O presente relatório é fruto do trabalho desenvolvido no município de Cel. João Sá-Ba, pela equipe da Universidade Federal do Ceará como parte do Programa Universidade Solidária. Descreve, portanto, as ações realizadas pela equipe da Universidade Federal do Ceará-UFC no referido município em janeiro e fevereiro de 1996.
Optamos pela realização de um relatório único por entender que as experiências pessoais são indissociáveis da experiência do grupo. Aliás, desde a concepção de nosso plano de ação, por ocasião da capacitação em Fortaleza, entendemos que só um trabalho em grupo faria sentido. Isto, levando-se em consideração os objetivos a que nos propúnhamos, quais sejam, principalmente, o do trabalho comprometido com o coletivo e do caráter de multidisciplinariedade do mesmo.
A partir da avaliação dos objetivos desejados pelo projeto, esta equipe entendeu que a metodologia proposta não era adequada à realidade de Cel. João Sá ou aos demais municípios do Nordeste, com uma linguagem muitas vezes urbana e outras caricata dos problemas, portanto não acessível. Tendo em vista o espaço aberto pelo Projeto às universidades e seguindo as orientações recebidas durante o treinamento, optou-se pela construção da consciência crítica, respeito ao conhecimento popular e não ao assistencialismo.
O primeiro passo a ser dado em direção a esse processo de construção coletiva da cidadania centrava-se no diagnóstico da realidade local, pois só conhecendo de perto, não somente as carências da comunidade, mas principalmente seu imaginário e seu grau de organização política, poderia-se caminhar para o passo seguinte do despertar da consciência organizativa. Entretanto, esse diagnóstico precisava ser feito a partir da identidade econômico-socio-cultural e esse foi o ponto de ação desta equipe.
A metodologia escolhida pelo grupo parte da premissa que não se apreende um conhecimento e não se adquire consciência a partir de um discurso unilateral, levados por agentes externos e estranhos, mas a partir da vivência de práticas. A inserção dos agentes do Projeto Universidade Solidária no município de Cel. João Sá implicou em trocas necessárias à melhoria do coletivo e à identificação de novos significados e noções de si mesmo, apropriado à construção do sujeito consciente, comprometido e solidário, tendo como resultado, um trabalho de parceria.
Nossa ação fundamentou-se na seqüência metodológica da pesquisa participante, onde a convivência objetiva e inter-objetiva e a interação da equipe junto aos moradores possibilitou a apreensão da realidade local, seguida de uma análise sistematizadora que objetivou despertar a capacidade organizacional da comunidade.
Numa primeira fase, apresentava-se o projeto à comunidade e fazia-se então o diagnóstico. A equipe realizava essa etapa através de encontros com os mais variados setores locais, usando uma linguagem simples e incorporando hábitos e costumes próprios a fim de que a inserção fosse feita juntamente com a descoberta da estrutura social e cultural, usando, para isso, dinâmicas de grupo, dramatizações, vivências em biodança e músicas O passo seguinte era a análise crítica de tais problemas. Nessa etapa foi fundamental a participação da comunidade, pois essa é possuidora de um saber que, embora não sistematizado, é rico e precioso, pois refere-se à história de vida dessa população . Além disso, é passível de ser sistematizado pelo conhecimento científico. O reconhecimento desse saber popular veio facilitar a inserção da equipe junto à comunidade.
Quando falamos em troca de saberes sentimos a necessidade de ressaltar um
aspecto importantíssimo de nosso trabalho que foi o caráter de
multidisciplinaridade. Este conceito não só diz respeito à presença de
universitários de diversas áreas e cursos - fundamental para o enriquecimento
do trabalho coletivo- mas também de uma prática adotada pela equipe diante
dessa pluralidade de saberes, e que segue as linhas básicas de três
conceitos :
Educação popular,
Psicologia Comunitária e Biodança.