Leio, não sem surpresa, que cientistas anunciam um clone humano para daqui a dois anos.
Como já foi dito antes, a ciência separou-se de vez da sabedoria e a sociedade,
hipnotizada pela magia do cientificismo, separou de vez a descoberta dos meios da
reflexão sobre os fins.
A qualquer tentativa de se fazer esta reflexão a ciência, e ainda mais o cientificismo -
a ciência transformada em superstição - reagem com gritos histéricos de
"obscurantistas e inquisidores". De uma forma geral consideram-se eles acima e
fora da sociedade e imaginam que refletir sobre as consequências de seus experimentos
seria uma aberração.
Mesmo assim é necessário refletir sobre isto. A clonagem de seres humanos é uma ameaça
séria demais para não merecer que se enfrente a inquisição cientificista. Os riscos
são vários, há o risco óbvio de se aniquilar a diversidade genética da humanidade,
tornando-a mais suscetível a uma epidemia ou a alguma doença genética.
Quanto se conhece ainda sobre os genes? É algo difícil de responder, mas pode ser
suficiente dizer que entre um homem e um chimpansé há menos de 0,5% de diferença. Entre
um ser humano e outro esta diferença é ainda mais ínfima, por mais diferenças que eles
tenham, revelando que todos os homens surgiram de um pequeno grupo de primatas bem
sucedidos.
Esta pequena margem de diferença é importante porque ela derruba um dos mitos centrais
do cientificismo segundo o qual ocorre uma evolução permanente e linear no mundo. A
própria ciência já tratou de demonstrar o quanto isto é falso e quanto de acaso está
presente na chamada evolução.
Mas o senso comum ainda não absorveu por completo estes conceitos de multilinearidade e
acaso que permeiam a evolução e continua imaginando o progresso como uma estrada sem
encruzilhadas nem trombadas. Um bom exemplo é o dos dinossauros. Teste seus
conhecimentos: "os dinossauros se extinguiram porque entraram em um "beco
evolucionário" que os transformou em seres grandes demais para conseguir sobreviver,
tornando-se ineficientes, certo?".
Talvez o leitor ficará surpreso em saber que a resposta acima, ensinada nos livros
didáticos, provavelmente está errada. Diversas pesquisas recentes tem formulado teorias
consistentes segundo as quais a extinção dos dinossauros foi provocada pelo choque de um
meteorito ou cometa de grandes proporções na Terra, tornando o ambiente impróprio. Os
argumentos a respeito disto são convincentes, mas extrapola os objetivos deste artigo
apresentá-los.
Esta hipótese de trabalho levantaria a seguinte pergunta, pois bem, se o meteorito não
tivesse se chocado com a Terra, será que o mundo ainda seria dominado pelos dinossauros?
Será que o homem teria surgido? Vale lembrar que os dinossauros dominaram a terra por
dezenas de bilhões de anos, enquanto o ser humano ainda não completou 100 mil anos de
existência e 10 mil de civilização.
Voltando à diversidade genética, a pesquisa na área tem demonstrado que ao invés de
sermos no nosso passado ante-pré-histórico uma espécie bem sucedida fomos um fiasco à
beira da extinção. Dos muitos grupos de humanóides que surgiram apenas um pequeno bando
(Adão e Eva?) conseguiu sobreviver e gerar descendentes que hoje enchem o planeta. A
fraternidade dos seres humanos não é uma mera ficção ideológica ou teológica, mas um
conceito real.
Reduzir ainda mais esta diversidade é um ponto perigoso, mas que fatalmente ocorrerá
quando a manipulação genética e a clonagem se tornarem tecnologias mais corriqueiras, o
que pode ocorrer daqui há um século, uma década ou no ano que vem!
É de um louco, o Unabomber - cientista brilhante transformado em terrorista pela
paranóia do progresso - que vem uma das advertências mais sérias em relação à
clonagem. Ele diz que a produção de "super-orgãos" por clonagem será uma
vantagem competitiva do ser humano e que por isso logo se tornará não mais opcional, mas
compulsória.
As vantagens que a clonagem e a manipulação genética produzem, diz ele, serão de
início utilizada por alguns. Estes terão tal vantagem sobre os demais que logo também
aderirão aos novos mecanismos. Por fim a situação será tal que a desvantagem do
cidadão não-turbinado pela genética será tal que ele será obrigado a recorrer a estes
recursos.
Em meio a sua paranóia o Unabomber apresenta exemplos consistentes deste processo com as
máquinas, a eletricidade e até mesmo os computadores que em breve se tornarào
acessórios indispensáveis ao ser humano.