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Resenhas de Babel: Cultura, Literatura, Filosofia e outros assuntos chatos

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O autoritarismo das Utopias




Alexandre Gomes

"Seja quais forem as suas qualidades artísticas e filosóficas, um livro sobre o futuro só nos pode interessar na medida que suas profecias nos pareçam originariamente capazes de virem a realizar-se" (Huxley, Prefácio do Admirável Mundo Novo)

Pode passar despercebido à maioria dos leitores, mas o horrível cenário do Admirável Mundo Novo não é senão em parte criação de Huxley. A estrutura fundamental do Brave New World - e boa parte de seu conteúdo - não vem do escritor inglês, mas da sociedade desejada por Platão na sua República.
A única diferença substancial é que Huxley escreveu Brave New World como uma crítica feroz, enquanto Platão escreveu sua República pensando num modelo ideal de sociedade. Mas ambos se encontram no fato de que a sociedade do livro de Huxley seria apontada por Platão como o mais próximo que se poderia chegar do seu modelo de sociedade.
No livro de Huxley é evidente o caráter autoritário da sociedade, no de Platão ele disfarça-se como um controle da sociedade pelos melhores do povo, que revelaram talentos inatos e capacidade de aprendizagem. Mas em ambos se exerce um domínio absoluto sobre a sociedade, eliminam-se as fronteiras entre o público e o privado, estabelece-se funções bem definidas para todos, limita-se a função de pensar a um grupo de eleitos.
É evidente que nos dois autores o método de escolha deste mínima elite pensante é diferente, mas nem tanto. Para Platão a decisão sobre quem comporia a "classe guardiã" seria definida dando-se a todos as mesmas oportunidades e escolhendo os de melhor desempenho. Para Huxley se limita a capacidade de pensar dando-se total capacidade mental para uns poucos.
A legitimação, contudo é a mesma, o mesmo velho discurso sobre a necessidade de se dividir as diferentes funções na sociedade e sobre a importância dos melhores comandarem. Ademais em ambas a religião - essencialmente comunitária - tem a mesma função de fazer os espíritos se conformarem com o destino que lhes é imposto e é utilizada de forma cínica. Platão não tem um equivalente ao soma, mas certamente aprovaria mais este método de livrar o homem das paixões e desejos.
Não se esquecendo que Platão era adepto radical da eugenia, portanto mesmo que ele não fale de castas - e de certa forma seja avesso à idéia por defender oportunidades iguais para todos - a radical seleção no nascimento não seria tão distante do mundo pensado pelo filósofo grego. Além do que, note-se a semelhança, nos dois mundos não existem mais, filhos, esposas - aliás nada mais parecido com a "comunidade de esposas" do modelo platônico que os relacionamentos essencialmente temporários do Mundo de Huxley.
Que as semelhanças notáveis entre os dois jamais confundam o leitor: os dois livros tem o objetivo exatamente inverso. Platão na República proclama como a sociedade deveria ser para tentar torná-la possível um dia; Huxley imagina como a sociedade poderia ser para tentar evitar que ela um dia chegue a acontecer.
Teria Huxley imaginado o Brave New World ao ler Platão? Não há qualquer referência que legitime esta idéia, mas as similaridades são muitas para se imaginar que não há relação entre os dois. Talvez ela seja indireta, através da Utopia de Morus que é tributária em larga escala de Platão - só que neste caso visto de um ângulo favorável que produz, igualmente um mundo terrível sem liberdades e vida privada.
Falar em Utopia voltou à moda depois do fracasso do "Socialismo Real" se tornar muito evidente para ser negado até pelos mais fanáticos. Naufragadas as presunções de um socialismo que "tinha de vir" porque assim estava cientificamente determinado pelo "Materialismo Histórico" - pintado como a única Ciência Social e ornado com hieráticos dogmas teológicos - buscou-se o refúgio em se resgatar a Socialismo como uma Utopia - idéia que fermentou até em mentes sérias e brilhantes como a de Florestan Fernandes.
Há muito tanto de Platão como de Huxley nesta concepção. Por detrás dela há o projeto de impor à sociedade um modelo pensado por alguma mente fantástica, pouco preocupada não só com a individualidade dos cidadãos desta Utopia como com as abstrações que forem necessárias à sua implementação. Incapazes de dar todas as respostas aos anseios humanos simplesmente se suprime estas vontades rebeldes - pelo convencimento ou pelo soma e, sempre, mais cedo ou mais tarde pela violência.
Platão nos diz como este projeto deve ser pensado, Huxley nos diz como ele termina. Um é a teoria deste projeto, outro a prática. Toda Utopia, percebeu Huxley, é a tentativa de impor aos homens o desejo de alguém ou de algum grupo ao invés de confiar na sabedoria dos próprios homens.
O Brave New World como a República platônica e a Utopia de Morus é uma sociedade estagnada, não por acaso ou por alguma contingência, mas sobretudo porque são sociedades cuja concepção e realização exclui o movimento. Em Platão e Morus esta supressão dos antagonismos é um desejo inconsciente, uma deficiência da visão de mundo dos autores, já em Huxley é um projeto proposital dos governantes. Felizmente o movimento é algo tõa natural na sociedade, como na natureza, que não será a vontade de algum pensador que será capaz de suprimi-lo.


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São Carlos, Terça-feira, 29 de Fevereiro de 2000

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