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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

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O outro, o mesmo

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Alexandre Gomes

"Ó Humanos, Nós vos criamos de macho e fêmea e vos dividimos em povos e tribos para reconhecerdes uns aos outros."(Alcorão, 49: 13)

Há poucas questões tão importantes a serem discutidas no mundo de hoje como a do "outro". Em um mundo que tende a se fragmentar em civilizações irredutíveis dotadas de visões de mundo irreconciliáveis e em busca de identidades próprias mais sólidas e racionalizadas a noção do "outro" torna-se central em todo debate.
Este debate, olhado com certa desatenção, transcende em larga escala a simples esfera acadêmica. Não é uma discussão puramente filosófica, sociológica ou antropológica, nem mesmo uma simples discussão política porque tem implicações graves na vida de todos, como destacou Samuel Huntington no seu "Choque de Civilizações".
Uma das formas mais eficientes de se construir a identidade, em especial quando esta é nova, tênue e abalada é a partir da oposição ao outro. Talvez por isto o preconceito seja algo tão arraigado a ponto de parecer natural em qualquer sociedade, sem exceção conhecida.
Em um mundo fragmentário no qual dezenas, centenas, talvez milhares de novas identidades estão sendo gestadas a demonização do outro é praticamente inevitável. A já frágil unidade da espécie humana tende a ser soterrada pela avalanche de uma auto-afirmação das culturas com base na intolerância, no medo e, sobretudo (o que é mais assustador) na necessidade de odiar ao outro.
Curioso que isto ocorra em um momento no qual a ciência, especialmente através do projeto Genoma, demonstre a unidade essencial do ser humano, a imensidão das suas similaridades genéticas e o caráter diminuto das suas diferenças cromossômicas. Certamente é um avanço que a ciência deixe de ser utilizada para justificar o preconceito, mas a prova científica não é suficiente para bani-lo.
A ilusão de que os fantasmas sangrentos do racismo e do chauvinismo podem ser exorcizados com dados científicos é criada por uma série quase interminável de incompreensões e arrogâncias científicas. A primeira delas é pensar que este tipo de preconceito é movido por princípios racionais, ou pelo menos pelo que se entende como racional (de certa forma tem uma racionalidade própria).
Tal como na fábula do Lobo e do Cordeiro, o chauvinismo - fosse nazista, racista, colonialista, eurocêntrico ou outra de suas variantes - utilizou a ciência como argumento enquanto esta lhe dava um discurso que legitimava a diferença. Provado que o cordeiro não pode sujar a água do lobo porque está rio abaixo, o argumento pode ser descartado.
Como o Lobo, o preconceito busca outros argumentos para devorar o cordeiro ao invés de simplesmente aceitar as razões do mais fraco. Portanto nada adiantará provar de forma irrefutável que não há qualquer base genética para o preconceito, buscar-se-ão outras.
Além disso, o preconceito não é um fato biológico - embora alguns, como os adeptos da sociobiologia tenham tentado justificá-lo como uma tentativa de tornar mais eficiente a transmissão do código genético. Ele é sobretudo um fato social, faz parte do processo de socialização, do conjunto de mecanismos simbólicos que as sociedades usam para organizar o mundo.
Não se "aprende" a fazer parte de uma cultura apenas apreendendo suas estruturas implícitas, seus valores, enfim seu universo simbólico, mas também - e em alguns casos principalmente - pela oposição ao outro, ao externo, ao vizinho. Este "outro", bem entendido, geralmente tem pouco a ver com o inimigo real, é quase sempre uma construção imaginária feita por oposição aos valores daquela sociedade.
Edward Saïd mostrou o quanto o Orientalismo criou um "Oriente" que jamais existiu, assim como Huntington demonstrou a falácia de uma dualidade Mundo Ocidental/outros. Mas, a despeito do extremo brilhantismo da análise de Saïd ela deixa talvez uma brecha, para ele o Ocidente criou o "Oriente" como uma forma de legitimar a opressão colonial. Contudo esta invenção parece ter outra finalidade, a de reforçar os valores ocidentais.
Assim como Saïd, e antes dele para que se faça justiça, Garaudy também questiona o caráter universalista dos valores ocidentais como um chauvinismo disfarçado. Contudo os dois se irmanam em uma falha talvez mais grave que Huntington corrige, todas as culturas realizam o mesmo papel e julgam-se centro do mundo.
Em um eurocentrismo às avessas critica-se na cultura ocidental - porque dominante, opressora, hegemônica e visível - aquilo que outras culturas não fizeram por falta de oportunidade histórica. A afirmação é certamente temerária e o What-if é sempre um jogo perigoso nas ciências humanas, contudo é preciso ver que o desejo de hegemonia e o ódio ao outro está presente em qualquer sociedade, apenas esperando a oportunidade para se liberar.
A previsão pessimista de Huntington - em um livro que não pode deixar de ser lido por quem pretenda entender o mundo contemporâneo - defende a idéia que o mundo multi-polar que emerge da Guerra Fria irá dar um certo grau de oportunidade a todas as civilizações para demonstrarem seu chauvinismo.
Mais do que oportunidade, e aqui é bom começar a se preocupar, ele cria a necessidade pois a identidade nacional, étnica, religiosa e sobretudo cultural passa a ser um imperativo da existência e ela é construída sobretudo pela oposição "ao outro". Pouco adiantarão relatórios do Projeto Genoma demonstrando que entre um esquimó e um bosquímano, entre um holandês e um pehl não existam diferenças significativas, raça não é um conceito biológico, mas social e simbólico.







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São Carlos, Terça-feira, 29 de Fevereiro de 2000

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