A celebrada arquitetura islâmica tenta
mostrar a magnificência de um Deus onipresente e
invisível através de uma "sinfonia de pedra"
- harmônica, matemática, racional, musical - que tenta
simbolizar esta transcendência. Esta é a opinião do
filósofo e historiador da arte Roger Garaudy,
ele próprio convertido ao Islam depois de ter sido
dirigente do Centro de Formação Política do Partido
Comunista francês, com o qual rompeu no Maio de 68.
O desafio de
expressar este "Deus onipresente e invisível",
para ele, foi encontrada num forte simbolismo cuja
expressão típica é a mesquita, edifício destinado às
orações, verdadeira porta entre a realidade sensível e
a realidade transcendente. Para Garaudy
três elementos sintetizam este simbolismo: a ordem
geométrica e harmônica, o uso da luz e a caligrafia que
ornamenta os detalhes.
As curvas que
se perseguem ao infinito e se entrelaçam formando
hexágonos e outras figuras geométricas numa repetição
criativa. Os suaves mas marcantes contornos delineados a
gesso copiando formas vegetais e minerais. Os arcos
harmoniosos e semicruzados compondo uma sinfonia de
pedra. Para Garaudy é necessário
recorrer à música como metáfora para tentar descrever
a harmonia matemática da mesquita.
Luz
Para ele a luz
- segundo símbolo - é tão evidente que nem sempre é
percebido. A luz, destaca ele, é referenciada
incontáveis vezes como metáfora da Divindade, da
Revelação e portanto é evidente o papel da
iluminação no conjunto da Mesquita, reforçado por mil
artifícios técnicos buscado pelos arquitetos
muçulmanos.
O terceiro
símbolo é a caligrafia, os desenhos
suaves que formam imagens e que marcam todos os pontos
principais da mesquita e encontram sua expressão mais
significativa no "mihrab", oratório
na parede ao fundo da mesquita que marca a "qibla"
- direção de Meca para onde todo muçulmano se volta
quando faz as suas orações, verdadeiro símbolo da
unidade de toda a Ummah - a comunidade dos
muçulmanos.
Outro
símbolo importante é a água, presença
marcante das construções islâmicas. Na mesquita a
água com seu simbolismo de "purificadora"serve
para marcar a passagem do profano ao sagrado, do mundo
real para o transcendente. No Sahn - pátio
aberto que antecede o Haram (sala destinada às
orações) - há sempre um sabil, fonte de água
corrente na qual os fiéis fazem as suas abluções
rituais - o wudhu - lavando mãos, antebraços,
rosto e pés, purificando-se para a oração.
Palavra
divina
Na área
externa a mesquita é marcado pelo minarete,
torre da qual o muezin faz cinco vezes ao dia o adhan
- chamado para a oração - avisando a vizinhança
que chegou a hora de rezar.
Para o
historiador de arte há um outro simbolismo nem tão
evidente no conjunto, o de um jardim, com as suas flores
na decoração, suas árvores estilizadas em colunas, seu
córrego metamorfoseado na fonte. Um jardim iluminado
pelo sol e no qual uma suave melodia de fundo - a música
da palavra divina, ressoa através do aliterado canto do
muezin, na salmodiação do Iman ao recitar o Alcorão,
na caligrafia que ilumina as paredes e sobretudo naquela
ordem matemática e harmônica do conjunto. É o
Jardim do Paraíso.
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Garaudy:
Harmonia matemática, racional, musical
Esplendor da fé: a
combinação de luz, motivos geométricos, vegetais
estilizados e epigráficos é comum a todas as mesquitas,
ainda que materiais e estilos variem. Na foto o interior
da Mesquita Al-Aqsa, o Domo da Rocha em Jerusalém
Purificação:
o Sahn é um grande pátio com o sabil, fonte, no qual os
fiéis fazem suas abluções rituais (Pátio central da
mesquita Karauine, Fez, Marrocos/ Século XI)
Unidade:
o mihrab aponta a direção de Meca e simboliza a unidade
da comunidade (mihrab da mesquita Lutf Allah, em Ispahan,
Irã)
Metáfora
da Divindade: O desenvolvimento e
multiplicação das muqarnas debaixo dos domos pode ser
entendidos por sua função de refletir e refratar a luz.
Para ampliar este efeito são utilizados azulejos e
espelhos, como nesta mesquita do Mausoléu de Shah-Hamza
Ali em Shiraz, Irã
Ordem divina: O Islam transformou a
geometria numa forma de arte com a geração de padrões
e a aplicação dos princípios de repetição sumária,
simetria e mudança de escala para criar uma variedade
espantosa de efeitos. Tumba de Akbar, Sikandara, Índia
(acima) e teto do mausoléu do profeta Hafiz em Shiraz,
Irã (abaixo).
Caligrafia:
trechos do Alcorão e os 99 nomes de
Deus transformam-se em ornamentos que relembram o Deus
transcendente formando desenhos que se harmonizam com os
arabescos. Domo da Rocha, Jerusalém.
Jardim
de Allah: os motivos baseados em
plantas são outra constante na arquitetura islâmica
como neste padrão de tapeçaria com um flor estilizada
ou nas colunas que simulam palmeiras como esta do Pátio
dos Mirtos no Alhambra, Espanha(abaixo)
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