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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

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Vathek: uma infernal jóia oriental

 


Alexandre Gomes

Borges distinguiu o Inferno de Dante do descrito no Vathek de Beckford por considerar o primeiro não um lugar atroz, mas um lugar onde ocorrem fatos atrozes, enquanto o último seria o primeiro inferno realmente atroz da literatura. Confesso que o livro de Beckford passou inúmeras vezes pela minha mão no Outro Contos, este nosso templo da leitura que modestamente se chama apenas de sebo, talvez nunca o compraria se não fosse os comentários de Borges.
Não que o livro não tivesse me chamado a atenção, mas entre tantas tentações é sempre necessário traçar listas de prioridades nas quais ele acabou sendo sempre excluido à última hora. Mal compro o livro e devoro em poucas horas seu conteúdo, escrito numa prosa agradável que consegue ser rica sem ser rebuscada e numa história repleta de descrições minuciosas sem deixar de ser eficiente e atrativa.
A tradução é evidentemente ruim, agravada pelas notas que a guisa de esclarecer confundem mais e revelam o completo desconhecimento do tradutor sobre o assunto. Em alguns casos as notas chegam a ser ridículas, como na que tenta explicam quem seria o rei Suleiman Ibn Daud elencando personagens completamente distanciados.
O nome e o contexto revelam sem margem de dúvida que se trata do Rei Salomão filho de David. Não bastasse a coincidência dos nomes de pai e filho - apenas nas formas arabizadas de Suleiman e Daud - as referências a um conhecimento "especial", o poder de comando sobre os djinns (gênios) e a referência ao Palácio não deixariam margem de dúvida sobre a identidade do personagem que tem um papel fundamental no desfecho da obra. A confusão provocada pelas notas do tradutor Não chega a comprometer de todo a compreensão do texto, mas certamente empobrece a sua conclusão.
Uma outra confusão do tradutor se refere à expressão sultão pré-adamita utilizada frequentemente pelo autor. Aqui o equívoco da "nota explicativa" não se explica pelo desconhecimento de noções básicas de cultura islâmica, já que a idéia de uma civilização pré-humana não tem referências na cosmogonia muçulmana, mas o sentido da idéia inventada pelo autor é evidente. Bastaria, portanto, ao tradutor ler o texto para apreender o sentido no máximo buscando na Mitologia Grega referências básicas do mito dos titãs para compreender o sentido da expressão.
Há problemas sérios também na transliteração das palavras árabes e persas que tornam algumas expressões quase irreconhecíveis. Confesso que uns dos motivos para não ter comprado o livro antes da referência de Borges foi o seu nome, Vathek. Como se sabe, no árabe não existe a letra V e este descuido me deu a impressão de uma obra apressada a mal cuidada. Na verdade ocorreu apenas um erro de transliteração que transformou um u em w que foi entendido como V. É até improtante salientar que realmente houve um califa abássida chamado Wathek, neto do legendário Harun Al- Rashid das Mil e Uma Noites.
Termino de ler o livro com a sensaçào de ter sido vítima de mais uma das peças de Borges, afinal ele cria a expectativa de uma descrição minuciosa do Alcáçar do Fogo Subterrâneo e das 130 páginas da história apenas 12, menos de 10%, se passam neste palácio infernal. Da mesma forma Borges omite o mais importante dos horrores infernais: o coração em chamas dos infortunados que aceitaram a soberania de Iblis.
Só ao se ler o livro se entende por completo o texto de Borges que começa e termina falando de uma hipotética biografia que não mencionasse as principais obras do biografado. A mim parece evidente o jogo de um livro sobre o Inferno que fala tão pouco do mesmo, mas certamente o texto de Borges não fala da idéia central do texto - a não ser em um parágrafo para traçar seu parentesco com o Fausto de Goethe e histórias similares.
É essencialmente sobre isto o livro, a punição de quem busca orgulhosamente - e impiamente - o conhecimento e o poder sem colocar nenhum limite a sua ambição. O que leva Wathek ao inferno é justamente esta sede de conhecimento,"punida com a perda do mais precioso bem dos céus: a esperança".
Este fundo moral soa certamente estranho a um contemporâneo e êmulo de Voltaire, a um aristocrata excêntrico - o que talvez seja um pleonasmo - que vive na fase final da decadência do Ancient Régime (o livro apareceu em 1787). Um autor que buscava o mesmo prazer do conhecimento, que como Wathek adorava as ímpias orgias dos sentidos escrevendo uma história com tal fundo moral, condenado a si mesmo é certamente algo estranho.
A psita para desvendar o mistério vem de outro lado, Beckford parece ter extraído sua história das mil e uma noites. Para dizer a verdade parece até muito mais autenticamente "oriental" que muitas das histórias das Mil e Uma Noites. Para o que ele considera a mentalidade oriental o Wathek teria de ser punido como uma consequência mais ou menos natural da mentalidade oriental.
Tal como das muitas histórias interpoladas nas Mil e Uma noties originais - que nunca estiveram nos originais árabes, turcos e persas - como a história de Alladin, o Vathek de Beckford fala mais sobre a forma como a Europa vê o Oriente do que sobre o próprio oriente. E neste jogo de imagens espelhadas acaba por revelar mais sobre o Ocidente e seus valores do que sobre o Oriente que quer descrever.
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Termino de ler o livro com a nítida sensação de ter sido


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São Carlos, Terça-feira, 29 de Fevereiro de 2000

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