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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

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Contos de terror



Alexandre Gomes

Contos de terror são considerados, assim como os romances policiais e de ficção científica, categorias menores da literatura por um postulado cuja principal utilidade é o de ser desmentido pela crítica em alguns casos excepcionais. O cinema deu uma nova vida ao "ramo", mas ao mesmo tempo parece ter lhe roubado a alma, transformando o gênero em mera oportunidade para a exibição de efeitos especiais tão numerosos que lhe tiram o caráter assombroso derivado justamente da surpresa e raridade.
Os mestres do conto de terror, seus pais, foram certamente Nathaniel Hawthorne e Edgar Allan Poe, dois americanos do século passado que inventaram a imensa maioria dos artifícios da arte e as ferramentas essenciais do ofício. Praticamente contemporâneos, além de conterrâneos, eles seguem, contudo, linhas diametralmente opostos. O horror de Poe é essencialmente descritivo, reside na força que faz as cenas da "Queda da Casa de Usher" ou as vítimas dos "Crimes da Rua Morgue" ou o terrível "O Gato Preto" pularem do livro para a realidade, impressionando até o leitor mais distraído.
Já o terror de Hawthorne é mais conceitual, reflexivo. É o horror provocado não pelas cenas, mas pela atrocidade do enredo em si. Aquele que assombra a "Casa das Setes Torres" não precisa aparecer uma única vez para que todos saibam que ele está lá. O simpático e caricato demônio de "A estrada de Ferro Celestial" - paráfrase bem humorada do "Caminho do Peregrino" de Bunyan - não é menos aterrador ao fim por ser tão simpático. O terror do O Véu Negro do Pregador é realmente aterrador, ainda que o sobrenatural não interfira lá uma única vez
Os conceitos, o enredo - não as cenas - é que tem a função de provocar o terror em Hawthorne e é isto que o torna tão díspare em relação aos autores de terror que o sucedem. Não se admira que as raras adaptações para o cinema de seus livros, como A Letra Escarlate e a Casa das Sete Torres tenham fracassado, pois são histórias para serem lidas, para que se reflita sobre elas.
Poe já se insere numa tradição que tanto o precede - com o Fausto e os contos de Hoffman - como que o sucede até os autores atuais, especialmente Stephen King - autor que apesar dos fins essencialmente comerciais não deixa de ainda ter algum conteúdo que a indústria cultural não conseguiu lhe roubar. Curiosamente também as adaptações cinematográficas de Poe são frágeis, as suas imagens vívidas são valiosas quando se dispõe apenas do texto, mas ligeiramente ridículas quando transpostas para a tela.
Afinal o seu principal mérito é produzir na mente do leitor as cenas terríveis que descreve, quando a imagem está disponível, já não precisa ser formada nas mentes porque projetada na tela, ela praticamente perde o sentido. Assim o assassino da Rua Morgue nos provoca arrepio no texto, mas nos fazer rir na tela quando vemos aquela fantasia ridícula de orangotango usada por um autor.
Não se pode, contudo, menosprezar algo que em Poe também é conceitual, justamente o que falta ao terror contemporâneo. A culpa, por exemplo, é elemento de terror muito presente em sua obra, dando-lhe uma dimensão muito mais psicológica que propriamente de terror. A maior parte dos seus herdeiros não percebeu isto com precisão e se a imensa maioria dos filmes de terror hoje são puras descrições de fatos aterradores narrados mais por efeitos especiais do que por si próprios, é porque os conceitos foram perdidos. O recente "Sexto Sentido" - a despeito de seu caráter meio doutrinário - esforça-se para superar isto e de certa forma o consegue, mas para manter a atenção e as salas lotadas cedeu à tentação fácil dos efeitos visuais e cênicos rotineiros.
Pouco depois outro autor, desta vez no Velho Mundo, iria se associar a estes dois como inspirador de gerações de autores de terror, Kafka. é aterrador tanto pelos conceitos de livros como O Processo e A Metamorfose como pelas suas descrições sombrias, contudo nele tudo é terror, a escuridão não surpreende porque nela falta o contraste da luz que existe em Hawthorne, ou a surpresa de Poe, lá o terror é esperado, assim não aterroriza. Evidente que esta observação não diminui a importância da obra de Kafka em outros setores, mas do ponto de vista das "tecnologias de aterrorizar" suas construções são pobres, até porque não é este o objetivo delas.
\De volta ao Novo Mundo é preciso ainda considerar um outro autor, Henry James com o seu A outra Volta do Parafuso. James parece se encaixar perfeitamente na descrição de Will Durant segundo o qual ele faz literatura como se fizesse filosofia, enquanto seu irmão (o filósofo pragmático William James) faz filosofia como se fizesse literatura. A consequência disto é que enquanto a filosofia de William é teoricamente dirigida ao "homem da rua" a literatura de Henry é um tanto quanto indigesta. Nela parece haver apenas conceitos, quase que enfastiando o leitor. Como Ortega e Gasset, Henry James parece escrever para escritores, não para o grande público, o que talvez explique todo o seu prestígio nos meios literários apesar dos poucos leitores.
A lista ainda é grande, mas por aqui já é possível traçar uma morfologia do Conto de Terror que assinale os seus elementos essenciais. O maior deles é certamente a surpresa, o espanto causado por acontecimentos repentinos e inesperados que de um lado se harmonizam perfeitamente com a trama e de outro irrompem nela de forma não previsível. A previsibilidade, tão cotidiana nas fitas de terror que circulam por aí, tiram qualquer expectativa de assombro.
O horror pode ser tanto conceitual como o de Hawthorne, ou descritivo como o de Poe - idealmente mescla os dois - mas não pode ser evidente. O contra-exemplo são as tendências dos filmes comerciais de que todos sabem o que vai acontecer na cena seguinte, menos os personagens, de forma que junto com a surpresa se vai o conceito e só sobra o horror de uma descrição que deve mais aos recursos de computação gráfica do que ao mérito do autor.




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São Carlos, Terça-feira, 29 de Fevereiro de 2000

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