"A imprensa exalta o know-how americano desde que tivemos a desgraça de inventar a
bomba atômica. Há no entanto qualidade mais importante e mais rara: o saber-para-que. É
o Know-for-what que permite que seja determiando não paenas os meios de atingir nossos
objetivos, mas também quais devem ser estes objetivos" ( Norbert Wiener,
Cybernétique et Société)
Disse rapitadamente ontem que não acredito que as máquinas sejam capazes de substituir
os seres humanos. Acho que o risco real não é este, mas outro: o de sermos governados
por homens que pensam como máquinas, ou quem sabe, pensam que são máquinas.
A ciência transformada em superstição, chamada por Garaudy de
"cientificismo", perde sua vitalidade e se torna um raciocínio limitado. No
limite acaba impondo aos homens aquele mesmo tipo de raciocínio lógico e racional pobre,
limitado, binário, que apontei ontem como a grande limitação da máquina.
Se, como foi dito antes, uma sociedade dominada por máquinas seria uma sociedade que
tenderia a se estagnar porque nunca romperia com os paradigmas que a geraram - não
importando quão sofisticada seja sua Inteligência Artificial - o mesmo seria válido se
pensarmos em uma sociedade na qual os homens - em especial os dotados de poder de decisão
- passaram a pensar como as máquinas.
A questão chave para Garaudy, extremamente preocupado com o tecnocratismo antes mesmo
dele ser um problema sério, é que se dissociou o conhecimento da sabedoria. Pensa-se nos
meios e esquece-se de refletir sobre os fins é a grande mensagem de Garaudy.
A informática oferece um excelente exemplo deste processo. Digo de cara que sou um
entusiasta da informática desde o tempo dos velhos MSX, Spectrums e similares e me sinto
perfeitamente a vontade com computadores, internet e coisas do tipo e no meu computador
podem ser encotnrados semrpe as últimas versões dos softwares que uso, portanto não se
trata de uma opinião de um ressentido.
A informática é essencialmente um meio, mas é tratada como um fim. Quando uma emrpesa
decide se informatizar ela simplesmente resolve quais computadores vai comprar e quanto
isto vai custar, e em geral adquire o "grito da moda"de hardware e software.
Depois disto boa parte delas se considera "informatizada". Uma ou outra mais
séria se rpeocupa em incluir no pacote um treinamento básico para funcionários para os
programas mais utilizados e apresenta isto como se fosse uma grnade coisa e não como um
passo óbvio.
E então chega-se a hora de colocar alguns modems e conectar a emrpesa à Internet
colocando "toda a informação do mundo ao alcance dos funcionários". Pouco
importa que raramente eles saibam como chegar até ela ou, na melhor das hipóteses, o que
fazer com esta informação para melhorar a si próprios e às empresas.
Esta cena diariamente repetida em cada vez mais empresas simplesmente deixa de lado o
essencial de todo o processo. Antes de consultar revendedores de soft e hardware, que
fornecerão nos meios, o dono da emrpesa precisaria ter refletido sobre os fins. O que
significa isto?
A primeira pergunta seria: porque informatizar?
As respostas, quando se pensou na pergunta, o que já é um caso raro, seria "para
aumentar a eficiência da emrpesa". Alguns gráficos até poderiam ilustrar este
ganho de produtividade, mas a resposta mais sincera na imensa maioria dos casos seria:
"para mostrar aos nossos clientes que a empresa é moderna" ou "porque tudo
mundo está fazendo isto".
Vejo cotidianamente em escritórios de amigos que muitas vezes aquele computador de
última geraçõa colocado sobre a mesa é pouco mais que um símbolo de adesão à
modernidade. Ele cumpre a mesma função que há algumas décadas cumpria o altar na casa
ou local de trabalho das pessoas devotas. Um simbolizava a adesão formal e solene à fé
católica, o outro simboliza a crença na fé da modernidade.
Do ponto de vista funcional aquele computador é pouco mais do que um substituto muito
complicado - e mais caro - de uma máquina de escrever. De todos os fantásticos recursos
colocados lá pelos programadores apenas uma parte infinitesimal é aproveitada. Como se
utiliza apenas o feijão-com-arroz do menu a sucessiva atualização de software - e
consequentemente o aumento das exigências de hardware - são vistas pelos pobres
funcionários como um encargo a mais, como um símbolo da opressão do computador.
Um exemplo tão concreto como comum. O processador de textos do Word for Windows 2.0
cumpre todas funções básicas que a imensa maioria dos usuários demanda. Mas depois
dele já vieram 3 outras versões (6.0, 95, 97 e agora a 98). Quem utiliza o computador
como máquina de escrever não ganhou praticamente nada com as mudanças, mas teve de
esquecer tudo que já havia aprendido sobre a versão anterior para aprender uma nova.