Se você ainda não foi assistir ao filme Matrix, vá! Com certeza não vai se arrepender
porque ele consegue a rara proeza de manter em equilíbrio uma história forte, profunda,
um enredo razoável e as doses exatas de ação e efeitos especiais que fortalecem o
enredo ao invés de substitui-lo - erro tão comum em filmes de ficção científica.
A matriz do filme baseia-se numa idéia quase tõa antiga como a humanidade, formulada em
sua forma mais célebre pelo filósofo grego Platão. De acordo com ela, este mundo não
é real, e tudo que vemos não passam de sombras, de imagens projetadas de um outro mundo
- este sim dotado de realidade imanente.
Dos arquétipos que vivem no mundo real, o mundo das formas, nós só enxergamos os vultos
que tomamos como reais porque nossos sentidos estão habituados a imaginá-las como reais.
Para explicar idéia tão insólia de forma didática Platào utiliza o Mito da Caverna.
Ainda que bastante conhecido, vale a pena relembrar rapidamente a alegoria platônica:
Platão descreve homens que passaram toda a vida acorrentados a uma caverna com as
cebeças voltadas para o fundo e portanto só enxergando a sombra do que passa pela frente
da caverna, para estes homens a sombra seria a realidade e chamariam de gazela à sombra
da gazela, de urso à sombra do urso e se alguém lhes contasse que são apenas sombras
não acreditariam porque toda a sua vida as enxergaram como as únicas coias reais.
Ao longo do tempo este ideía conheceu as mais variadas formas, seja como paradigma
filosófico ou como dogma religioso. Adquiriu especial importância para as seitas
gnósticas que se desenvolveram ao redor do mediterrâneo e em especial na Asia Menor e
Oriente Médio. Lá serviram como uma das muitas tentativas de todas as religiões para
explicar a existência do mal - afirmando-se que este mundo não foi construído por Deus,
mas por um demiurgo inferior que baseou-se numa sombra de uma sombra de uma sombra (na
verdade a 99ª sombra segundo alguns renomados estudiosos) do mundo real.
Tal como no filme, os gnósticos esperavam pelo Libertador que iria enfim levar a
humanidade ao conhecimento da verdade, até lá a busca deste mundo real - geralmente
identificado com o Paraíso perdido das escrituras judaicas, cristãs e muçulmanas -
seria a tarefa de um pequeno grupo de devotos.
Perseguidos em alguns lugares, fechados sobre si mesmos em outros, as crenças dos
gnósticos sobreviveram num sem-número de seitas secretas das mais variadas formas e
ritos, muitas das quais existem até hoje. Em grande parte o que se convencionou chamar de
misticismo está quase semrpe diretamente relacionado à crença de Platão da existência
de uma realidade transcendente.
Bem entendido que aqui se fala do misticismo de verdade, não deste "misticismo de
boutique" da moda, que não só não é misticismo como é o seu contrário: a
superstição grotesca e anímica.
Mas, voltando ao filme, ele consegue utilizar esta crença como substrato do filme, mas
sem ser chato. O cinema americano tem este grande dom de ser entretenimento enquanto
tantos outros escondem a falta de habilidade em contar uma história por detrás de um
pretenso "hermetismo"que só pdoeria ser apreciado pelos "iniciados".
Enfim, fazem uma droga de filme impossível de ser assistido sem tédio mas que todos
elogiam porque temem parecer ignorantes se assim não o fizerem.
Uma diferença é que no filme este mundo ilusório está "materializado" como
uma criação não de um demiurgo, mas de máquinas inteligentes que dominaram e
escravizaram os homens em algum ponto do futuro. A fobia dos homens pelas máquians é um
tema recorrente do cinema e da literatura, mas em Matrix ele volta a ganahr um enfoque
original na qual os homens derrotados passaram a ser combustíveis.
Algo nisto tudo saiu meio forçado, afinal as máquinas poderiam ter esolhido retirar a
energia de vacas ou cavalos com muito menos trabalho, mas isto não desmerece o filme.
Para manter os homens sobre controle e gerar as energias necessárias os homens são
postos para dormir enquanto suas mentes vivem na Matrix, imenso universo virtual que
simula a nossa época - ápice da cultura humana antes do domínio das máquinas.
O fim quase repentino do filme dá a impressão que alguns minutos valiosos foram
cortados, mas ele é mais do que eficiente em prender a atenção do espectador ao longo
de todo o tempo. Não se chega a sair da sala com quela impressão de "e se tudo isto
estiver realmente acontecendo?" que os diretores parecme ter querido dar, mas
certamente se contou uma velha alegoria de forma agradável, sem que a profundidade do
tema tenha sido aplainada pro necessidades mercadológicas.