COBRA PAGES
e seus
objetivos
--
Quem somos

reg.

COBRA PAGES: páginas em Educação e Cultura
Filosofia Moderna -  Filosofia Contemporânea - Temas de Filosofia - Psicologia e Educação
Boas Maneiras e Etiqueta
- Contos - Restauro - Genealogia - Geologia - Livros - CONTACTO

 

PMF-perguntas
mais freqüentes

ÍNDICE & BUSCA

 

 
 

NOVIDADES DO SITE

MADAME DE STAËL

Página de Filosofia Contemporânea
escrita por Rubem Queiroz Cobra
(Site original: www.cobra.pages.nom.br)

 

Dona de uma personalidade brilhante, escritora, poeta, ativista política, e feminista, Anne-Louise-Germaine, Madame Baronesa de Staël-Holstein, é geralmente reconhecida como a primeira filósofa política. Filha única de um rico banqueiro e de uma escritora suíça, recebeu dos pais sua paixão pelas letras e pela filosofia política, e um grande interesse pela coisa pública. Viveu em um período crítico da história da França, compreendendo os anos de Luís XVI, da Revolução Francesa, da era napoleônica, e da restauração da monarquia dos Bourbons com

Luís XVIII. Ela teve um importante papel na corrente minoritária de livres-pensadores moderados favoráveis a uma monarquia constitucional, mas que saíram derrotados tanto pela feroz maioria radical vitoriosa na Revolução, quanto por Napoleão e pelos restauradores da monarquia.

A perseguição que sofreu de Napoleão – ele representava a negação de todas as liberdades que ela defendia – fez dela uma figura mártir e heróica, que alentou a resistência ao imperador em Paris, na Suíça e em toda a Europa. Deixou livros e artigos, e também inúmeras cartas que escreveu aos seus amantes declarando suas frustrações e seus anseios de felicidade.

I - Vida

Infância e Juventude. Seu nome de solteira foi Anne-Louise-Germaine Necker (depois baronesa de Staël-Holstein, tratada mais comumente por Germaine ou Madame de Stael). Nasceu em Paris a 22 de Abril de 1766. Seu pai, Jacques Necker, por quem teve grande admiração e afeto, foi três vezes ministro de finanças de Louis XVI, rei da França de 1774 a 1793. Nascido em 1732, era filho de um professor de Direito Público em Genebra. Chegou jovem em Paris, onde ganhou experiência como empregado no banco de um amigo da família e depois fundou, com um sócio, o seu próprio banco, com estabelecimentos em Paris e Londres. Ficaram ricos financiando negócios de trigo e emprestando dinheiro para o governo. Membro do conselho de administração da Companhia das Indias desde 1764, ele salvou a histórica instituição de ir à falência. Em 1768, foi ministro da  Republica de Genebra junto ao rei de França.

Sua mãe, Madame Necker, nascida Suzanne Curchod em 1737, escritora suíça, era filha do pastor da Vila de Crassier, localidade vizinha a Genebra. Escritora, era uma mulher instruída e de bela figura. Filantropa, sua atividade filantrópica envolveu a fundação, em Paris, em 1778, do Hopital des Paroisses, atualmente Hospital Necker, na rua de Sèvres. Nesse hospital René Laennec inventou o estetoscópio e criou as regras da auscultação dos batimentos cardíacos. Madame Necker foi, também, uma voz contrária ao comércio de escravos que os franceses faziam entre a África e a América. O professor François Poirier, da Universidade de Paris (www.univ-paris13.fr, 2005), comenta que é quase desconhecida essa postura de Madame Necker, a qual fundou, em 19 de fevereiro de 1788, a Société des Amis des Noirs (Sociedade dos Amigos dos Pretos), e salienta que ela tinha por amigos os ante-escravagistas abade Guillaume Raynal, que em 1770 publicou Histoire philosophique et politique des établissemens et du commerce des Européens dans les deux Indes; Condorcet, autor do Réflexions sur l'esclavage des nègres, publicado em 1781, e Olympe de Gouges, cuja peça L'esclavage des noirs foi encenada em 1789 pela Comédie Française. Estava em Paris, como tutora do filho de Madame de Vermenoux quando conheceu o banqueiro Necker, com quem se casou em 1764.

Os encontros promovidos por Suzanne Necker em seu salão foram não apenas uma escola para a filha Germaine, futura Madame de Staël, mas também ajudaram seu marido a projetar-se e a se alçar a posições elevadas no governo. Às sextas-feiras, Madame Necker reunia  em sua residência, o Hotel Leblanc, grupos de livre-pensadores moderados e da nobreza parisiense, para debates em torno de questões sociais e políticas. O "hotel" – nome dado a edifícios públicos e grandes mansões urbanas em Paris – situava-se na Chaussée d'Antin, local que então era o centro da elegância  parisiense, próximo dos teatros, e das grandes avenidas, e onde aristocratas nobres, e empresários e comerciantes ricos, residiam em palácios criados pelos mais famosos arquitetos da época.

Germaine, desde menina,  habituou-se ao debate dos temas políticos. Tanto seu pai quanto sua mãe eram protestantes calvinistas convictos, de grande moral, espírito aberto e tolerante, e seus amigos eram todos de tendêcia liberal. Em sua casa, conheceu incontáveis figuras importantes como: Victor Riqueti, Marquês de Mirabeau, monarquista constitucionalista, um dos redatores da "Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão", documento básico da Revolução Francesa em 1789, autor de Explication du Tableau économique ("Explicação do Quadro econômico") de 1759, Théorie de l'impôt ("Teoria do imposto"), de 1760; e Philosophie rurale ("Filosofia rural"), de 1763; Denis Diderot, o editor da Enciclopédia; Georges Louis Leclerc, conde de Buffon, o grande naturalista; François Arnauld, Gabriel de Mably, conhecido também por Abbé de Mably, historiador, precursor do  socialismo comunitário; Jacques Henri Bernardin de Saint-Pierre, escritor, discípulo de Rousseau e precursor do romantismo, célebre por seu romance Paul et Virginie; Caroline-Stéphanie-Félicité du Crest de Saint-Aubin, condessa de Genlis, autora de várias obras sobre Educação; e Jean le Rond d'Alembert, entre outros. A esses encontros compareciam também alguns não famosos, que pertenciam ao círculo de velhos amigos suíços da família.

