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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

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Imagens de Deus

Resenhas de Babel


Alexandre Gomes

"As opiniões dos homens sobre Deus surgem apenas na imaginação deles, e é absurdo tentar deduzir alguma coisa do que dizem; bem ou mal, eles o disseram de si mesmos, Não de Deus" (Farid Ud-Din Attar, A conferências dos Pássaros)

Ao longo dos séculos os homens tem intuído a existência de um Ser Superior que criou o mundo e zela pelo Universo. É perceptível uma evolução deste conceito para formas cada vez mais abstratas, imateriais e sobretudo a crescente consciência de uma unidade.
Mesmo sob o clima de absoluto relativismo cultural que predomina na cultura pós-moderna, as pessoas intuem esta unidade da divindade como um conceito mais evoluído do que o da multiplicidade de deuses. No momento atual o mundo vive entre dois extremos quanto à questão religiosa, digladiam-se materialistas extremos para os quais a crença em Deus é uma superstição dos tempos de ignorância e fundamentalistas para os quais Deus é tudo e o que o homem faz não é senão a vontade d'Ele.
Nos interstícios destas visões antagônicas de um Deus que é tudo ou nada, pululam velhas superstições antiquadas, politeístas e mesmo animistas (pois a tal crença em duendes e coisas do tipo não passam de um renascimento do animismo mais grosseiro). Mesmo entre os que ainda crêem em Deu há uma pluralidade de papéis atribuídos à Divindade que desafiam qualquer tentativa de catalogação.
Talvez porque com as Igrejas perdendo o seu poder de coação e coerção ideológica tenha sido aberto o caminho para que cada um crie uma divindade à sua imagem e semelhança e segundo as suas próprias conveniências. Tal como na metáfora dos sufis, Deus é como um espelho que se partiu em milhões de pedaços que cada um recolhe, vê o seu reflexo e proclama: este é Deus.
Tal noção, ainda que muito simpática à época atual de iconoclastia e individualismo gera, contudo, um problema extremamente complexo. A mais inconteste justificativa de Deus talvez seja a do filósofo pragmático norte-americano William James. James avalia que se a crença na existência de Deus torna o homem mais feliz e a sociedade mais solidária, então esta crença é verdadeira.
Mesmo no senso comum existe esta noção e não foi uma única pessoa que afirmou que se Deus não existe, então tudo é permitido. Isto porque um dos maiores benefícios advindos no mundo material da crença em Deus é o da obediência a um código ético e moral.
Este benefício se esvai quando cada um passa a crer num Deus particular, obrigatoriamente conivente com as nossas faltas como nós somos, obrigatoriamente rígido com as faltas dos outros como nós somos. Este tipo de crença nos coloca como juízes únicos de nossos próprios comportamentos e só se pode duvidar da imparcialidade deste juiz.
Ainda que se conteste a validade efetiva de fazer alguém se comportar bem não por ter a bondade dentro de si, mas por temer o castigo do Inferno e desejar as delícias do Paraíso - tema que por sinal abordei em artigo anterior - este mecanismo ainda garante um certo padrão de comportamento ético e moral. E se há abusos na manipulação destes conceitos por diversas crenças, o abuso não impede o uso, como diz a máxima do direito.
O místico Swedenborg levou estes conceitos até o extremo do relativismo criando um céu e um inferno voluntários, no qual cada um se dirige ao ponto no qual se sente mais à vontade. No Inferno swedenborguiano habitam aquelas pessoas que de tão más não podem suportar a bondade e preferem as trevas por aversão à luz. Falta plausibilidade neste inferno voluntário porque ele ignora a aversão do homem ao castigo e a eterna irresponsabilidade do ser humano.
No outro extremo a poetisa muçulmana Rabi'a fala de um amor a Deus tão intenso que torna seu portador bom, não por temor ao Inferno ou desejo do Paraíso.
Ambas as imagens baseiam-se em um homem especial, e não nos mortais comuns já que há três espécies de homens, aqueles que sòa naturalmente bons para os quais qualquer coação no sentido do bem é desnecessária. A imensa maioria que fará o bem se isto for encaminhada ou o mal se não temer represálias e uma terceira classe para qual nem mesmo as mais severas coerções serão capazes de evitar que façam o mal. Os dois extremos parecem ser igualmente raros, ainda que a sociedade atual reprima o primeiro e incentive ao máximo o último.
Esta fragmentação da imagem de Deus - criando para cada um uma divindade particular - extrapola qualquer discussão teológica e coloca um problema que apesar de pertencente à esfera da filosofia, reflete-se muito materialmente sobre uma questão social concreta. Isto porque rompe um símbolo de um consenso social sobre o que é aceitável ou não e ao fazer isto extingue um parâmetro razoável apra se definir o que é permissivel.


Alexandre Gomes é editor do PRIMEIRA PÁGINA


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São Carlos, Terça-feira, 29 de Fevereiro de 2000

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