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Capítulo I - NostalgiaCapítulo II - A Missão
Alexandre Gomes
- Bobagem - disse com ênfase Ayyub - Se vocês retirarem a emenda Dubarle é que acabarão fortalecendo Wells e os idiotas que seguem ele, vão fazer eles se sentirem confiantes, mostrar que se curvaram a ele. E até, quem sabe, que no meio das teorias malucas dele há alguma coisa de verdade. - Enquanto a emenda delegando o poder de decisão nos níveis inferiores da administração para os programas de gerenciamento estiver sendo discutida, ele tem uma bandeira - Argumentou Tagore meio sem convicção. - Bobagem, eu repito, bobagem! Mas porque você me ligou, só para falar isto? - Wells não é um problema sério hoje, mas pode ser amanhã. Na última reunião dos Cônsules nós chegamos à conclusão que estamos naquele momento crítico de toda revolução, quando o passado deixa de ser uma lembrança e portanto uma ameaça. Já temos duas gerações desde a Queda dos Trinta, o mundo de antes já não é mais referencial, só por isso demagogos como este Wells consegue algum apoio. - O erro foi de vocês, se tivessem simplesmente aplicado o sistema de tomada de decisão sem consultar ninguém, sem oficializar o processo, não teriam provocado esta reação. Será que vocês não aprenderam nada com a História, não entendem que o medo das máquinas está muito enraizado na cabeça das pessoas? Você sabe que a palavra robô já surgiu junto com o medo de uma revolução das máquinas! - Por isso mesmo que se fizéssemos isto sem formalizar, sem ter autorização da Assembléia Mundial correríamos um risco ainda maior. Tem sido dois anos terríveis de debates e, aqui entre nós, não aguento mais falar sobre o assunto e dar esclarecimentos, mas se tivéssemos adotado a proposta Dubarle e ela fosse descoberta agora teríamos um problema maior. - Mas vamos voltar à questão, o que você quer de mim? - Você tem lembrado bastante o passado e isto nos ajuda muito, mas precisamos de um contraste mais evidente - abaixando a voz como se pronunciasse um grande segredo - Quer ir fazer algumas reportagens nas Terras-de-fora? A alusão aos países que ficaram de fora da Federação e haviam se segregado da comunidade mundial era uma surpresa. Os contatos entre elas e a Federação eram mínimas e se sabia que a vida por lá era dura, mas muito poucos dos Cidadãos já havia alguma vez viajado para lá. Diversos dos que foram não voltaram, vítimas de grupos radicais ou daqueles governos. Também Não eram bem vindos por ninguém daquelas terras. As lembranças de Ayyub sobre as terras-de-fora também não eram boas. Há quatro gerações sua família havia abandonado a Bósnia quando por plebiscito ela se tornou um enclave do Dar-Al-Islam - maior das terras-de-fora - fincado no coração da federação. Nenhum deles jamais voltou lá e fora o nome que soava antigo e antiquado - herdado do avô - ele nunca havia tido outro contato com aquelas origens que lhe pareciam tão remotos. - Para onde eu iria, Dar-al-Islam, China, Índia, África, Ásia Oriental? Perguntou Ayyub torcendo pelo último sobre o qual ainda tinha um pouco de informações e que era, certamente, o mais próximo. - Pensei na Índia, afinal meus avós vieram de lá, mas os Cônsules optaram pelo Dar-Al-Islam aproveitando que vão haver eleições por lá. Já conseguimos o visto e a segurança... - Espere aí, eu não disse que aceitava, como vocês já decidiram... - Espero contar com a sua boa vontade, é uma missão essencial. Você quer ver este mundo desabar? Que chances você acha que teria em um mundo diferente deste aqui? Tagore falava impassível, como se a opinião de Ayyub fosse dispensável. Ele sabia que tinha saldo positivo no relacionamento entre os dois. - O que eu ganho lhes fazendo este favor - Disse Ayyub sabendo que não podia recusar, mas em um tom que não deixava dúvidas quanto à sua contrariedade. - Que tal aquele posto diplomático que você deseja a tanto tempo! Os óculos VR sinalizaram uma outra mensagem esperando na linha, Ayyub balançou a cabeça silenciosamente concordando e pediu desculpas por ter de desligar para atender a outra ligação. - Passe amanhã cedo no meu escritório para acertarmos os detalhes - disse o cônsul com um certo tom de ordem, sabia que havia obtido resultados. Ayyub chamou o texto que estava escrevendo e comandou o apagamento de vários trechos sobre liberdade de imprensa e democracia, com uma certa irritação. Recebeu a mensagem que anunciava outra ligação. Era Howard Laslo-Wells, o carismático líder do grupo chamado pejorativamente de "tradicionalistas".
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São Carlos, Quarta-feira, 01 de Março de 2000
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