Uma criança precoce, Germaine interferia ela própria nos debates com apreciável sagacidade. Por influência de seu pai, um admirador de Montesquieu, tornou-se adepta da monarquia parlamentar segundo o modelo inglês. Recebeu da mãe uma educação muito esmerada e completa: aprende inglês, latim, dicção, música e dança; vai ao teatro e, ainda muito jovem, ela lê e escreve intensamente.

Em 1770, Jacques Necker adquiriu uma propriedade em Saint-Ouen. Sua mãe começou a corresponder-se com Voltaire, de quem seu pai era um admirador a ponto de encomendar uma estátua do filósofo. Lisonjeado, Voltaire enviou versos a Madame Necker e manteve com ela o contacto epistolar em seus últimos anos. Porém o artesão moldou o filósofo nu, e a estátua, considerada imoral pelo casal, não saiu do seu atelier.

Em 1772 seu pai afastou-se dos negócios, aos trinta e oito anos, com uma fortuna de sete a oito milhões de libras. Dedicou-se a escrever. Em 1773, ele ganhou o prêmio da Academia Francesa pela seu  enaltecimento do economista e ministro Jean-Baptiste Colbert.

Em 10 de maio de 1774, falece Louis XV, e começa o reinado de Louis XVI.

Em 1775 Necker publicou seu Essai sur la législation et le commerce des grains, no qual criticava a política de livre comércio do ministro Turgot.

Em 1776, o rei  Luís XVI demite Turgot e Necker, apesar de não ser nem católico nem francês, o substitui como Diretor do Tesouro Real. O novo ministro tem que enfrentar o problema das grandes despesas com a ajuda militar francesa aos colonos da América para sustentar sua independência, proclamada a  4 julho daquele ano, contra a Inglaterra. Germaine tinha dez anos e vê agora a casa freqüentada não mais apenas por intelectuais e amigos, mas também por políticos, ministros e diplomatas.  Neste ano, de abril a junho, acompanha os pais em uma viagem à Inglaterra.

Em julho de 1777 seu pai, com as reformas que fez, passa a designar-se Ministro (Diretor Geral) das Finanças. Em maio de 1781 ele publicou seu famoso Compte rendu au roi, um balanço financeiro da França que foi um sucesso de leitura. Foram vendidos 30 mil exemplares em apenas duas semanas. Este trabalho corajoso que revelou as despesas suntuárias da corte, lhe valeu o desagrado da família real e,  nesse mesmo ano, por influência da própria rainha Maria Antonieta, foi forçado a demitir-se, e substituído por Charles Alexandre de Calonn.

Germaine, uma grande admiradora de seu pai, lhe havia escrito uma carta de elogios sobre o Compte Rendu antes de completar 15 anos. O excesso de estudos e de excitamento intelectual, os amores impossíveis em sua adolescência, e as fortes emoções que vivia envolvida em todos os acontecimentos que atingiam sua família, conduzem-na a um esgotamento mental que exige repouso; levam-na para a bela residência da família em Saint-Ouen, então apenas uma pequena vila na margem direita do Sena, entre Saint Denis e Paris (não era o castelo de Ouen, o qual pertenceu ao duque de Gesvres, e cuja família o cedeu, em 1782, ao duque de Nivernais).

No verão de1783, Germaine acompanha os pais à Suíça. Ela recusa o projeto deles de casá-la com William Pitt, jovem e ambicioso político Inglês que em dezembro daquele ano, na idade de apenas 24 anos,  seria nomeado por George III o mais novo primeiro ministro da história da Inglaterra.  Não sendo William Pitt um homem rico, a escolha provavelmente tinha muito a ver com o ideal constitucionalista de Jacques Necker. Pitt era por reformas que aprimorassem o regime parlamentarista, evitando suborno eleitoral, permitindo a destituição de parlamentares corruptos, e aumentando a representação do povo no Parlamento. Entre os nobres franceses havia poucos protestantes e seus pais não queriam que ela se casasse com um católico.

Em 1784 seu pai escreveu, em Saint-Ouen, seu livro "De l'administration des finances de la France", no qual explicava e defendia sua política financeira. Em maio levou a família para seu castelo de Beaulieu, em Lousanne, e adquiriu o castelo de Coppet, 14 km a leste de Genebra, situado à margem do Lago Leman, com a pequena Vila de Coppet a separá-lo da beira do lago, e que seria, no futuro, a principal morada da família fora de Paris.

Em fins de setembro de 1785 a jovem Germaine aceita o segundo projeto: seu casamento com o representante da Suécia em Paris (ganharia depois status de embaixador), Barão Eric de Staël-Holstein, dezessete anos mais velho que ela. No dia 6 de janeiro de 1786 o contrato de casamento foi referendado em Versailles pela família real. A cerimônia foi celebrada na capela da Embaixada da Suécia, na rua de Bac, no dia 14 do mesmo mês . No dia 31 a nova baronesa foi apresentada aos nobres, os quais nunca viam com bons olhos – e ela percebeu isso – alguém de origem plebéia, ainda que muito rico, intrometer-se na corte.

