"Chamamos aristocratas a todos que vivem ociosos das rendas de seus enormes feudos,
sem ter de trabalhar. Esses senhores trazem a desordem a toda república" (Maquiavel,
O Príncipe)
Elite transformou-se recentemente numa palavra de sentido pejorativo, deixou de significar
o conjunto dos melhores de alguma área para simbolizar uma camarilha corrupta que oprime
os demais. Curioso que o termo original referia-se sobre tudo à elite intelectual, depois
passou à nobreza e finalmente rotulou aqueles que detém o controle da política e da
economia.
Pensando bem não é estranho que o termo tenha chegado a tal significado no Brasil,
afinal aqui nunca tivemos uma elite cultural, apenas uma elite econômica e política da
pior espécie. Lobato diz em um de seus artigos que caso se reunisse a nata da sociedade
de seu tempo e aos barões do café fosse dada a opção de trabalhar duro na roça ou ler
um livro a imensa maioria, senão a totalidade, preferiria colocar as mãos na enxada, tal
a aversão pela cultura.
Um dos lugares comuns mais ouvidos por aí é que as classes dominantes não querem que o
povo aprenda e por isso não fornece educaçõa de qualidade. Particularmente creio que é
uma bobagem, mais uma teoria conspiratória de terceira categoria que ganhou a graça do
senso-comum. Como já disse em diversos artigos anteriores a educação tem a finalidade
de moldar os espíritos às conveniências e não de libertá-los.
Mas o que discuto aqui é outra coisa, não trato da educação e cultura do comum do
povo, mas sim da própria elite. Não é estranho que o povo assista programas de TV de
baixa qualidade porque isto acontece em todo mundo. O que me espanta é que esses mesmos
programas façam parte também do cotidiano da chamada elite.
Esta democratização do mau gosto revela um país no qual a cultura não significa nada.
Daí florescerem de um lado os operários da indústria cultural que produzem quantidades
crescentes de lixo disfarçados de livros, filmes, músicas e de outro os mistificadores
que se aproveitando da ignorância generalizada produzem porcarias disfarçadas de obras
de vanguarda.
Mas esta é uma afirmação perigosa porque se um país fosse capaz de sobreviver sem
produção cultural autêntica isto demonstraria que a cultura não é assim tão
importante. É preciso ver que se houvesse vida inteligente no páis o Brasil seria outro,
não seria um valhacouto de picaretas no qual os valores humanos não significam
absolutamente nada.
Também é por isso que o Brasil é um país que não tem história, como já foi dito por
um autor romano a vida é breve e a arte longa. Nosso passado é pobre e insosso
justamente porque não se teve uma elite capaz de produzir grandes marcos que sinalizassem
à posteridade os rumos a serem seguidos.
A própria formação universitária no Brasil sempre esteve contaminada por um
bacharelismo estéril no qual o que se aprende significa pouco ou nada e o que se busca
realmente na escola não é o conhecimento, mas o certificado. Este vício está em grande
parte na raiz de todos os problemas educacionais do país e vem sendo agravado com a
crescente exigência de escolaridade que vem sendo feita pelas emrpesas.
Este câncer mata a vida intelectual do Brasil, cria até um certo desprezo pelo
conhecimento. O improtante não é o que se sabe, mas o número de certificados que se
tem. Cansei de ver pessoas "certificadas" que muito pouco conheciam de sua área
e certamente algum escasso leitor que me leia também pode lembrar muitos destes exemplos.
Para agravar a situação as escolas do 1º Grau à pós-graduação criou-se uma cultura
de relaxamento dos padrões de seleção, talvez porque as instituições descobriram que
sua função não era ensinar, mas emitir certificados.
Enquanto esta visão não for superada não haverá vida cultural de fato no país,
tampouco se resolverá os problemas da educação. Teremos de continuar a ter apenas uma
elite economica e política, mas nòa uma elite cultural.