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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

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Artigo de hoje

Oriente e Ocidente

Resenhas de Babel


Alexandre Gomes

"Ao observar seus rostos em prantos, devastados, ao fitar esses olhos desvairados, esgazeados e súplices, revelou-se a mim toda a miséria da Pérsia, almas em farrapos assediadas por lutos infinitos" (Amin Maalouf, Samarcanda)

O atual radicalismo islâmico que diariamente enche as telas do noticiário internacional é em grande parte fruto de uma reação a um movimento contrário iniciado décadas antes, no qual uma elite culta, diplomada por universidades européias, tentava apagar ou reconstruir a velha tradição oriental pela adoção de valores de estilo ocidental.
Os episódios mais conhecidos desta luta entre reformistas e tradicionalistas estão no meio político como a Revolução Iraniana de 79, ainda que a mídia pouco se ocupe dos casos nos quais os reformistas ocidentalizantes produziram regimes monstruosos como o a Síria, do Iraque e da Turquia.
Mas esta luta também se trava no campo da cultura, em especial da literatura, na qual os "ocidentalizantes" em geral vem obtendo maiores êxitos. Alguns deles, mais radicais, pregam praticamente a assimilação cultural ao ocidente, outros defendem uma integração que se tornou conhecida como a postura do "melhor dos dois mundos".
É difícil saber quantos deste último grupo eram realmente sinceros e quanto não eram mais que pontas de lança do imperialismo cultural, até porque por controlar muitos dos meios de divulgação o Ocidente Imperial geralmente fazia com que personalidades sinceras na busca do "melhor dos dois mundos" - como fala um poeta paquistânes desse período agitado - transformassem-se em ideólogos da submissào cultural.
O acirramento do conflito político-econômico gerou o que se convencionou chamar - erroneamente, creio eu - de fundamentalismo islâmicos e uma multidão de intelectuais sinceros acabou sendo colocada no mesmo cesto dos lacaios do Império Ocidental. Um exemplo significativo é o do escritor egípcio Nagib Mahfuz, vítima de um atentado de radicais porque ousava falar da mesma dúvida que Al-Ghazali falava na Idade Média, daquela dúvida que dialecticamente gera a fé.
É neste contexto que deve ser examinada a obra dúbia de Amin Maalouf, escritor-historiador franco-libanês. O olhar de Maalouf sobre o Oriente é um olhar tipicamente ocidental, os defeitos que ele vê sào os defeitos que um ocidental veria, as virtudes que ele enxerga sào aquelas que um ocidental sensível veria. Como um ocidental ele vê um exotismo no Oriente demonstrando todas as sinuosidades e segundas intenções do discurso orientalista - brilhantemente desnudado pelo crítico literário palestino-americano Edward Said.
Este olhar viciado não tolhe seu talento para contar histórias e realizar uma mescla suprema e agradável de história e literatura - como em Samarcanda ou na biografia romanceada de Leão, o Africano - porque a distorção pdoe ser medida, pesada, corrigida por um olhar crítico.
O problema é queMaalouf tenta se apresentar como um oriental, intenção transparente no título de seu livro mais conhecido no Brasil - "As Cruzadas vistas pelos Árabes" - e aí o que antes era uma visão equivocada passa a ser um visào deturpada, um desonestidade intelectual.
Um exame mais detalhado do "Cruzadas" demonstra que ao contrário do que o título sugere ele utilizou muito mais fotnes ocidentais - em especial o monumental calhamaço "História das Cruzas" de Joseph François Michaud e as fontes primárias registradas por este mesmo autor - do que em fontes árabes.
Isto até seria natural porque as Cruzadas foram muito mais um acontecimento ocidental do que oriental e com exceção das áreas diretamente englobadas no Teatro de OperaçÕes das Cruzadas, pouco impacto elas tiveram na historiografia islâmica.
O problema todo é que a partir de uma visão que pinta os europeus como bárbaros incultos e os muçulmanos como homens refinados - o que é em grande parte um exagero - Maalouf chega a conclusões inusitadas para tentar explicar porque o fracasso dos europeus marcou a ascensão da Civilização Ocidental e a vitória dos estados muçulmanos o ocaso da Cultura Islâmica.
Aqui há um grande contrabando ideológico - do mesmo tuipo desmascarado por Said - que tenta atribuir este processo à superioridade das instituições ocidentais e à relação contratual existente na servidão, o que é no mínimo um disparate.
Ele chega mesmo a atribuir os sucessivos fracassos da resistência muçulmana ao caos dinásticos que seria evitado no ocidente através da primogenitura, o que representa ignorar todo o processo histórico por detrás disto.
O contrabando ideológico é ainda mais grave em Samarcanda. As duas primeiras partes do livro são excelentes. Localizadas no período medieval a primeira tenta fazer uma biografia romanceada de Omar Khayyan e de dois de seus contemporâneos mais famosos, o competente Nizam Al-Mulk - vizir persa dos sultÕes turcos que dominavam o califado - e Hassan Al-Sabbah - talentoso jovem que um dia se tornaria o legendário Velho da Montanha, comandante da igualemnte legendária Ordem dos Assassinos. É à esta ordem que Maalouf dedica a segunda parte do livro, pura ficção mas que ele tenta dar ares de realidade.
As duas partes seguintes, situadas na Pérsia do início deste século, mesclam ficção e realidade em doses preocupantes. Curiosamente o livro se torna extremamente atual nestes tempos de nova rebelião estudantil no Irã, porque o conflito entre a facção conservadora e a progressista é exatamente o mesmo que hoje assola aquele país.
E curiosamente Maalouf comete os mesmos erros de análise que o noticiário comete hoje em dia, demosntrando que nenhum dos depois foi capaz de realmente compreender o conflito, nem a sociedade iraniana ao imaginar que o que se trava lá é uma luta entre pró-ocidentais e pró-orientais, entre religião e laicismo.

Alexandre Gomes é editor do PRIMEIRA PÁGINA


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São Carlos, Terça-feira, 29 de Fevereiro de 2000

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