O Salão em Paris. Uma vez casada, Anne-Louise-Germaine, agora Madame Baronesa de Staël, abre seu próprio salão em sua residência na rua de Bac. A formação política liberal recebida do pai faz que ela se cerque de uma geração nova. Muitos que comparecem aos encontros em sua casa haviam lutado na América pelas idéias liberais, como La Fayette, Noailles, Clermont-Tonnerre, ou eram escritores como Condorcet,  Louis de Narbonne (1755-1813) sua primeira grande paixão ; Mathieu de Montmorency (1767-1826) e o bispo Charles-Maurice de Talleyrand-Périgord (un des signataires de la Constitution Française de 1791).

No ano do seu casamento ela inicia sua carreira literária com Sophie ou Les Sentiments secrets (Sofia, ou os sentimentos secretos) e começa, entre outros projetos, a escrever uma crítica ao pensamento de Jean-Jacques Rousseau.

Em abril de 1787,  seu pai Jacques Necker, devido às suas críticas à política real e às medidas liberais que adotou para transparência do orçamento, foi visto pela nobreza conservadora como defensor das causas da Revolução. Foi demitido e banido de Paris por carta régia, a um raio de 40 léguas da corte. Madame de Staël o acompanhou em várias moradas no perímetro desse círculo de Paris. Mas o rei suspendeu o castigo dois meses depois. No mesmo ano, em julho, nasceu a primeira filha de Germaine de Staël, batizada Gustavine em homenagem ao padrinho Gustavo III, rei da Suécia.. Também neste ano ela compôs sua tragédia Jane Gray.

A publicação da Constituição Americana de 17 setembro de 1787 causa grande sensação entre os constitucionalistas e republicanos parisienses.

Em 1788, Necker foi novamente nomeado Diretor Geral das Finanças, mas também ministro de estado e primeiro ministro de fato. Para solucionar a crise financeira, é convence o rei a convocar os Estados Gerais, um conselho constituído de nobres e de representantes do clero e do povo. A 3 de maio desse ano, o Parlamento publica «déclaration des droits de la Nation» e aprova a convocação dos Estados Gerais na esperança de que seus membros fizessem o rei manter os privilégios fiscais das classes altas. Em 7 de junho ocorre a revolta do povo contra o parlamento, em Grenoble.

Por pressão da opinião pública influenciada por políticos e intelectuais de suas relações, em 26 de agosto, seu pai é chamado de volta para substituir Loménie de Brienne no Ministério das Finanças. E ela, mal satisfeita com o casamento, começa, no outono, um caso de amor com o jovem conde de Narbonne, freqüentador do seu salão. No fim desse ano publicou, em poucos exemplares, sua crítica a Rousseau: Lettres sur le caractère et les ouvrages de J.-J. Rousseau (Cartas sobre o caráter e a obra de Rousseau). No livro ela aprova muitos dos pontos sustentados pelo filósofo, mas condena suas idéias sobre a mulher quanto ao seu papel social e à sua educação. Esta obra, que lhe trouxe fama como feminista, foi muitas vezes reeditada.

A Revolução. O ano de 1789 foi trágico para a baronesa. Em abril, faleceu a pequena Gustavine de Staël. Os acontecimentos políticos também são de um mau prenúncio.

Em maio ela assiste à procissão solene dos deputados, para a missa de abertura da Assembléia dos Estados Gerais. Em 9 de julho os Estados Gerais se proclamam uma Assembléia Nacional Constituinte, para redigir uma constituição calcada no modelo norte americano. Nesse mês seu pai é afastado do ministério mas o povo, vendo em sua demissão um sinal de endurecimento do governo contra as causas liberais, se amotina em Paris e exige a sua volta à direção das Finanças. O motim cresceu e agravou-se com a tomada da Bastilha, fato histórico que marcoui o 14 de julho, e ao qual ficou ligado o nome do ministro Necker, que chegou a ser considerado o salvador da França. A 30 de julho, acompanhado da filha, ele retornou a Paris, aclamado pelo povo em cada lugar por onde passava, culminando o entusiasmo popular com uma apoteose na Place de Grève, ou Place de l'Hotel de Ville (Praça do Palácio da Municipalidade). Mas nada podia fazer sem aumentar os impostos, medida impopular que terminou por desacreditá-lo. O rei, amedrontado,  evita dissolver a Assembléia. O irmão do rei, o Conde d'Artois, futuro rei Carlos X, percebe as dimensões dos acontecimentos e deixa a França, seguido de vários nobres entre eles o príncipe de Condé e Mme de Polignac.

Um comitê de revoltosos nomeia Bailly prefeito de Paris, e La Fayette comandante da guarda nacional, uma usurpação do que era antes administração direta do monarca. A revolta contra os altos impostos levam os camponeses a invadir os castelos e destruir os papeis que davam privilégios aos seus senhores; alguns foram atacados e mesmo massacrados. Na noite de 4 de agosto a Assembléia votou a abolição dos direitos senhoriais, para acalmar os camponeses. No dia 26 de agosto os deputados, inspirados nas idéias dos filósofos como Hobbes, Locke, Montesquieu e Rousseau, votam a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, com dezessete artigos, o artigo primeiro declarando que todos os homens nascem e permanecem livres e iguais em seus direitos. A 5 de outubro uma multidão de parisienses vai a Versailles revoltada com a oposição do rei à abolição dos direitos senhoriais. La Fayette convence o rei a se mudar para o Palácio das Tuileries, no centro de Paris, a fim de ficar mais perto do povo e dissipar sua desconfiança. O rei se muda no dia seguinte, 6 de outubro. A Assembléia Constituinte também se aloja em Paris, ao lado do palácio.

