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A alma norte-americana Alexandre Gomes
"O fato é que em toda minha vida nunca fiz nada do que desejava fazer! Fui simplesmente vivendo como me permitiam" (Sinclair Lewis, Babbit)
Há algo de muito específico na cultura norte-americana que a torna, se não interessante, ao menos digna de ser estudada com mais profundidade. Não bastasse as peculiaridades de uma nação que para não se sentir inferior resolveu converter a cultura e a história antes deles em uma tábula rasa, ainda há a questão da hegemonia política e econômica que torna o norte-americano um objeto de estudo privilegiado. Creio que ninguém penetrou tão fundo na compreensão da mentalidade americana como Oscar Wilde com o seu conto "O Fantasmas de Canterville". Com sua arguta capacidade de caricaturar o escrito irlandês fala de uma família norte-americana que compra um castelo assombrado por um infeliz fantasma tipicamente bretão. Algumas cenas do conto são absolutamente hilárias como aquela na qual o proprietário do castelo recomenda ao fantasma, que arrastava correntes pelas madrugadas, que utilize um lubrificante. "Meu caro senhor, devo insistir em que lubrifique estas cadeias, e para este fim trouxe-lhe uma pequena garrafa de lubrificante Tammany Sol Levante. Dizem que é eficaz logo após a primeira aplicação, e há vários testemunhos neste sentido no rótulo", diz como se estivesse num comercial Washington Otis, o proprietário americano do castelo inglês ao seu inquilino fantasma. O mesmo efeito hilariante é usado quando ele anuncia que o removedor de manchas Pinkerton e o detergente Paragon irão deixar o chão brilhante, removendo a mancha secular de sangue, obrigando o fantasma a diariamente renovar a mancha com tinta. Este pragmatismo dos americanos encantou até Stalin que louvo este espírito nos seus rivais em um artigo, lamentando-se que seus conterrâneos soviéticos não tivessem a mesma mentalidade. Não é por acaso que a mais tipicamente americana escola de filosofia chamou-se justamente pragmatismo, ainda que este nome a leve - em especial no que diz respeito a William James - a uma injustiça porque em geral a julgam pelo nome e pelo que acham que é, ao invés do que pelo realmente é. James jamais disse, como se supõe, que os fins justificam os meios ou que o importante é apresentar resultados, desprezando-se a ética e outros valores morais, como se poderia supor do fundador de uma escola filosófica que atende pelo nome de pragmatismo. Nem por isso James é menos americano. O estilo estadunidense começa no estilo agradável e limpo - "clean", diriam hoje - com o qual ele esboça seus pensamentos. Borges, citando Will Durant, menciona que William James fazia filosofia como quem faz literatura, enquanto seu irmão, Henry James faz literatura como se fizesse filosofia, ou seja usando uma linguagem quase obscura. Também típica do estilo americano é a tese de James, ele diz que a filosofia deve abandonar os debates vagos e condenados a serem inconclusivos para abordar questões que produzam resultados úteis. Estendendo o pensamento propõe uma nova definição de verdade - plural e concreta - segundo a qual uma coisa que produza resultados positivos é verdadeira. Aplicada, por exemplo, ao conceito de Deus, James avalia que se a idéia da existência de Deus faz com que os homens sejam melhores, mais solidários e mais sociáveis, então ela é verdadeira e séculos de discussão teológica podem ser descartados como inúteis. |
São Carlos, Sexta-feira, 25 de Fevereiro de 2000
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