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Magnífico Reitor, Professor Candido Mendes,
Senhores Pais, nobres colegas homenageados, caros formandos, Minhas Senhoras e
Meus Senhores:
Foi uma grande surpresa a honra que me dá esta
turma ao incumbir-me do munus de paraninfá-la. A razão de ficar profundamente
emocionado com sua homenagem, meus caros formandos, é que tenho plena consciência
que as disciplinas que ministro são de complexa compreensão para o jovem.
Estou ciente que as minhas aulas costumam ser extremamente densas e que meus
genes prussianos, não poucas vezes, fazem de mim um rabugento pouco propenso a
qualquer condescendência no trabalho acadêmico. Além disso, em um país onde
o sobrenome, tantas vezes é tão importante, sou apenas descendente
de imigrantes
que, em seu sonho por um mundo melhor, venceu um caminho muito áspero para poder dedicar-se ao
Direito. No país do "sabe com quem está falando?", sou apenas
um professor.
Por tudo isto, meus caros formandos,
francamente, nunca, ao longo da minha carreira docente, tive qualquer
expectativa de ser homenageado, nunca sonhei com a hipótese de paraninfar uma
turma de formandos. Recebam, assim, meu comovido agradecimento pelo gesto de estímulo
com que me agraciaram.
O mote - entre as diversas definições deste
termo, permitam-me eleger o sentido de: mote - lema ou dito usado pelos
cavaleiros andantes da Idade Média com o intuito de identificar sua empreitada,
campanha ou missão - O mote que eu gostaria de deixar para a caminhada que vocês
hoje encetam é uma imagem criada pelo poeta Fernando Pessoa. Creio que é uma
imagem eloqüente para o momento que vivemos a constatação de Fernando Pessoa,
em sua fase mística, de que: "À noite, pelas ruas e vielas de Lisboa,
esgueiram-se três fantasmas ... são eles: O que fomos? O que deixamos de ser?
O que poderíamos ter sido?"
Quando olho para o meu país, desculpem-me, mas
não posso deixar de pensar nos 3 fantasmas que rondam pelas ruas de Lisboa: por
praticamente toda a minha vida fomos, no Brasil, o gigante adormecido, a grande
potência do futuro. Temo em pensar no que atualmente, estamos deixando de ser,
submetidos que estamos à Capitis Deminutio consubstanciada nesta perfídia
globalizante. Indago-me, muitas vezes: Imputar-nos-ão nossos filhos e netos a
desdita de restar-lhes apenas a companhia do fantasma denominado: o que poderíamos
ter sido?
A esperança que ouso acalentar é que uma Nação
que historicamente tanto deve aos seus Bacharéis e Juristas possa contar
doravante também com estes profissionais que aqui hoje estão iniciando sua
caminhada. São universitários da melhor cepa, são jovens de caráter, são
pessoas de coragem indômita. Posso assegurar-lhes, Magnífico Reitor, nobres
homenageados, Senhores Pais, lembro-me que não foram poucas as vezes em que vi
um significativo brilho no olhar e uma inquietação enérgica nestes Universitários,
em sala de aula, ao tratarmos dos humilhados e ofendidos, vitimados pela excludência
do sistema em que nos encontramos. Peço-lhes que não esmoreçam, caros
formandos, porque vocês são hoje o bastião de nossas esperanças.
Ao lembrar dos 3 fantasmas que, conforme
Fernando Pessoa, pelas noites de Lisboa, rondam por ruas e vielas, caros
formandos, pensei também na nossa vida profissional e pessoal. Também em nossa
vida quantas vezes nos defrontamos com os fantasmas: O que fomos? O que deixamos
de ser? O que poderíamos ter sido?
Por paradoxal que pareça, é vital que nos
lembremos dos 3 fantasmas de Lisboa exatamente em nossos momentos mais
auspiciosos, quando nos encontramos na plenitude da mais completa alegria, nos
momentos em que nossas vitórias pessoais nos dão a sensação de onipotência.
Ensinou-me a vida, caros formandos, que a lembrança destes fantasmas nos
momentos de glória e realização é a melhor forma de exorcismo das
fantasmagorias que assombram os momentos de dificuldade que a existência e a
profissão, por vezes, nos reservam. Com humildade, com consciência, com autocrítica
temos o poder de neutralizar toda a espécie de fantasmagorias que, de outra
forma, tripudiam de nossa impotência nos momentos de angústia.
Permitam-me, assim,
caros formandos, almejar que o caminho que hoje vocês encetam seja um caminho
ensolarado, brilhante e sem assombrações. Não se esqueçam, entretanto, de
lembrar, exatamente naqueles momentos em que vocês se sentirem mais poderosos e
invencíveis, dos 3 fantasmas que se esgueiram, à noite, pelas ruas de Lisboa.
Parabéns e Felicidades à todos.
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