Apesar de todos os incidentes que a envolveram naquele ano, Madame de Staël publica Courte réplique à l’auteur d'une longue résponse. Tratava-se da sua resposta à crítica preconceituosa que recebeu de Louis-René Quentin, marquês de Richebourg-Champcenetz, com respeito às suas Lettres sobre Rousseau. O marquês comenta que a figura de Rousseau fora degradada, duvida da legitimidade de uma mulher pretender ser escritora, e pede uma "revirilização" do meio literário.

O ano de 1790 foi de grande efervescência política em toda a França. Em Paris multiplicam-se os jornais, os salões nobres tornam-se concorridos e formam-se clubes populares para debates políticos. O advogado Maximilien de Robespierre, deputado da Assembléia, torna-se presidente do clube dos Jacobinos em março. A Assembléia constituinte reforma em profundidade as instituições do país: divide a França em Departamentos, unifica pesos e medidas criando o sistema métrico, introduz o casamento e o divórcio civil, e suprime vários privilégios do clero e da nobreza que oneravam os cofres públicos, e confisca os bens da Igreja Católica. O estado manterá os estabelecimentos religiosos de interesse social, conforme uma Constituição Civil do Clero.

Madame Necker, publica Des inhumations précipitées. A 31 de agosto, nasce em Paris o filho de Germaine, Auguste, o qual, após a morte dela, haveria de editar sua obra completa. A 30 de setembro seu pai demitiu-se do cargo de ministro e foi cuidar de seus negócios na Suíça. Ela o visita periodicamente. Em outubro ela publicou, em pouquíssimos exemplares, Sophie ou les Sentiments secrets, e também Jane Gray, uma tragédia de fundo político. De 10 de outubro ao fim de novembro mora com os pais na Suíça. Passa o início de inverno, de 6 de dezembro 1790 a janeiro 1791  em Lousanne.

Em dezembro de 1791 seu amante Narbone é nomeado ministro da Guerra, em parte graças ao seu trabalho e influência.

Grande leitora de Rousseau, marcada pelas idéias do Iluminismo, Madame de Satël abraçou com entusiasmo o movimento revolucionário. Declarada a Revolução, ela orienta sua obra ainda mais para a política liberal. De janeiro a maio de 1791 seu salão em Paris é local de encontro dos políticos moderados. Em 16 de abril Madame de Staël publica, apócrifo, no periódico Les Indépendants, o seu primeiro artigo conhecido. Nele ela propugna por uma monarquia constitucional como a da Inglaterra, e advoga a educação do povo, que deve ter seus direitos políticos inteiramente respeitados. Os radicais monarquistas e republicanos a atacam.

Neste ano, Louis XVI usa o poder de veto para paralisar os trabalhos da Assembléia, em respeito à reprovação do papa às medidas adotadas. Em 21 de junho o rei  tenta fugir do país com sua família e é preso em Varennes. Em 1º de outubro entra em vigor a primeira Constituição francesa, inaugurando uma monarquia constitucional semelhante à da Inglaterra.

Em março de 1792 Narbone foi demitido; um dos últimos ministros de Louis XVI, pouco depois iria refugiar-se na Inglaterra. Em  20 de abril, a Assembléia Legislativa e o  rei Louis XVI declaram guerra à Alemanha e à Áustria. No verão a França é invadida pelos exércitos alemão e austríaco. Em 14 de julho ela assistiu, no Campo de Marte, a Festa da Federação e do terceiro aniversário da queda da Bastilha. Grande multidão de gente vinda de toda a França estava lá reunida; o Rei fez novo juramento de respeitar a Constituição; foi a última aparição pública da família real antes da decapitação do rei e da rainha. Ainda em julho Madame de Staël, Narbonne e Malouet ofereceram ao rei um plano de fuga, que a rainha recusou. Sua casa, a Embaixada da Suécia na rua de Bac, era território relativamente seguro, apesar do embaixador seu marido encontrar-se fora de Paris na ocasião. Lá ela escondeu e salvou no mês de agosto vários amigos que estavam condenados à execução.

Porém, a partir de então, sua própria situação torna-se insuportável. Em 2 de setembro do mesmo ano, milhares de prisioneiros são assassinados nas prisões, por instigação de Marat. Ela conta, conforme citação de Constance Hill em Juniper Hall (1894 - on-line em http://digital.library.upenn.edu) que, naquela data (estaria grávida do filho Albert), ao tentar sair de Paris, na condição de esposa do embaixador da Suécia, foi detida por uma multidão de revoltosos atraídos pelo luxo de sua carruagem puxada a seis cavalos e acompanhada de vários criados. Escapando em vários momentos de ser massacrada pela multidão enfurecida na Place de Grève, local de incontáveis decapitações durante a Revolução, e onde a 25 de abril daquele ano fora utilizada a Guilhotina em Paris pela primeira vez, ela foi levada pela polícia à presença do Conselho Comunal no Hotel de Ville. Salvou-a seu amigo, o escritor revolucionário Louis Pierre Manuel, procurador da Comuna de Paris e que, no momento em que ela era ouvida pelo Conselho presidido por Robespierre, declarou que se responsabilizaria por ela. Trancou-a em sua sala por seis horas, esperando  que escurecesse para levá-la em casa.

Da janela da sala em que estava confinada, Germaine viu um gendarme da Guarda Nacional proteger sua carruagem prestes a ser saqueada. Mais tarde o soldado entrou na sala com Manuel, e ela soube que ele era Antoine Joseph Santerre, cervejeiro, e fora uma das pessoas encarregadas de distribuir aos pobres, em época de fome, o trigo conseguido por Necker, seu pai, quando no poder. Ela deduziu que ele defendera seu carro e seus pertences na praça, em reconhecimento à bondade de seu pai.

