1
- Quando tudo acabar, poeesia de Olavo Palaoro Jr.
2 - Versos Livres, poesia dde Priscilla Damasceno
3
- Caminho de Casa, poesia de Fabbrício Cesar de Oliveira
O desconcerto do mundo, o sentimento de que os descaminhos da vida fazem parte de uma lógica natural, revelam um pessimismo que quer na verdade se contradizer e afirmar o cenário desolador como sendo uma composição absurda. Esta poesia de um jovem estudante denuncia uma realidade imprópria e perversa através de uma metáfora da capitulação. Sob a descrição do colapso das coisas corre o vigor e não o esgotamento, porém, emerge também a preocupação com determinados rumos civilizatórios: "Quando a flor não for mais flor", expressa certo receio pelo descuido e irresponsabilidade das rupturas com a Natureza, desejo que a humanidade em certos momentos manifesta. A frieza e a secura do curso da vida, sucumbindo no estio, projeta um conceito de que é realmente o homem quem se torna mais áspero e indiferente. Mas a vida renasce... |
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Será que literatura é apenas o que expressa a vontade formal dos professores de literatura, dos críticos e dos próprios escritores? Ou a do público erudito e sofisticado que se coloca no centro de um sistema literário? As únicas concepções estéticas que se pode aceitar como sendo próprias de um texto "autenticamente" literário são aquelas reunidas pelo brilho intelectual dos literatos? Será o mercado editorial o detentor do "selo" de validade literária? Tudo mais será mera "pirataria" das manifestações literárias de uma sociedade? Será que a densidade, codificação e alegoria de uma criação literária está limitada à depuração de sentidos dos estudiosos, especialistas e diletantes mais exigentes? Todos os outros registros e formas literárias devem ser desprezados? A sensibilidade diferenciada das classes sociais não pode ser levada em conta? O que é Arte e Literatura para um grupo de pessoas, deve ser necessariamente estendido para todos os grupos de pessoas? A escala de valores é homogênea para todas as comunidades? O mesmo texto teria importância e significações iguais para todas as configurações culturais? O mesmo texto considerado sem valor e sem estética literária para certas classes sociais não poderia adquirir valor e revelar senso estético para a realidade, os padrões e o contexto de outras classes? Para uma sociedade como a brasileira, que a passos lentos e penosos tenta aperfeiçoar sua experiência democrática, libertando-se de séculos de cultura preconceituosa e elitizada, a exclusão das formas artísticas populares do rol das expressões artísticas "aceitas" e "válidas" tende a minguar gradativamente.O vínculo automático que tradicionalmente se faz nos círculos intelectuais e artísticos, vinculando o gosto popular ao "mau gosto", à ingenuidade e crueza existencial, e à "pobreza de concepção" igualmente se esvazia, diante do avanço de uma consciência não linear, fortalecida pelo reconhecimento de outros pontos de vista, de outras condições de existência, de outras existências, além daquelas que se reconhece nas classes sociais mais próximas. Versos Livres tange as cordas desse debate artístico com uma metalinguagem simples e clara. A poesia de Priscilla Damasceno se oferece para o público, como uma proposta literária. Os literatos podem rejeitar a simplicidade, a falta de "imagens geniais" e de um trabalho exaustivo burilando os versos. Mas o fato é que a maioria absoluta da população brasileira não tem espaço, meio ou tempo para cumprir os rituais sagrados da excelência literária. Mesmo assim, quer escutar a si própria, e não a poesias distantes, expostas em vitrines bem guardadas e lapidadas, como jóias preciosas, e caras. As condições de criação e de fruição se assemelham na arte popular, e a rusticidade dessa poesia não advém da falta de recursos literários. Ela é um sinal estético de reconhecimento dessas comunidades. A população se reconhece nesses textos, de um modo elaborado, portanto, eles têm valor e adquirem importância. Eles se tornam Literatura, embora não o sejam para a percepção um tanto esnobe das classes sociais privilegiadas. |
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Cabrera Infante ensinou aos caminhantes, nós, que não há um destino final, mas apenas o caminho. O ponto final é a própria estrada, o destino é o caminhar. Todavia, quando voltamos para casa, a chama queima mais forte, como um retorno. A vida, porém, não fez a volta. O velhinho na beira da calçada, passando o domingo na frente de casa, vendo a "banda passar" e rindo-se da ansiedade e das expectativas dos mais moços , poderia ser o próprio Infante, conversando com o Fabrício. Por via das dúvidas, o Zig (Fabrício) agradece. No aspecto da forma o Fabrício tem um projeto de experimentalismo, proposta que demanda muita prática e muito estudo. Só amadurece com o passar dos anos e com o não passar da persistência. Se bem trabalhada, a postura inovadora pode chegar a estilos interessantes e originais. |