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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

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Razões do discurso secularista e imperial

 



Alexandre Gomes

Neste atual período de extrema descrença e materialismo é relativamente natural que acabe por ganhar espaço mesmo no senso-comum a noção de que a religião é um instrumento de dominação da população. O sentimento expresso na frase célebre de Marx - "A religião é o ópio do povo", parafraseada de forma sagaz por Raymond Aron que proclamou que o "marxismo é o ópio dos intelectuais" - é tomada como uma verdade absoluta em meios cada vez mais diversos.
É natural que Marx proclamasse isto, afinal jamais poderia de pensar segundo um homem da sua época na qual se glorificava a supremacia da ciência e do governo secular. Praticamente não houve autor contemporâneo a Marx que não compartilhasse da sua mesma visão e o velho filósofo foi, de certa forma, vítima da mesma visão ideológica que tanto condenava.
Como já foi dito antes, a opção secularista era uma peça fundamental de justificação ideológica do colonialismo. Embora não utilize o conceito de ideologia, Edward Saïd desmascara de forma minuciosa o discurso orientalista do período no qual este secularismo era peça fundamental.
Na Idade Moderna a Europa legitimava sua agressão ao resto do mundo a partir do "alargamento" das fronteiras da cristandade, pelo desejo misericordioso e humanitário de levar às nações "bárbaras" o conhecimento da palavra de Deus.
A segunda onda colonial, posterior à Revolução Industrial, irá se legitimar pelo alargamento das fronteiras da Razão e da Ciência, pelo desejo tão misericordioso e humanitário de libertar os "povos primitivos" das suas superstições, crendices e estruturas sociais antiquadas e arcaicas.
A nova onda colonial, auto-entitulada globalização, tenta se legitimar não só pelos motivos anteriores, mas também pelo desejo igualmente misericordioso e humanitário, de libertar o mundo das estreitas limitações das suas economias primitivas, libertar o homem do terceiro mundo das suas instituições políticas conservadoras e de seus valores comunitários ultrapassados.
Marx, involuntariamente, acaba por ser uma peça deste processo de legitimação da aventura colonial tanto como Bartolomeu de Las Casas involuntariamente acaba por legitimar a escravidão negra ao tentar evitar a escravização do indígena. Por mais que Marx tenha auto-proclamado seu conhecimento livre da ideologia - o que permitiu aos intelectuais marxistas um alto grau de panfletarismo nos textos que deviam ser acadêmicos - fica claro que também ele era "contaminado" - e muito - pela ideologia do seu tempo.
Saïd é brilhante em seu já citado estudo sobre o Orientalismo (Companhia das Letras, 1990, 370 páginas) porém ele utiliza um referencial teórico baseado na noção de Discurso de Foucault que privilegia esta distorção orientalista mais como uma coerção - tanto criadora como inibidora - que considera o discurso orientalista como o único possível. Parece evidente, contudo, que para além deste poder coercitivo do discurso existe uma noção ideológico fortemente implantada através de todas as instituições que se refletem numa forma particular de ver o mundo do qual o ocidental não poderia se furtar porque não tem cosnciência dela.
Ao contrário de Marx, parte-se neste artigo do pressuposto que não é o imperialismo econômico que exige um discurso legitimador - embora este exista em um momento posterior de interação entre as idéias e as relaçÕes sociais, econômicas e políticas. Defende-se aqui, num raciocínio similiar ao de Weber em "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo" e "Psicologia Social das Religiões Mundiais", que a mentalidade "ocidental" impulsiona a opção imperialista e, encontrando ambiente propício, passa a se expandir e acaba sendo consolidada como uma doutrina.
O raciocínio parece inusitado, mas examine-se as mais diversas culturas do mundo e se verá em todas elas um forte componente etnocêntrico. Jamais houve uma cultura que não se considerasse o centro do universo e a "raça" mais importante. No ocidente esta noção evoluiu ao longo dos séculos para uma visão que disfarça em graus e matizes diferenciados o conhecimento eurocêntrico em universal, com todas as consequências políticas, sociais e econômicas deste fato.
A "Globalização" é apenas um momento extremo deste processo de racionalização do etnocentrismo. Em essência não é um mecanismo distinto do que faz os esquimós se chamarem de "inuits"(homens) e atribuirem a outros nomes pejorativos; processo similar ao encontrado em qualquer outra cultura.
É evidente que esta visão de mundo que considera as instituiçÕes ocidentais como superiores - mais racionais, mais científicas, mais sagradas, mais verdadeiras ou coisa do tipo - é um excelente discurso para racionalizar a dominação - em especial quando absorvido e aceito pelos dominados - porém é preciso ver que este discurso pré-existe aos impérios.
Ou seja, o fato deles se expandirem no vácuo de uma expansão imperial, na qual ele se torna importante, ele não depende de uma expansão imperial para existir. Como já foi dito, ele está presente em todas as culturas em conceito e está profundamente enraizado na cultura ocidental, a ponto de já ser contestado por alguns sofistas que começam a criticar o discurso racista grego.


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São Carlos, Terça-feira, 29 de Fevereiro de 2000

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