Não encontrei quais argumentos Manuel apresentou a Robespierre, mas é possível que, por estar ela grávida - pois seu filho Albert nasceria pouco depois - não quisessem assassinar um inocente no ventre da mãe. Após as peripécias para obter, com a orientação de Manuel, um novo passaporte, ela consegue no dia seguinte, 3 de setembro, fugir para a Suíça. Manuel morreria na guilhotina em novembro do ano seguinte.

Uma nova Assembléia, chamada "Convenção" é eleita e se reúne pela primeira vez em 20 de setembro de 1792. Nesse dia, em Valmy, no Argonne, os prussianos foram derrotados pelos franceses e recuaram para a fronteira, e os austríacos batidos em Jemappes, na Bélgica, uma possessão austríaca. No dia seguinte, os deputados da Convenção proclamam a abolição da monarquia. Em 10 de outubro uma multidão invade o palácio das Tuileries e prende o rei e sua família na prisão de Temple.

 O Salão em Coppet. Germaine permanece em Coppet até outubro, e depois passa a Rolle, também à margem do lago Leman, poucos quilômetros ao norte de Nyon e de Coppet, onde a 20 de novembro de 1792 nasce o filho Albert. Em fins de dezembro, ela parte para a Inglaterra. Lá encontra, em janeiro, Narbonne e o bispo Talleyrand, Mathieu de Montmorency e outros refugiados políticos franceses, abrigados na mansão Juniper Hall, na vila de Mickleham, no Surrey, e entre eles causou geral consternação, a notícia de que, a 21 de janeiro de 1793, Louis XVI havia sido executado na guilhotina.

Em Juniper Hall ela viveu feliz em um ambiente a seu gosto, de debates políticos, comentários espirituosos e expectativa em relação ao que se passava em Paris. Trabalhou no De l’influence des passions, e conheceu a romancista Fanny Burney que passava férias nas vizinhanças e era sua admiradora. Mas a amizade com a escritora inglesa foi breve. O pai de Fanny Burney, influenciado pelos rumores que os monarquistas espalhavam a respeito da baronesa, principalmente sobre seus amantes, ficou preocupado e não consentiu na aproximação da filha com a ilustre refugiada francesa.  

A 11 março de 1793 começa na França a guerra civil com a revolta dos camponeses do oeste do país. A 28 março é constituído o Tribunal Revolucionário para julgar crimes de traição. A 6 abril  a Convenção confia o governo a um comitê chamado Comitê da Saúde Pública dominado por Robespierre. É o início da perseguição jacobina aos monarquistas e aos republicanos moderados que não aceitam a ditadura. No dia 31 maio e 2 de junho, os girondinos (monarquistas constitucionalistas e republicanos moderados) são presos para serem guilhotinados.

A estada de Madame de Staël na Inglaterra foi interrompida, para seu grande pesar, por um chamado de seu marido. O embaixador enviou um emissário sueco a Ostend, porto belga de movimentada ligação marítima com a Inglaterra, para esperar por ela e conduzi-la em segurança à Suíça. Depois de quatro meses em Londres, em Junho, encontrava-se de volta a Coppet. Conhece então o exilado Adolphe Ribbing, um dos conjurados para o assassinato de Gustave III, rei da Suécia, ocorrido em março de 1792. Seus pais estão em Lousanne. Ela começa a se interessar por ele. Aluga uma casa perto de Nyon, à margem do lago e pouco ao norte de Coppet, para lá esconder os refugiados do Terror, e também Ribbing, de quem se torna amante. A salvo na Suíça, em sua residência de Coppet, publica, no início de setembro do mesmo ano Réflexions sur le procès de la Reine (Reflexões sobre o processo da Rainha) onde toma a defesa da rainha humilhada e maltratada, acusada de crimes que não teria cometido. Nesta obra mostra seu inconformismo com as misérias da condição da mulher, ainda que seja uma rainha, e dirige a todas as mulheres uma emocionante defesa por aquela outra que arrastavam na lama antes de assassinarem.

No dia 13 de julho, Marat, um dos revolucionários mais violentos, é assassinado por uma jovem monarquista, Charlotte Corday. Em 17 de setembro, a Convenção vota uma lei que lhe permite prender, julgar e guilhotinar qualquer um. É o início do Terror, período em que seriam assassinados 20.000 cidadãos por motivos políticos.Os padres que mantêm fidelidade ao Papa são perseguidos e executados.A 16 de outubro a rainha Maria-Antonieta é guilhotinada.

Em 1794 sua mãe, Madame Necker, publica Réflexions sur le divorce. Ela própria publica, a 6 de abril, o romance Zulma, escrito havia algum tempo. A 15 de maio,  Madame Necker morre em Beaulieu. Então Germaine vem residir no castelo de Mézery, próximo a Lausanne, onde permanece até o fim de agosto, e faz fugirem da França vários amigos ameaçados de morte.

A 8 de junho de 1794 acontece a "Festa do Ente Supremo" sob o patrocínio de Robespierre, autor da idéia de uma religião única para os franceses, independente do Papa. A 27 de julho Robespierre e seus amigos são presos, e guilhotinados no dia seguinte. É o fim do Terror.  No outono, seu marido, que pode reabrir a embaixada em Paris, vem a Coppet.

Em fim de julho,  Narbonne chega a Mézery. A ruptura ocorrerá logo. Ribbing permanece em Mézery uma parte do verão e viaja em  7 de setembro. A 18 de setembro,  Germaine encontra pela primeira vez Benjamin Constant em casa de sua prima Constance Cazenove d’Arlens. Um intelectual à sua altura, escritor e político, porém um jogador sempre afundado em dívidas, Constant imediatamente lhe faz a corte, por algum tempo sem sucesso. Era um ano e meio mais novo, e ela termina por se apaixonar por ele. Viveriam  um relacionamento tumultuado, as mais das vezes grandemente frustrante para ela., mas que haveria de durar por 14 anos. Ao fim do ano, sai uma primeira edição, impressa na Suiça por François de Pange, do Réflexions sur la paix adressées à M. Pitt et aux Français.

