Desde o início da Era Industrial o homem teme ser substituído pelas máquinas. A
ficção científica aproveitou-se largamente desta fobia nas mais variadas formas, na
quase totalidade das vezes colocando as máquinas como vilões e sempre o medo como um
constante na relação do homem com as máquinas, mesmo quando não havia motivo para
isto.
Mesmo quando as máquinas não são propriamente os vilões, como nos textos de Asimov,
há um perigo sempre visto neles pelos homens. UM desses perigos é o que Asimov aponta no
final de "A Fundação e a Terra" no qual um enredo forçado tenta unir algumas
dúzias de histórias anteriores aproveitando-se do esqueleto da premiada trilogia
Fundação.
Ao final da história um robô com duas dezenas de milhares de anos de conhecimento
acumulado tenta dirigir o futuro da humanidade para o que ele acha que seria mais
conveniente em termos de futuro. E curiosamente ele é um dos "heróis" da
história.
Asimov acreditava que o principal problema dos robôs era que eles acabariam por provocar
a estagnação da sociedade humana, perdida num saudável ócio que lhes tiraria a
motivação de continuar evoluindo e se multiplicando. Por isso embora os robôs
superpovoem suas histórias referentes a um futuro mais imediato, eles estão ausentes nas
histórias que falam de um futuro mais distante. Em Fundação, situada 20 mil anos no
futuro, por exemplo não há robôs porque num determinado momento do passado eles foram
proibidos sequer de serem mencionados.
Um tema recorrente dentro deste tema recorrente é a ambição dos robôs e outras
máquinas à condição de humanidade ou - em casos extremos - de superação da
humanidade. O mito do Golem, os autômatos e outras histórias similares já enfocavam a
questão do status de um ser criado pelo homem, mas a ciência substitui o elemento
mágico da transformação a partir do Frankstein de Mary Shelley vulgarizado nas telas
sem muita preocupação com o texto original. Na verdade o livro de Shelley chamava-se Um
Prometeu Moderno e Frankstein é o nome do cientista e não do monstro, mas tudo isto são
pequenos detalhes para o senso comum e a indústria cinematográfica.
A substituição da magia pela ciência como veículo da criação da vida artificial deu
uma nova dimensão ao problema porque tornou a história mais plausível para o homem do
século XIX-XX que já não acredita mais na magia mas imagina que a ciência não tem
limites. Nem por isso a ameaça se tornou mais ou menos real porque o homem medieval
acreditava tanto na magia quanto o homem atual acredita na ciência.
Assim o pobre servo achava razoável que algumas palavras mágicas convenientemente
pronunciadas pudesse produzir seres estranhos tanto quanto o homem de hoje acha viável a
produção de um clone de si mesmo que o substitua. Como não canso de dizer a ciência
vem sendo sistematicamente rebaixada à condição de superstição pelo senso comum.
Mas a despeito de tudo isto, qual é o risco real que as máquinas substituam os homens em
algum futuro próximo ou remoto? A questão central deste processo é a possibilidade de
desenvolvimento de uma vontade própria nas máquinas a ponto delas serem capazes de
simular uma sensação tão humana quanto a ambição pelo poder.
Do ponto de vista técnico não haveria limitação a uma sociedade de máquinas suceder
à efêmera sociedade humana. As máquinas tem plenas condições não só de fazer sua
própria manutenção como de melhorarem a si mesmas, em especial como domínio de novos
recursos que em breve estarão disponíveis.
Mas uma sociedade assim não teria uma finalidade ou um objetivo e a carência deste
motivo tornaria quase impossível gerar nas máquinas a sede de poder. Todo raciocínio
cibernético é sobretudo racional, envolve uma lógica que por mais sofisticada que seja
não seria capaz de ultrapassar algumas barreiras.
Uma boa comparação seria entre as grandes corporações e as pequenas empresas. As
corporações tem imensos capitais, fenomenal acesso a recursos materiais e humanos e
executivos tão bem preparados quanto bem pagos. Mas muitas vezes perdem para pequenas
empresas de fundo de quintal, com recursos mínimos.
Uma das razões disto acontecer é que as grandes corporações tem uma aversão ao risco
que pode desestabilizar estruturas e produzir expurgos nas direções. Já as pequenas
empresas vivem em grande parte do risco, do sonho, em outras palavras: são irracionais
algumas vezes.
O homem passou boa parte dos seus séculos de civilização diferenciando-se dos animais
por ser racional. Mas são justamente as atitudes irracionais que o distinguem. O animal
dificilemtne faz algo completamente inusitado, fora de seus padrões, instintos e
experiência, só o homem é capaz de surpreender.