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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatosArtigo de HojeArtigos anteriores
Será a arte moderna decadente?Alexandre Gomes Um ponto comum aos regimes totalitários deste século foi a perseguição à arte dita "de vanguarda". Hitler, Stalin, Mao-Tse-Tung, os regimes fundamentalistas, todos estes colocaram suas miras sanguinárias sobre as vanguardas o que por si só já quase basta para avaliar que tendo inimigos assim ela deve ter algum mérito. Porém também a imensa maioria das pessoas também torce o nariz às inovações mais radicais destas manifestações de gosto mais do que duvidoso. Porém grande parte destas inovações esconde-se por detrás da idéia muito disseminada de que só porque é novo é bom. O próprio Monteiro Lobato, mais inovador que meia dúzia destes pretensos modernistas, levou por muito tempo a pecha de conservador e reacionário porque detestou alguns quadros da Semana de Arte Moderna. Criou-se assim um preconceito às avessas segundo o qual não gostar da arte pretensamente moderna não é de bom tom e é sinal de ignorância e de atraso. Noção muito cômoda a quem não tem outros argumentos. O elo mais frágil desta argumentação é que ela mistura em um mesmo balaio o joio e o trigo e baseia-se apenas no fato de que, como foi dito acima, basta ser novo para ser bom. O mais significativo corolário deste princípio, mais mercadológico que estético, é que ele gera infinitas "modas" nas quais cada um precisa ser esforçar para provocar algo diferente - preferencialmente chocante - para estar "in". A obra de arte perde então seu caráter perpétuo para se transformar em algo sazonal, isto para não falar dos sucessivos abusos que vão sendo cometidos no esforço de inovar. Há uma diferença enorme entre a radical inovação dos surrealistas - até mesmo de Salvador Dalí com todos os seus pecados dos quais o mais grave pode não ser ter apoiado a ditadura franquista - e os últimos produtos de gosto duvidoso que as artes plásticas tem produzido. Assim como há quilômetros de distância entre o experimentalismo literário de John dos passos ou mesmo de Joyce e a identificação com tendências vanguardistas como desculpa para escrever mal da atualidade. Sem precisar entrar em questões técnicas - porque em geral por detrás de um pretenso tecnicalismo esconde-se o charlatanismo - um elemento fundamental das artes dita modernas é dar muito pouca importância ao conteúdo. Como se fosse possível separar o conteúdo da forma e a forma do conteúdo, tenta se limitar a essência da obra de arte a experimentar meios cada vez mais inusitados de se variar a forma ao mesmo tempo que se atribui significados pobres ou genéricos. Por detrás da pintura anti-acadêmica dos impressionistas com suas cores vivas ou inusitadas havia uma determinada visão de mundo segundo a qual a representação não poderia ser igual à realidade. Um passo adiante os surrealistas pretendem representar algo que não existe na realidade e os cubistas tentam mostrar que há muitas formas e ângulos através do qual se pode enxergar a realidade. Certamente há uma interação entre forma e conteúdo nestas inovações da época em que ser moderno ainda fazia sentido. Visões que certamente representavam um avanço às escolas anteriores profundamente marcadas por um naturalismo que havia se tornado estéril - mas que não havia sido estéril no Renascimento e no Barroco. A idéia de uma arte descompromissada com a realidade, com o conteúdo, com o meio no qual é produzida e existe era uma oposição natural - talvez até menos doentia - que a noção do realismo socialista no qual a arte transformava-se em propaganda. Porém acabou compartilhando do mesmo destino do Realismo Socialista quando se tornou em grande parte veículo igualmente comercial. Não é à toa que o mercado tornou-se importante no campo das artes plásticas. Seja através das m micagens através da qual Dalí tentava cativar os parvenus americanos, seja pelo forte vínculo dos abstracionistas alemães e seus ramos com o design industrial e o desenho publicitário, mas principalmente porque estas obras de arte tornaram-se mercadorias e como tais precisavam ser valorizadas da forma que fosse possível. Quanto àqueles que julgam que o abandono do sentido em nome de um alegado experimentalismo técnico, basta lembrar de experimento recentemente realizado no qual alguns quadros anônimos foram avaliados por estudantes de belas-artes. Após os elogios, a descoberta dos sentidos ocultos de praxe como o vazio do homem e bobagens similares e a elucidação da maestria técnica do autor ao combinar cores e texturas os alunos foram obrigados à humilhante descoberta que os quadros haviam sido pintados por um chimpanzé.
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São Carlos, Segunda-feira, 21 de Fevereiro de 2000
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