A partir de janeiro de 1795 Constant vem residir em sua casa. Nesse ano, ocorre a publicação, em Paris, do seu Réflexions sur la paix interieure e do Recueil de morceaux détachés (três novelas e o Essai sur les fictions). Em maio ela vai para Paris com Benjamin Constant e reabre aos amigos o seu salão na rua de Bac. Lá se reúnem, entre outros, Destutt de Tracy e Cabanis. Com o seu pensamento mais afinado com a Revolução, o que ela agora defende é uma república liberal a exemplo dos Estados Unidos da América.

A Assembléia da Convenção reprime os motins monarquistas e anti-realistas, prepara uma nova Constituição e, a 1º de outubro de 1795, um novo regime, o Diretório, sucede à Convenção. No regime do Diretório, são  instalados dois Conselhos legislativos e um Diretório executivo composto de cinco pessoas. Em 15 de outubro, o Comitê de Saúde Pública, órgão executivo da Convenção, ordena a Madame de Staël deixar a França. A 22 de abril de 1796 o Diretório decretou sua prisão se ela fosse encontrada na França.

Em fins de julho está de volta a Coppet e, no início de outubro, ela publica De l’influence des passions. Sua obra mais aplaudida talvez tenha sido o De l’influence des passions sur le bonheur des individus et des nations, também deste ano, um tratado sobre a relação entre as paixões e a felicidade, considerado um importante marco do Romantismo Europeu. Ela adotou a nova corrente literária desenvolvida principalmente na Alemanha, lendo o velho crítico suíço K.V. von Bonstetten; Humboldt e, principalmente, os irmãos August Wilhelm e Friedrich von Schlegel, que estavam entre os Românticos alemães mais influentes.

Sua filha Albertine, nascida em 8 de junho de 1796, foi tida como filha de Constant. Seu casamento com o Barão de Staël-Holstein terminou com uma separação formal, devido aos grandes débitos do marido, contraídos no jogo, que se via compelida a resgatar. Neste ano, publicou Essai sur les fictions. Goethe apreciará essa obra a ponto de traduzi-la para o alemão no ano seguinte ao de sua publicação. O grande escritor passa a acompanhar com interesse os trabalhos de Madame de Staël, juntamente com Schiller e o cientista Wilhelm von Humboldt; este último será, a partir de então, um dos amigos mais caros para ela e insistiu que somente ela poderia tornar a cultura e o pensamento alemão conhecidos na França. Em  dezembro ela parte clandestinamente com seu amante Benjamim Constant para a França. Fica na casa dele em Hérivaux.

À frente do exercito francês, Napoleão conquista, naquele ano, o centro e o norte da Italia, que renderão para a França os recursos que ela desesperadamente necessita para recuperar suas finanças.

Napoleão Bonaparte. Em abril de 1797, Madame de Staël pode se reinstalar em Paris à rua de Bac. Em dezembro assiste a apresentação solene de Napoleão ao Diretório. Napoleão então lhe pareceu o líder liberal que poderia fazer triunfar a liberdade, o que a Revolução não havia conseguido realizar. Porém Napoleão sabia de suas idéias políticas, contrárias às suas, e a olhava como um perigo em potencial. Ainda em 1797 ela funda o Cercle constitutionnel com Constant, e outros políticos e intelectuais moderados. Ela influiu sobre Barras para que o amigo Talleryrand fosse nomeado ministro das Relações Exteriores; e em julho, ele foi nomeado para o ministério.

Em setembro do mesmo ano de 1797, ocorre o golpe de Estado. Germaine salva vários amigos ameaçados e se retira por algum tempo para Ormesson. A 18 de outubro de 1797, o général Bonaparte impõe paz à Áustria acabando com a antiga coalizão montada contra a França.

Em janeiro do ano seguinte mais uma vez retorna a Coppet. Neste mês Napoleão à frente do exército francês invade a região do Vaud, na Suíça. Genebra cai em poder dos franceses. Em junho Germaine retorna à França e se instala em Saint-Ouen, na mansão de seu pai.

Em 1798 a França é ameaçada por uma segunda coalizão de países liderada pela Inglaterra, com a liderança de William Pitt, o jovem. A França depende dos impostos cobrados nos países conquistados e não pode perder suas conquistas.

A fim de economizar com as despesas de casa, Germaine se instala com os seus na rua de Grenelle, em um Hôtel menos custoso que o da rua de Bac. Escreve Des circonstances actuelles qui peuvent achever la Révolution, um apelo à razão, para tirar a França da anarquia. Em outubro novamente retorna a Coppet, onde passa o inverno. Constant se separa dela e volta a Paris. Ela começa a escrever a obra De la littérature. Permanece em Coppet até abril, quando volta para Saint-Ouen. Retorna a Coppet em julho e lá permanecerá até o início de novembro do ano seguinte.

No início de 1799 a coalizão de países que combate a Revolução na França pretende colocar Louis XVIII no trono; e o papa quer cobrar indenização pelas perdas da Igreja em França. Os membros do Diretório que é liderado pelo abade Emmanuel-Joseph Siyès (1748-1836), vigário geral e chanceler da diocese de Chartres, eleito deputado dos Estados Gerais pela cidade de Paris, decidem confiar o país a um general.

