A Caixa

Carina Dourado Rodrigues

Enquanto a mão da garota ainda acariciava o rosto cansado e envelhecido do pai, seus olhos continuavam fixos na grande caixa que havia em sua frente. Esquecera que quando criança a mesma caixa fora o motivo da briga que a iria fazer ficar mais próxima do pai. Então, cuidadosamente retirou as mãos do pai e as colocou sobre a caixa. Receou entre abrir ou não. Mas não conseguiu resistir - finalmente aquela caixa que havia lhe sido censurada desde a infância poderia revelar o seu conteúdo. Lembrou-se da briga que lhe distanciara da mãe, tudo causa do objeto. Viu que entalhada na tampa havia as iniciais "ID". Pensou no que deveria aquilo e percebeu que poderiam ser as iniciais de sua avó materna, Isadora. Seria algo de herança, então. Mas não eram recordações muito boas. Sua mãe, sempre ao abri-la, enchia os olhos de lágrimas e refletia no rosto um olhar decepcionado. Voltou a acariciar a face paterna. Em memória da mãe, colocou a caixa no armário e a trancou.

Carina Dourado Rodrigues é estudante do 2o. ano de jornalismo da UFG.

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