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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

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O triste fim da Literatura Infantil



Alexandre Gomes

Lobato, dizem, deixou de escrever para adultos porque desistiu de tentar colocar idéias nas cabeças deles, repletas demais de costumes, vícios e preconceitos para que coubesse alguma coisa mais. Resolveu, então, sugerir idéias às mentes infantis, menos doutrinadas na mediocridade e parece ter tido efeito, afinal os "filhos de Lobato" marcaram algumas décadas de progresso do país, ainda que nenhum deles tenha se tido a mesma coragem do mestre.
Quem lê os textos para adultos de Lobato, em geral artigos de jornal, lamenta a opção do escritor porque certamente ele teria muito ainda a dizer a todos. Sua mente desacostumada às normas que em geral a acorrentam produz idéias originais, juízos tão estranhos como corretos, coloca o dedo na ferida profunda da nação sem medo nem piedade; tudo isto alinhado numa prosa elegante, culta e cheia de referências sem ser pedante, às vezes numa história profunda e comovente retirada às páginas da história ou do noticiário.
De todos os livros - em geral coletâneas dos artigos - o meu preferido é "Na Antevéspera", escrito na década de 20 (com alguns acréscimos posteriores e anteriores). Lá ele destila críticas profundas ao governo federal, aqueles tumultuados anos de Arthur Bernardes e Washington Luis, com toda a violência sincera do seu texto.
Eram anos de chumbo, principalmente para os paulistas, marcados pelo Estado de Sítio, pelo bombardeio de São Paulo que o marcou profundamente - "só a insânia o poderia invocar [o princípio da autoridade] para destruir São Paulo", escreve ele - de níveis insuportáveis de corrupção governamental e de um profundo desejo de mudanças que depois seria habilmente manipulado pela Revolução de 30.
Frente à vileza do governo Lobato eleva os personagens que enfrentam este estado de coisas à categoria de heróis. A Coluna Miguel Costa - que depois se fundiria com as tropas do Sul formando a Coluna Prestes - é saudada pelo seu heróico abandono de São Paulo, fazendo cessar o bombardeio, assim como heróico é o soldado que mata um oficial francês que por motivo fútil o chicoteia o rosto - privando Damasco de mais um bombardeador, ironiza ele - e o soldado nordestino que havia lutado por São Paulo e perdido um olho (isto já em 32) mas placidamente aceita as ofensas racistas de uma velha dama quatrocentona, só para citar alguns.
Mas cada vez que releio Lobato, que comecei a devorar mal aprendi a ler, sou assaltado por uma dúvida que me atemoriza quanto ao futuro: será ele ainda legível para as crianças de hoje?
Dou uma olhada nos livros infantis que circulam por aí e sou tentado a acreditar que não. Quase sempre se tratam de livros que tratam as crianças como imbecis, nos quais não se pode aprender nada. Quase sempre são tão desprovidos de conteúdo que precisam apelar para outros aspectos como estratégias de marketing, assim proliferam livros nos mais diversos formatos e materiais justamente porque nenhum deles tem conteúdo, então precisam buscar algum atrativo que o substitua.
Lobato escrevia às crianças com o mesmo esforço e qualidade com o qual escrevia para os adultos. A diferença, se há, é que nos livros para crianças reforçava o aspecto lúdico, buscava estimular a fantasia e nunca usava expressões sem as explicar. Não usava um texto primário e uma temática imbecilizada como a imensa maioria dos escritores infantis de hoje fazem.
Talvez ele acreditasse que o poder da fantasia, aquela mágica que encontra uma eficiente metáfora lobatiana no "pó de pirlimpimpim", seria a única esperança para que no futuro as crianças que o lessem resolvessem pensar e mudar radicalmente o país que ele amava tanto e que era tão castigado. A tarefa, deveria saber ele, era tão imensa que exigia uma grande dose de imaginação e da coragem que a fantasia dá para ser efetuada.
Os atuais livros para crianças, boçalidades mercantis, certamente não exercem nem exercerão este papel. Talvez, pelo contrário, irão desestimular as crianças de pensar fazendo-as imaginar que as suas histórias cretinas e monossilábicas fazem parte de algum tipo de literatura, garantirão que as novas gerações não conheçam nunca a leitura de livros de qualidade e ensinarão que o formato ou material no qual o livro-mercadoria é feito é mil vezes mais importante que o conteúdo.
Meu único alívio é saber que estas bobagens que se chamam hoje de livros infantis nunca chegarão a um milésimo da glória de Lobato. Seus autores e editores poderão ganhar fortunas comercializando este lixo todo a pais e filhos ignorantes, mas jamais deixarão o nome para a posteridade como Lobato fez. A mais certa das imortalidades - aquela representada pelo nome que deixamos quando abandonamos a vida - não é nada conivente com a ignorância e a mediocridade.




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São Carlos, Terça-feira, 29 de Fevereiro de 2000

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