O General Napoleão Bonaparte, que estivera combatendo os ingleses no Egito, desembarca em Fréjus, a 8 de outubro, não propriamente vitorioso, tendo deixado suas tropas no Egito impedidas de embarcar pela armada inglesa. De volta, encontrou a França mergulhada na crise. Sieyès, hábil político e membro do Diretório, planejou o golpe que poria fim ao regime revolucionário. Com a execução, em 9 e 10 novembro de 1799 (18 de Brumário) do golpe de Estado,  o regime do Diretório é transformado no Consulado, do qual o general Bonaparte é o Cônsul primeiro, e os dois outros, o advogado Pierre Roger Ducos (1754-1816) eleito para a Convenção pelo departamento de Landes e que havia votado pela morte de Louis XVI, e o abade Sieyes.

Após o golpe de 9 de novembro, que inaugura o Consulado, Germaine e seu grupo ainda vêem no Primeiro Consul um possível restaurador da República. No dia do golpe ela volta a Paris.

A 4 de dezembro, Constant é nomeado, por Sieyès, para o Tribunat dos Consuls de la République. No entanto, o primeiro discurso de Constant no Tribunat, nos primeiros dias de 1800, excita a cólera de Bonaparte, o Primeiro cônsul. O discurso fora preparado em casa de Germaine e ela encorajara Benjamim a pronunciá-lo. Em seu (Dez anos de exílio - Ed. do Projeto Gutenberg, 2005) diz que, se soubesse a perseguição que sofreria devido a esse envolvimento, talvez tivesse agido diferente. Napoleão também acusa Madame de Staël de haver deixado seu marido na miséria.

Apesar de sua frieza com respeito a Madame de Satël, Napoleão, desejando seu apoio, havia aceito seu amante Constant no Tribunat, e através do seu irmão Lucien Bonaparte, amigo de Germaine e freqüentador de sua casa, oferece pagar a Necker os 2 milhões que o Estado lhe devia. Quando, mais tarde, na campanha para conquista da Itália, ao passar por Genebra, procura um encontro com seu pai. O ex-ministro é simpático ao Cônsul, e sem tocar no assunto do que tinha a receber do Tesouro, apenas encarece ao Cônsul um bom relacionamento com sua filha. Em suas memórias Madame de Staël diz acreditar que esse apelo de seu pai garantiu que ela pudesse permanecer em Paris por algum tempo.

Em abril de 1800, Madame de Staël publica De la littérature dans ses rapports avec les institutions sociales. O livro foi um sucesso e fez o seu salão, vazio desde o atrito com Napoleão, novamente receber a elite de Paris. No entanto, o que diz nesse livro que a literatura francesa precisava dos costumes de uma república para se regenerar , desagrada o governo. Em maio, ela deixa Paris por passar, como de hábito, o verão com seu pai em Coppet. Lá Constant se junta a ela em julho; ela começa a redigir o Delphine e aprende alemão. Trabalha também a 2a. Edição do De la littérature, que publicará ainda em novembro, quando  retorna a Paris. Retoma sua rotina usual de encontros entre intelectuais e políticos em sua casa. Conforme relata, estrangeiros a tratavam com distinção, o corpo diplomático a visitava constantemente, e estas provas de prestígio eram sua salvaguarda.

Em 1801, em Coppet, ela conhece Sismondi, economista de Genebra, que virá a ser um de seus amigos mais fieis. Passa os primeiros meses de 1802 em Paris, e obtém sua separação do Barão de Staël, e retorna a Coppet.

O ex-marido falece em maio, em um albergue em Poligny, quando estava a caminho de Coppet. Em agosto seu pai publica o Dernières vues de politique et de finances, que aumentam o desfavor do pai e da filha perante o Primeiro Cônsul. Ao final do ano, em Dezembro, publica Delphine, a história de uma jovem inteligente, boa e correta, que perde todas as ilusões sobre os outros e sobre si mesma, enredo que a autora utiliza para passar suas idéias sociais, políticas e religiosas, e também sua visão da condição inferior da mulher mesmo nos países mais civilizados. De 2 de novembro a 3 de julho reside em Genebra.

Em fevereiro de 1803 e durante a primavera, devido à guerra com a Inglaterra, os ingleses residentes na França começam a ser presos, medida que atinge a vários de seus amigos. Irritado com a repercussão do Delphine, a 10 de fevereiro, o Primeiro Cônsul faz saber a Madame de Staël que ela devia se manter fora de Paris. Porém, em setembro, pensando que Bonaparte já se esquecera dela devido a estar muito ocupado com seus planos contra a Inglaterra, ela retorna à França; evitando Paris, se instala em uma pequena propriedade que possuía em Maffliers, a dez léguas da capital. Sua intenção era passar ali o inverno e receber alguns amigos, e mesmo aventurar-se até Paris para ir ao teatro e aos museus. Porém uma intriga dizendo que as estradas estavam cheias de gente que ia visitá-la, fez que o Primeiro Cônsul determinasse, no início de outubro, que ela deixasse a França. Em favor dela falaram os irmãos do Cônsul, Joseph e Lucien Bonaparte, e outros amigos, mas ninguém conseguiu demovê-lo. Uma tarde chegou ao sítio o comandante da guarda do Palácio de Versailles, vestido à paisana, com uma carta assinada por Bonaparte, determinando que ficasse a uma distância mínima de 40 léguas de Paris, sob pena de ser tratada como estrangeira e entregue à polícia. Acompanhada do policial, tolerante em lhe permitir algum tempo para se preparar, ela foi com os filhos a Paris, e ocupou por uns dias uma casa que havia alugado pouco antes. Joseph Bonaparte voltou a interceder por ela, novamente sem resultado. Por convite dele e de sua esposa, ela foi passar três dias com eles em sua casa de campo em Morfontaine, levando consigo o filho Auguste.

