Os animais e a construção do
mundo humano

Pensamento Selvagem X Pensamento Científico
Totemismo
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Os
animais ajudaram os homens não só nos transportes
e comunicações (cavalos, camelos, elefantes, cachorros,
carruagens puxadas a cavalos, trenós puxados a cachorros
etc), na lavoura e manutenção do equilíbrio
ecológico (tração animal, carros de boi,
polinização etc), como também ajudaram os
homens a pensar. Os antropólogos sempre se perguntaram
porque as sociedades ditas "primitivas" utilizam nomes
de animais e plantas nas suas classificações, na
nominação dos vários grupos sociais. Estas
sociedades que têm um intenso contato com a natureza, nada
têm de "primitivas". Este conceito, há
muito questionado na Antropologia moderna, se refere a uma oposição
entre "pensamento científico" e "pensamento
selvagem" ou "pensamento abstrato" e "pensamento
concreto"; assim como a uma inferioridade tecnológica
com relação às sociedades européias.
O antropólogo Lévi-Strauss foi quem mais eficientemente
criticou estes conceitos. Em seu livro "O pensamento selvagem",
ele mostra que tanto as sociedades tribais pensam abstratamente,
quanto as sociedades complexas fazem uso do "pensamento
concreto'. Entre os índios da América do Norte,
por exemplo, a idéia de que uma mulher usa um cesto demasiadamente
pequeno, traduz-se como: "ela coloca raizes de potentilha
na pequenez de um cesto para conchas"; e entre os ditos
"civilizados", é comum o emprego de nomes de
animais na nominação de clubes, brasões
etc - procedimento próprio do "pensamento selvagem
ou concreto". Na verdade, Lévi-Strauss afirma a existência
de processos intelectuais semelhantes entre os dois modos de
pensar, ou seja, têm a mesma estrutura, "as espécies
animais e vegetais não são conhecidas na medida
em que sejam úteis; elas são classificadas úteis
ou interessantes porque são primeiro conhecidas... o totemismo
estabelece uma equivalência lógica entre uma sociedade
de espécies naturais e um universo de grupos sociais...
é um meio de significar a significação...".
Boas, um dos primeiros antropólogos, já afirmava
que o problema era saber por que as narrações que
se referem aos homens "manifestavam tão grande e
tão constante predileção pelos animais,
pelos corpos celestes e por outros fenômenos naturais personificados".
É Lévi-Strausss quem responde, mais uma vez, que
este sistema de crenças e costumes, chamado de totemismo,
é um esquema classificatório que permite apreender
o universo natural e social sob a forma de totalidade organizada.
Desta percepção da organização advém:
os emblemas vegetais dos gregos e romanos com suas coroas de
oliveiras, de carvalho, de louro etc; as associações
entre ervas, animais e signos do zodíaco, tanto no ocidente
quanto no oriente; os ancestrais mitológicos como descendência
de clãs de tartaruga, de castor, de lobo, de urso, de
gavião, de águia, de cão etc; os animais
mitológicos (dragão, unicórnio, fenix etc);
sistemas de adivinhação baseados no comportamento
animal (por exemplo no Mali, a Rapousa; em Bornéu, o canto
e o vôo de várias espécies de aves), as divindades
em forma de animais como na India (Ganesha, Hanuman etc) e inúmeros
outros exemplos.
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