"Vai tudo raso!..." - exclama BAlbina em tom colérico voltada para os seus capangas de serviço e correligionários. 

Balbina está fula. Balbina anda super irritada. Balbina até nem dorme. Balbina até ... nada de coisa e tal... coitada! Não é que alguém se lembrou de lhe colocar o nickname "Saleira" numa clara alusão à semelhança de comportamentos com um certo saleiro (peça em que se serve o sal na mesa, pois está claro!) chaparro e xuxalista?

Cá para nós, que ninguém nos ouve,  quem a baptizou com o nick "Saleira" foi um dos seus colaboradores a tempo inteiro e biscateiro nas horas de serviço que, apesar de andar sempre de espinha curvada satisfazendo todos os caprichos maléficos da madame, vai-se carpindo junto dos seus mais próximos, denunciando as jogadas porcas em que se vê envolvido, como forma de manter a sua sanidade mental. É que é difícil ser pérfido 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano! Nem toda a gente tem o arcabouço da afamada Gestora Racional de Recursos Humanos do Pepino.

- "Chamarem-me "Saleira"!...Que desaforo! Até nem sou da raia. Querem dizer o quê? Que faço tráfico de influências? Eu ?!... Que tenho contas chorudas? E depois?! Que faço distribuição de tachos, tachinhos, panelas e panelinhas aos amigos?!! E depois?! Se tenho poder para o fazer, ninguém tem nada  com isso!... Que persigo os pacóvios marretas que eu detesto ?!... E depois?!... Mas isso é o que toda a gente faz. Até se podem dar por satisfeitos por nada mais mandar fazer. Atentem que aqui mesmo ao lado, os pacóvios contestatários e subversivos ou levam um tiro nos miolos ou são internados no sistema laogai..." - Protestava Balbina Silvão em tom cada vez mais alterado virada desta vez para um seu correligionário xuxalista que de olhos esbugalhados lhe segue silenciosamente a diarreia verbal.

- " Que coisa!... Atentem que eu não sou chaparra!... Olhem que comigo não é de devagar, devagarino e marcha atrás! Ou não fosse eu de atrás das rochas!... Tenho as cotas em dia, e é quanto baste. Vocês não percebem nada disto. Vocês são analfapolíticos e não compreendem que a prática política deve adequar-se às especificidades locais do Pepino. Além do mais, quem foi que colocou a rocha no alto do monte? Fui eu por acaso?...Eu sou é pragmática e realista. E não se esqueçam que aqui no Pepino mandam os que cá estão!...Mandam os que cá estão, entenderam?..." - vociferava Balbina Silvão com o dedo apontado em riste - qual pistola - para outros correligionários.

"Ó Balbina! - exclama alguém que a conhece bem de tempos passados - Ó menina!... Pára lá com essa conversa de merda e esse tom de voz caceteiro que não nos assustas!... Olha lá, pá!  Tu podes meter medo a quem te tem medo, mas não a mim!...Entendes, filha?... Estás a perceber, nã tás?... E para mais, não tens nada que levar a mal. Olha que as parecenças são muitas, apenas vos distingue o sexo e as bombas de gasolina. E para acabar com esta conversa que já mete nojo, dou-te um conselho de borla, filha : põe-te n´alheta enquanto é tempo! Muda de vida, dedica-te à pesca submarina que tens corpo para isso. Vai gozar os teus proventos, passear os teus Rolexes e colares de pérolas. Olha, vai dar uma volta ao mundo de iate!..."

Engolindo a custo a ofensa porque vinha de quem vinha, Balbina lança um aviso : -"Isso é o quê? Ameaças?...Não me provoquem que eu mando para o Dependente um dossier secreto com coisas jamais vistas!... Julgam vocês que eu sou parva?... Eu não nasci ontem!... Eu sei de coisas.... e se ponho a boca no trombone...ah....não é só a minha cabeça que rola! Disso podem estar certos!... Julgavam que eu andava aqui a dormir na forma?!...Pois estão enganados! ... ". E desanda de queixo levantado, parecendo um barco do rio Vouga a transportar sal, e ordenando aos seus lacaios : "Preparem as redes que logo à noite vamos caçar gambuzinos. Não se esqueçam de meter pilhas novas nas lanternas e de arranjar uns varapaus de dois metros. Servem os cabos de enxadas, de vassouras ou as varas de picar os bois".