Viagem à Alemanha e à Itália. Decidiu, em lugar de voltar para a Suíça, seguir para a Alemanha, valendo-se de convites que havia recebido antes para visitar a Prússia. Joseph Bonaparte conseguiu-lhe várias cartas de recomendação para Berlim. Acompanhada de Benjamim Constant e de seus filhos, ela encetou viagem rumo a Alemanha. Pernoitaram em Chalons e no dia seguinte alcançaram Metz, onde se deteve por 15 dias para trocar cartas com seu pai, informando-o de seus problemas e de sua viagem. Em Metz, um pouco ao sul de Luxemburgo, Em Metz conhece a Charles de Villers (1765-1815), um grande conhecedor da Alemanha. Ela decide escrever a respeito da Alemanha cuja cultura era praticamente desconhecida para os parisienses.

Ela queria demonstrar a Napoleão Bonaparte que não era uma qualquer: A celebridade de seu pai e a dela própria era uma garantia de que seria recebida em todas as cortes. Mas, o que realmente a tornava importante era a hostilidade com que era tratada por Napoleão. Realmente, as portas se abrem para ela e as Cortes lhe dão tratamento digno de um Chefe de Estado. Em meados de novembro detém-se em Frankfurt, por motivo de doença da filha Albertine, então com cinco anos. Nessa ocasião troca cartas com o pai, que lhe envia opinião de médicos e receitas para a netinha. Recuperada a saúde da menina, prossegue seu itinerário para nordeste até Weimar, onde permanece de dezembro a fevereiro do ano seguinte, e onde Benjamim Constant a encontra e novamente se une a ela. Foi recebida com familiaridade na Corte de Weimar, visita com freqüência Goethe, Schiller e Wieland. Ela se surpreendeu com o grande progresso intelectual que descobriu em Weimar. Anotou os costumes, a psicologia do povo. Estudou a língua alemã para ler e traduzir ela mesma as obras dos escritores que conheceu, e de outros intelectuais que ainda encontraria no caminho, como o já famoso Auguste Wilhelm Schlegel que, junto com seu irmão, representavam o movimento intelectual Sturm und Drang.

Em março de 1804, ela passa de Weimar para Leipzig, de onde Constant retorna a Genebra. De lá, agora rumando para o Norte, chega a Berlim, onde permanece por quase um mês e meio (de 8 março a 19 de abril). É apresentada à corte, e freqüenta os salões berlinenses, onde conheceu Schlegel; ela o convence a ser o preceptor de seus filhos. Mas seu cicerone na Alemanha foi um jovem inglês estudante em Jena., Henry Crabb Robinson.

Seu pai falece em 9 de abril. Acreditando que ele estivesse apenas doente, ela deixa Berlim somente no dia 18 . Em quatro dias chega a Weimar, onde é informada do falecimento do pai e encontra Benjamim que viera confortá-la.

A 19 de maio chega a Coppet, onde permanece até 1 de agosto. Lá Germaine se recusa a se casar com Benjamim Constant, para não perder o sobrenome Staël e o título correspondente. No outono, ela publica os Manuscrits de M. Necker, com uma introdução Du caractère de M. Necker et de sa vie privée. Passa de agosto a setembro em Genebra, e de setembro a novembro em Coppet.

Ainda de luto pela morte do pai, em dezembro, depois de alguns dias em Lyon, ela parte para a Itália com o preceptor Schlegel. Sismondi se juntará a eles no caminho e será seu guia na Itália. Passam por Turin, e o ano novo em Milão, onde reencontra o poeta Vincenzo Monti.

Em fevereiro de 1805, visita Roma e vai a Nápoles, onde é recebida com grande deferência pela rainha Carolina. Retorna a Roma onde permanece de março a maio; frequenta a sociedade romana e encontra o seu amigo o cientista e diplomata Wilhelm von Humboldt,  e flerta com um jovem diplomata português, dom Pedro de Souza, futuro duque de Palmella. Foi aplaudida no Capitólio pela Academia das Arcádias.

Em maio, fazendo seu percurso de volta, passa por Florença e Veneza. Em junho chega de volta a Milão, após a coroação de Napoleão como Rei da Itália. Em 12 dias chega a Coppet, onde passaria ainda sete anos de exílio. Passou um ano entre Coppet e Genebra. Em o Dix années d’exil ela expõe, com eloqüência, a luta desigual do indivíduo desarmado contra um poder tirânico.

Constant insiste em desposá-la, mas ela mais uma vez recusa. Reencontra Prosper de Barante, com o qual mantem uma ligação amorosa. Ela começa o romance Corinne. Em agosto do mesmo ano seu filho Auguste de Staël parte para Paris, afim de se preparar para a Escola Politécnica. Em agosto ela recebe em Coppet uma visita de François-René de Chateaubriand,  autor de Le génie du Christianisme (Paris, 1802). Ela compõe o drama Agar dans le désert. No inverno, ela e Constant se instalam em Genebra.

Rubem Queiroz Cobra            
Doutor em Geologia e bacharel em Filosofia

Lançada em 18/12/2005

Para a 2a. parte do texto clique em CONTINUA

 

Direitos reservados. Para citar esse texto: Cobra, Rubem Q. - Madame de Staël. Cobra Pages - www.cobra.pages.nom.br, Internet, 2005. ("www.geocities.com/cobra_pages" é "Mirror Site" de COBRA.PAGES)

Utilize a barra de rolagem desta janela de texto para ver as NOVIDADES DO SITE
Obrigado por visitar COBRA PAGES

Todos os links desta página devem estar funcionando. Se há um link nesta página que não está funcionando, por favor, avise-me. Insira em sua mensagem o TÍTULO da página onde encontrou o link defeituoso. Fico-lhe antecipadamente agradecido pela cortesia de sua colaboração.
Rubem Queiroz Cobra

1