07. Nov 00 by J-A © Portosom
A história do Zé Passarinho
(Música: João Gil)
(Letra: João Monge)
Pala saída que tem
Da vadiagem alguém
Chamou-lhe o Zé Passarinho
Fala em verso e as mulheres
Ao fim de duas colheres
Leva-as no bico p'ró ninho
Sabe os fados do Alfredo
Rima que até mete medo
Nesta função é doutor
Tem os tiques de fadista
Mão no bolso, lenço e risca
"Baixem a luz por favor!"
Uma triste noite ao frio
Cantava-se ao desafio
Para aquecer as paixões
Quando um estranho se levanta
Para mostrar como se canta
Faz-se à Rosa dos Limões
O povo ficou sentido
Com aquele destemido
... morrer engasgado!
Palavra puxa palavra
Desata tudo à estalada
Com o posto ali ao lado
Nem foi preciso a carrinha
Tudo na sua perninha
Numa linda procissão
Das perguntas com carinho
Ficou preso o Passarinho
Só para investigação
Nasce o dia atrás da Sé
E ninguém arreda pé
Nem por dó, nem por esmola
O povo ficou sentado
Para ouvir cantar o fado
Passarinho na gaiola
07. Nov 00 by J-A © Portosom
A
Menina e os valetes
(Música: Manuel Paulo)
(Letra: João Monge)
Vinham do fundo da noite
Vinham de trás do luar
Em cavalinhos com asas
Vinham para te matar
Em formação dois a dois
Uns de luto carregado
E logo atrás outros dois
Do mais brilhante encarnado
E tu fugias, fugias
Da sombra deles no chão
De capa ao vento pareciam
Muito maiores do que são
Um queria o mealheiro
Outro o teu coração
Com paus o mais desordeiro
De espada o maior vilão
No fim do bosque uma luz
Que até parece dizer
Corre, corre menina
Nunca pares de correr
Era a tua salvação
O poço da eternidade
Lá não caem os bandidos
Por não haver gravidade
No meio de estrelas te lanças
Numa espiral de algodão
Os valentes são lembranças
D'uma outra dimensão
De mansinho vais pousando
Ao som de uma voz que chama
É a tua mãe chamando
À beira da tua cama
07. Nov 00 by J-A © Portosom
Há dias em que mais
vale...
(Música: Manuel Paulo)
(Letra: João Monge)
Há dias
Em que não cabes na pele
Com que andas
Parece comprada em segunda mão
Um pouco curta nas mangas
Há dias
Em que cada passo e mais um
Castigo de Deus
Parece
Que os sapatos que vês
Enfiados nos pés
Nem sequer são os teus
A noite voltas a casa
Ao porto seguro
E p'ra sarar mais esta corrida
Vais lamber a ferida
Para o canto mais escuro
Já vi
Há dias em que tu
não cabes em ti
Avança
Na cara desse torpor
Que te perde e te seduz
A espada como a um Matador
Com o gesto maior
Do seu peito Andaluz
Avança
Com a raiva que sentes
Quando rangem os dentes
Ao peso da cruz
Enfim,
Há dias em que eu
Também estou assim
Parece que pagamos os
Pecados deste mundo
Amarrados aos remos de um
Barco que está no fundo.
07. Nov 00 by J-A © Portosom
(Música: João Gil)
(Letra: João Monge)
Parava no café quando eu lá estava
na voz tinha o talento dos pedintes
entre um cigarro e outro lá cravava a bica
ao melhor dos seus ouvintes
As mãos e o olhar da mesma cor
cinzenta como a roupa que trazia
num gesto que podia ser do amor, sorria
e ao partir agradecia
São os loucos de Lisboa
que nos fazem duvidar
a Terra gia ao contrário
e os rios nascem no mar
Um dia numa sala do quarteto
passou um filme lá do hospital
onde o esquecido filmado no gheto, entrava
como artista principal
Comprámos a entrada p'ra sessão
p'ra ver tal personagem no ecrã
o rosto maltratado era a razão de ele
não aparecer pela manhã
São os loucos de Lisboa
que nos fazem duvidar
a Terra gia ao contrário
e os rios nascem no mar
Mudámos muita vez de calendário
como o café mudou de freguesia
deixámos de tributo a quem lá pára, um louco
a fazer-lhes companhia
É sempre a mesma história o mesmo olhar
de quem não mede os dias que vagueiam
sentado lá continuava a cravar beijinhos
ás meninas que passeiam
São os loucos de Lisboa
que nos fazem duvidar
a Terra gira ao contrário
e os rios nascem no mar.
07. Nov 00 by J-A © Portosom
O
cantor de serviço
(Música: Manuel Paulo)
(Letra: João Monge)
Vêm de veludo encarnado
No andar um mistério qualquer
Nem discreto, nem ousado
O rosto bem aparado
Com sapatos de mulher
Tudo é fogo, tudo é mar
Quando as luzes mudam de cor
Tudo cabe no mesmo lugar
Sortilégios do cantor
Podem pedir canções
Eu faço por cantar
Escolham as ilusões
Nada mais posso dar
Sobem de tom as cantigas
A orquestra por trás a puxar
São as grandes avenidas
Onde se vive outras vidas
A navegar, a navegar
Tudo é sagrado e profano
Esta noite o encontro é total
Neste palco, mano a mano
Até ao compasso final
Podem pedir canções
Eu faço por cantar
Escolham as ilusões
Nada mais posso dar
07. Nov 00 by J-A © Portosom
O
troca pingas
(Música: Manuel Paulo)
(Letra: João Monge)
Ao petisco era branquinho
(tinha as suas opções)
Tinto as outras refeições
Agora anda mais liberto
Porque só bebe palheto
Tinha as suas opções
Ia sempre a Almameda
Apoiar o Sindicato.
Agora anda de fato,
Que esta vida não comporta
Bandeiras atrás da porta
Apoiar o Sindicato
Diz que agora esta melhor
Arranjou um bom emprego
Já não tem nada no prego
E pensa tirar até
Um curso da CEE.
Arranjou um bom emprego.
Se há gente que anda com galo
E não ganha p'ro bitoque
Pode ser que não lhe toque
"- Deus e pai e não se esquece
Quem não luta não merece
E não ganha p'ro bitoque!"
Antes tinha um capacete
Pejado de autocolantes
Mas isso... era dantes.
Agora tem outros usos,
Um carro pago aos soluços
Pejado de autocolantes
Vai deixar-se de palheto
E passar a laranjada,
A tasca vai ser mudada
Para servir em pratinhos
Com saladas e bolinhos
E passar a laranjada.
07. Nov 00 by J-A © Portosom
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