Universo Online
Web Sites Pessoais

Precisa de ajuda em seus trabalhos escolares? Quer ajuda na sua pesquisa bibliográfica? Sem tempo para terminar sua tarefa?

Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

se não encontrar neste artigo, procure em todo o site:

 

Seja bem vindo nosso visitante no.

Número de visitantes auditado externamente. Clique aqui para ver estatísticas.

Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos  - euideia.wmf (1622 bytes)

Resenhas de Babel:

Literatura, Cultura e assuntos afins (Atualizada diariamente)

- arquivo - PE01799A.gif (1627 bytes)

Não está encontrando?

Procure em todos os artigos:

 

A lógica do arbitrário
A  alma americana e a busca da Fórmula Social
A salvação como mercadoria
A seleção natural das religiões
As religiões como fonte da ética
O outro, o mesmo
O sociólogo dos bárbaros
O ópio dos intelectuais
Orientalismo e ocidentalismo
Oriente e Ocidente
Razões do discurso secularista e imperial
Religião, ideologia e ciência
Vinhas da esperança
Visões do outro
Fundamentalismo Islâmico e outros fundamentalismos
Sementes da Intolerância
Tecnologia x Tecnolatria

 

(em geral a classificação é arbitrária, é preferível usar a busca interna)

Quer ser informado mensalmente sobre novos artigos?

Quer ser informado mensalmente sobre novos artigos?

fale conosco: resenhas@uol.com.br

Fale conosco 

Meu ICQ: 38880420

 


Vinhas da esperança




Alexandre Gomes

Mencionei há poucos dias que um dos poucos autores norte-americanos dos quais gostava era Steinbeck, ainda que com algumas restrições, porque há diversos Steinbecks e não é fácil supor que o mesmo autor de "Ratos e Homens" "Vinhas da Ira" seja o autor de "Doce Quinta-Feira".
As "Vinhas da Ira", em especial, sempre me impressionou pela violenta crítica social de um lado, pelo experimentalismo formal de outro e principalmente por encontrar no livro tanta semelhança com a situação brasileira, embora descreva cenas americanas.
Quando li o livro pela primeira vez ainda não se falava do MST, embora o movimento já devesse existir já que está completando 20 anos. Mas as descrições que Steinbeck fez em 1939 dos acampamentos de agricultores migrantes que iam do meio-oeste - onde os bancos produziram multidões de Sem-terra - até a Califórnia, certamente também descreveriam com perfeição um acampamento do MST.
Quando li de imediato estabeleci a semelhança entre a saga dos Okies - nome pejorativo pelo qual os migrantes eram chamados, fossem de Oklhoma ou de outro estado do Meio-oeste - e a dos migrantes nordestinos.
Há até mesmo uma passagem curiosamente similar ao brasileiríssimo O Quinze de Rachel de Queiroz, no qual um dos migrantes faz o percurso de volta alertando os migrantes que o paraíso prometido não existe, mas não consegue ser ouvido porque todos o imaginam como um vagabundo.
O enredo básico da história narra a jornada dos Joad, agricultores falidos de Oklahoma que depois de perder as terras iniciam uma longa jornada até a Califórnia, pintada como uma terra de prosperidade aonde um homem que não tema o trabalho é capaz de ganahr altos salários na colheita de frutas e, se souber poupar, até conseguir ter sua prórpia terra.
Como eles milhares de oturos agricultores falidos buscam o oeste cruzando estradas sem fim e desertos terríveis em velhos calhambeques. O autor alterna três histórias que se sucedem em capítulos, como se houvesse três livros em um único, recurso experimental que já havia sido usado no Admirável Mundo Novo e no ultra-experimental 1919 de John dos Passos.
O primeiro capítulo de cada três fala da Família Joad, o segundo faz quase que um ensaio teórico sobre o tema abordado no capítulo anterior e o terceiro conta a mesma história com personagens anônimos, demonstrando que os Joads eram apenas um caso.
A festejada versão para o cinema, que se tornou um clássico, é muito inferior ao original não só por abreviar significativamente a história - quase que só falando da viagem em si - como por perder este caráter tripartite do livro.
Steinbeck não se limita a descrever a viagem, fala da gestaçõa de um mundo próprio que aos poucos vai criando suas leis. Fala de um mundo onde a miséria não afastou a dignidade e ainda fez brotar a solidariedade extrema. Solidariedade, por sinal, é a grande mensagem do livro, por mais sombrias que sejam as cenas descritas nelas acaba por estar configurada a esperança, e é a solidariedade que dá esta esperança.
Difícil imaginar um livro tão anti-americano quanto "Vinhas da Ira", um livro que retrata a miséria, denuncia com violência a exploração, fala da esperança na união da coletividade ao invés de exaltar o individualismo. Certamente há mais do que se apelidou de realismo socialista em Steinbeck do que em duas dúzias dos escritores soviéticos da mesma época para os quais realismo socialista era louvar Stalin e a nova sociedade inspirada por ele.
Curioso é que Steinbeck jamais foi demonificado nos Estados Unidos, "Vinhas da Ira" não só ganhou prêmios, como o Politzer, como foi um sucesso de público e um ano depois de lançado já era transposto para o cinema não por algum diretor experimental, mas pelo consagrado John Ford.
Algum contemporâneo dele que ousasse ser tão anti-soviético quanto ele foi anti-americano dificilmente sobreviveria no Império de Stalin. Mais do que fazer uma crítica social o autor demole os pressupostos da ideologia americana, ainda hoje tão arraigados, coisa que seria inadmissível naquela que se dizia a pátria do Realismo Socialista, onde rpedominavam os romances burocráticos.

Alexandre Gomes é editor do PRIMEIRA PÁGINA



Artigos Anteriores

 


 

São Carlos, Terça-feira, 29 de Fevereiro de 2000

1