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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

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As esperanças de uma nova era


Alexandre Gomes

"Os milenaristas sucedendo-se uns após os outros até nossos dias, jamais deixaram de fixar uma calendário preciso para o início do milênio. O fato de se verem continuamente forçados a alterar este calendário, na sequência das decepções causadas pelos acontecimentos, nunca desencorajou os obstinados" ( Jean Delumeau, Mil anos de Felicidade)

Sobre o nome genérico de milenarismo são chamados os grupos que esperam o surgimento de uma idade áurea do mundo que antecederá o Juízo Final. Como em geral, mas não obrigatoriamente, as previsões falam de um período de Mil Anos de felicidade surgiu o nome de milenarismo que agrupa idéias, seitas, profecias e crenças das mais distintas desde o início do cristianismo.
Tampouco é o milenarismo um fenômeno exclusivo do cristianismo. Há um certo grau de coincidência entre o milenarismo cristão e o messianismo judaico, assim como há um forte milenarismo muçulmano em especial - mas não exclusivamente - na visão xiíta do Islam. Além destas crenças que compartilham as origens há também um certo milenarismo nas mais diversas crenças.
O tema do milenarismo cristão é tratado de forma tão agradável quanto documentada pelo recente livro de Jean Delumeau, Mil Anos de Felicidade, (530 páginas, R$ 60) editado pela primeira vez em 1995 e traduzido para o português em 1997, pela editora Terramar. Apesar de portuguesa a tradução parece ter sido feita em português do Brasil, excetuando-se pela acentuação, é portanto uma leitura fácil e relativamente leve. Além disso a edição tem um acabamento primoroso com papel de gramatura alta e tipos bem escolhidos que, se não são capazes de tornar um livro melhor ou pior, ao menos contribuem para facilitar o manuseio.
O Livro é o segundo de uma trilogia cujo primeiro volume - O Jardim das Delícias - analisa a importância e a história da crença em um Paraíso primordial. A bibliografia é extensa e cuidadosa - apesar de haver a falha dela não ser explicitada - e inclui inúmeras fontes primárias dos textos o que evita aquela idéia de um livro recheado de idéias de segunda mão que por muito tempo encheram as bibliografias sobre a Idade Média.
É enfim, um livro essencial a quem queira compreender melhor o fenômeno religioso, não só na história mas também na era contemporânea. Aliás o tema do milenarismo ganha redobrada importância neste período de mudança de milênio, tão propícia ao florescimento destas idéias. Um outro livro que será comentado em outro momento, "Ano 1000 ano 2000", do historiador Georges Duby (Editora Unesp, 1998, 145 página), também explora a similaridade com o momento atual.
A crença no milênio parece demonstrar a noção de que o religioso Não se limita a um epifenômeno da realidade econômica ou social, mas um fenômeno social com vida própria que interage de forma ativa com os outros elementos da realidade. Ainda que sucessivamente modificada segundos os fenômenos sociais e políticos - em especial segundo interesses políticos que fazem a figura do libertador que inaugurará o milênios saltar de uma a outra personalidade da época - o milenarismo jamais abandona sua base religiosa e tenta se legitimar justamente na doutrina, em especial no Apocalipse.
Um dos fatos destacados por Delumeau explicita esta prioridade da doutrina: foi a condenação do milenarismo por Santo Agostinho que tornou esta crença marginal, limitada a seitas restritas e quase desaparecida da história por séculos. Só a sua recuperação e justificação, de dentro da doutrina, pelo monge calabrês Joaquim de Flório - que explicitamente condena Santo Agostinho - irá fazer a idéia ressurgir com força.
Qualquer tentativa de se explicar a crença milenarista exclusivamente pelos períodos de convulsão social - postura geralmente adotada pelos que utilizam uma abordagem marxista ou mesmo funcionalista/estruturalista - encontra alguns sérios obstáculos para fazer os dados corresponderem aos modelos.
Não se nega que estes períodos convulsionados fornecem um excelente substrato à pregação milenarista, mas note-se que toda a convulsão que se seguiu ao fim do Império Romano Ocidental - contemporâneo de Santo Agostinho - não foi suficiente para enfrentar a autoridade moral e religiosa do Santo e fazer a crença milenarista prosperar.
A análise dos medos e anseios do milênio na sociedade contemporânea parecem igualmente oferecer uma contra-prova à hipótese de que o milenarismo é mera consequência do ambiente convulsionado social, política ou economicamente. Basta ver como fiéis de diferentes crenças, e diferentes matizes de religiosidade pessoal, estão reagindo à crença em um fim do mundo.
Como já foi mencionado em artigo anterior, a intensa campanha da mídia para transformar o medo do fim do mundo em um fato jornalístico Não foi suficiente para gerar este medo na maioria das pessoas. Um estudo sobre os que foram convencidos que o mundo terminaria - provavelmente - demonstraria que a crença da pessoa foi mais importante do que a sua classe social, por exemplo.
Ainda que esta última afirmação seja apenas uma suposição não baseada em nenhum fato concreto - e quem sabe uma sugestão de um tema a ser pesquisado - os diversos estudos sobre as seitas apocalípticas parece fornecer dados suficientes para se permitir que se admita, a princípio, esta hipótese.


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São Carlos, Terça-feira, 29 de Fevereiro de 2000

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