O pior do pior do Brasil

Anângela Rosa de Castro

Saber dos problemas do nosso país e entender a complexidade que envolve a fome, o desemprego e a falência da saúde não garante mais título de doutor. Muito longe dos gráficos que apontam analfabetos e desdentados, encontramos a realidade do Brasil estampada na tela da TV narrada via satélite. Ali, na tela mágica, cidadãos comuns se transformam em astros por um dia com suas histórias infelizes em crônicas do cotidiano. O termômetro é a audiência.

Mas o que é audiência? Qualquer pessoa entende que se trata de um bichinho (ou bichão, depende do tamanho) que de dinheiro pago se transforma em dinheiro no bolso, e que de repente, transforma ex-quase analfabetos sem cultura nos salários mais altos da televisão. Audiência também pode ser definida como a "coisa" pela qual as grandes emissoras saem nos tapas, diariamente, sem a menor ética ou pudor. Ou como se explica que uma dona de agência matrimonial dê plantão semanal como conselheira familiar, e que um vendedor de churrasquinho ganhe tubos de dinheiro para separar as lutas livres da vida real?

Ainda tento acreditar que estamos atravessando uma crise de identidade, ou melhor, de criatividade. Uma crise que não apenas evidenciou nossas maiores doenças sociais, como as escancarou de maneira gratuita como mercadoria na TV. Apesar de não contestar o talento dos apresentadores do nosso "mundo cão", espero, sinceramente, que de fantásticos se transformem em valores efêmeros na nossa comunicação.

É triste ver a doença ser tratada como notícia ou aberração da natureza, enquanto vemos dramas de Nélson Rodrigues reencarnarem com traços zoomórficos na classes D e E brasileira.

Tumores expostos, gêmeos xipófagos, amores impossíveis entre homens e animais. Notícias fabricadas pelos olhos do sensacionalismo barato e sem nenhum compromisso com o social. Do outro lado da tela, nós, a sociedade acomodada e pouco indignada, cujo único recurso de proteção é o controle remoto.

Anângela Rosa de Castro é acadêmica do 3o. ano de jornalismo da UFG.

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