerar uma ou outra como
essencial e depreciar a outra, assim como em cada período da nossa vida pessoal tendemos
a dar importância a uma delas, dependendo do momento que vivemos.
Curiosamente é em alguns filósofos mais racionais que se vai encontrar uma das defesas
mais intransigentes da emoção. Para a grande maioria dos filósosfos do Islam medieval,
por exemplo, havia sempre um ponto que não podia ser ultrapassado com o simpels
exercício da razão. Havia a clara distinção entre o comum do povo - capaz apenas de um
senso-comum ao qual obedecia - o homem racional - que chegava à verdade pela razão - e o
místico que chegava à verdade através do abandono da mente às novas sensações
providas pelo amor divino.
O lado mais complexo desta dualidade é que ambas anseiam por serem únicas, as duas
tentam ser totalitárias governantes da nossa vida e da nossa sociedade. Uma sociedade
movida exclusivamente pela emoção seria tão instável quanto seria estagnada uma guiada
só pela razão.
Se alguém me perguntasse qual das duas é a mais elevada eu diria que é a emoção,
porque só ela permite um vôo mais alto. Não é à toa que Dante precisou deixar
Virgílio e tomar Beatriz como guia para as fases mais avançadas da sua viagem. A
racionalidade de Virgílio não é capaz de apreciar a beleza da luz ofuscante que Dante
encontrou ao término da jornada.
Mas qualquer uma das duas em mãos inábeis torna-se ferramenta perigosa, a razão tende
à frieza tanto quanto a emoção tende à paixão violenta e por isso é necessário que
uma dose a outra, que na luta entre as duas fique estabelecido um limite, uma muralha que
impeça uma de extrapolar os limites.
Hoje vivemos numa época excessivamente dominada pela razão, um momento no qual tudo nos
parece muito frio. Neste mundo de gelo o único valor que nos emociona é o cálculo frio,
além do qual todas as outras razões parecem esquecidas. Não vivemos, jogamos xadrez com
a vida!