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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

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O ópio dos intelectuais




Alexandre Gomes

Um levantamento dos livros mais influentes do século, realizado por editores ingleses, apresentou uma série de surpresas. Há algumas omissões questionáveis como Admirável Mundo Novo de Huxley, alguns livros óbvios como o "Em Busca do Tempo Perdido" de Proust e "A Interpretação dos Sonhos" de Freud, mas há sobretudo uma grande surpresa, "A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo", de Max Weber.
Não seria de se admirar se a comunidade acadêmica da área de Ciências Sociais brasileira fizesse protestos à inclusão, tão difamado costuma ser o livro em tantos cursos por aí. Cursos que aprecem ter sido estruturados para confirmar a frase de Raymond Aron, um weberiano por sinal, que "o marxismo é o ópio dos intelectuais".
O texto clássico de Weber é tão criticado como pouco lido e ainda menos entendido. Corre o boato, largamente difundido, que o texto é uma resposta à Teoria Marxista e ao materialismo histórico no qual seria os fatores culturais, ideológicos que determinam o caráter da sociedade. Weber jamais disse isto, como poderiam atestar os marxistas se tivessem lido o texto.
O que Weber diz na verdade, grosso modo porque sua conceituação não pode ser facilmente resumida, é que as doutrinas religiosas criam uma determinada ética emanada delas e esta ética interage com o meio econômico - assim como com o político e o social, mas primordialmente o econômico - em alguns casos estimulando-o, em outros inibindo-o. Neste sentido, a doutrina tem um papel interativo, mas independente e em alguns momentos primordial, numa determinada transformação social.
No livro em questão, a tese essencial de Weber, também aqui mutilada pela simplificação, é que os valores protestantes de parcimônia, de valorização da circulação da riqueza em vez do seu entesouramento, de valorização do trabalho, entre outros, favoreceu o desenvolvimento do capitalismo (e não o aparecimento, note-se esta distinção sutil mas essencial) nos países protestantes e o inibiu nas nações católicas como Portugal, Espanha e França. Certamente o trecho causa revolta tanto a marxistas como a católicos, numa curiosa reedição de uma Santa Aliança...
Analise-se então o que os marxistas consideram um hipotético contraponto à tese Weberiana. Segundo eles os princípios católicos faziam parte da superestrutura ideológica do sistema feudal, com o surgimento do capitalismo a nascente burguesia precisava lutar pelo controle da estrutura econômica e consequentemente mudar a superestrutura ideológica. A Reforma Protestante, foi, portanto uma expressão, um disfarce, de uma luta que era econômica ou no máximo política, voltada em especial para a legitimação da cobrança de juros, proibida pela Igreja.
Surge de imediato um vácuo, o fato de não obstante tal constatação, os países católicos tornaram-se capitalistas. E que não se alegue a Contra-Reforma para refutar isto, porque esta não fez nenhuma adaptação "capitalista" na doutrina católica, mas antes pregou uma volta aos velhos valores medievais. A reação católica não foi a de se modernizar, como seria de se supor pela tese marxista, mas sim de tornar reais e concretos os valores morais que ela pregava mas que eram hipocritamente violados.
Nas mãos de Marx, intelectual brilhante, dedicado, criativo, culto, sua teoria era uma coisa, ele próprio estava consciente que ela era uma abstração da realidade, um modelo teórico a ser constantemente aprimorado. Não obstante os seus preconceitos e idiossincrasias - típicos da sua época - ele deu grandes contribuiçÕes ao conhecimento do homem e da sociedade. Já aqueles que se chamam marxistas - termo que Marx por sinal ironizava - em geral usam a teoria de Marx como uma desculpa para não ter de pensar mais profundamente.
O que em Marx era uma teoria fortemente criativa e inovadora, na imensa maioria dos marxistas é um modelo grosseiro e simples para explicar da realidade, tratando tudo que não pode ser explicado de forma satisfatória como irrelevante. Com isto sequer conseguem apreender toda a riqueza do próprio Marx.
Ao contrário de Marx, inclusive, pouco se preocupam em conhecer qualquer interpretaçào alternativa da realidade ou se debruçam num esforço sério de entender e criticar estas outras interpretações. Weber é um caso exemplar, assim como Durkheim, de autor que apesar de toda a sua relevância é pouco lido, refutado pelo que alguém achou que ele dizia ao invés do que pelo ele mesmo disse.
É evidente que o marxismo - ao contrário do que dizem seus detratores, eles próprios culpados do mesmo pecado de criticar pelo que acham que Marx disse ou pelo que os marxistóides disseram - ainda tem um grandioso e fundamental papel como ferramenta de compreensão da realidade econômica, social e política. Mas esta contribuição é tolhida porque de perspectiva científica o marxismo vai se tornando uma superstição, um preconceito, uma doutrina religiosa, que faz fenecer todo o seu potencial criativo e revolucionário.

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São Carlos, Terça-feira, 29 de Fevereiro de 2000

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