Tatibitate

Gilberto Gomes Pereira

Não. Meu coração não é maior que o mundo. É infinitamente pequeno. O coração de um átomo, que oscila nas fronteiras do infinito, se debatendo nas grades da eterna incompreensão humana. Ele não é mais vasto que o mundo, porque se o fosse eu falaria todas as línguas. É nas línguas que se encontra a organização do pensamento. As línguas a gente as sabe de cor e as transforma com o coração. Esse "comboio de cordas" pode até envolver o todo, mas somente os signos o retêm.

Sendo enorme meu coração, eu entenderia, então, o desprezo dos indogermânicos pelos negros, o ódio dos islâmicos pelos ocidentais, a inquietude dos judeus, o desespero dos palestinos e a indiferença de todos pelos curdos. Talvez já tivesse morrido de banzo, com saudade da África, ou de compaixão, por vê-la sofrer, desfeita, aniquilada, cheia de ódio.

Se meu coração fosse vasto, eu diria para um chinês, em fluência poética, como cada ramo da língua chinesa o é, "compreendo tua dor". Seria capaz de entender a essência do budismo e de fazer, em japonês, haikai em homenagem aos kamikaze que volitam na eternidade com a força do sopro divino. Eu poderia dizer que a lua não passa de coadjuvante, que sua beleza é impostora, que sua altivez noturna não passa de um descuido de inspiração.

Se meu coração fosse maior que o mundo, eu seria complacente com a imbecilidade americana e seu efeito global. Leria com prazer "As bucólicas" de Virgílio, em latim, e não seria preconceituoso, nem arrogante. Eu estaria sofrendo com os Caiapó, vivendo com os Karajá, morrendo com os Yanomami.

Mas, meu coração é raquítico, ínfimo, pois me debato para abarcar pelo menos os ecos da cultura brasileira que ressoam em mim, pelo meu parco português, e me perco entre a insaciabilidade e a inépcia. Faço um esforço, repenso o Mundo. Ainda perdido na imensidão "desses espaços infinitos" me lembro de Machado de Assis, Guimarães Rosa, João Ubaldo Ribeiro, Nélida Piñon. Nesse esforço d'alma, uma gota de suor se transforma em lágrima e inunda meu coração.

Gilberto Gomes Pereira é estudante do 3o. ano de jornalismo da UFG.

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