COBRA PAGES -- Quem somos |
|
COBRA PAGES: |
||
O ORIENTADOR EDUCACIONAL E O SEU MOMENTO
Página de Educação e
Comportâmento |
Quero, em primeiro lugar,
dizer qual a razão do título e qual o propósito desta página. Não me considero um
simplista ao afirmar que a Educação não é mais que o ensino de como
sobreviver e de como
conviver. As artes e técnicas das profissões
necessárias para o sobreviver,
acrescidas de pinceladas de uma cultura geral frágil, cujo objetivo
é levar vantagem na competição pela sobrevivência,
preenchem
praticamente todo o currículo escolar. A educação para conviver é
secundária. No entanto, para o
bem da humanidade, ensinar a conviver
deveria vir antes – deveria preceder a todo o resto da pedagogia. Enquanto para ensinar a
sobreviver
a Escola conta com especialistas em cada matéria, para ensinar a conviver ela dispõe, na maioria das vezes – entre
as dezenas de professores –, de apenas um, que carrega nas costas essa
tarefa, e este é o Orientador Educacional. Quando ele falta, ou não é
competente, ou não dispõe de meios, então resta apenas a repressão: um
diretor que suspende alunos, disciplinários ou auxiliares de ensino que
repreendem, advertem, e tentam manter a ordem em clima de confronto. O indivíduo problemático é
sempre o que não se adapta, o que não convive bem com os outros,
desde os primeiros anos da sua formação. Resumindo, é um imaturo.Como
estudante, é o que cria diariamente grandes perturbações na escola, não
chega sequer a formar
um grupo
com os demais, uma classe à qual
possa ser ensinada qualquer matéria. Se é o líder da desordem, como poderá
aprender o que necessita para ter emprego e salário, criar uma família
respeitável, e assumir outras responsabilidades sociais importantes?
Quando ele se mantém um desajustado irresponsável, por exemplo, na
Faculdade de Medicina, como poderá ser um bom médico? Infelizmente assim
são em geral as Escolas, e assim são em geral os alunos, sejam eles
favelados ou gente rica. Formação Comportamental. Acredito que os alunos receberiam com interesse ensinamentos relativos à maturidade pessoal, à aceitação no convívio social; posturas corretas respeitantes a Boas-maneiras e Etiqueta; conhecimentos sobre as profissões, e outros temas, inclusive um "tira-dúvidas" em assuntos de natureza mais pessoal e íntima, ou qualquer tópico que preocupasse a algum dentre eles. A atividade que chamo Formação Comportamental compreenderia palestras de especialistas convidados, grupos de discussão, projetos, visitas educativas, teatro pedagógico, redação de textos, etc. distribuídos ao longo dos anos do Ensino Fundamental (antigo Primeiro Grau) e do Ensino médio (antigo Segundo Grau); para seu desafogo, não seria limitada a um único período letivo. É importante que a Formação
Comportamental tenha caráter de atividade aberta, sem o conteúdo
programático fixo de uma disciplina. Assim se evitaria que despertasse
antagonismos e contestações, ou se alegasse ser limitadora da liberdade
individual, ou que representasse essa ou aquela corrente de pensamento,
uma reação que seria semelhante à oposição que despertou o ensino da
disciplina "Moral e Cívica" no passado. Não comportaria avaliações,
pois o aluno não gostaria de ser avaliado e receber menção em uma matéria
que ele entenderia ser de sua livre aceitação. Porém, a sua sistematização
como atividade definiria seu caráter pedagógico, e evitaria que fosse
tomada como simples atividade de "aconselhamento". A Formação
Comportamental tem por objeto essencialmente o ensino da boa convivência
e dos meios para o jovem alcançar sua
maturidade pessoal.. O Orientador Educacional.
Desde l942 as leis brasileiras fazem obrigatória a orientação
educacional nas escolas. Na maior parte dos casos, os orientadores
educacionais são consultores para a Direção e interlocutores entre os
pais, o aluno e a escola. Disciplinam o estudante, 3reúnem-se e discutem
problemas didáticos e disciplinares com os professores e com os pais do
aluno, aplicam e interpretam testes padronizados, promovem eventos que
estimulam o relacionamento interpessoal, e aconselham o encaminhamento a
psicólogos e psiquiatras dos casos de desvios mais complexos. Sempre
pensei que o Orientador Educacional poderia fazer muito pela formação do
aluno se ele pudesse reservar algum tempo justamente para ensinar os
alunos a Conviver –
na Escola e, por extensão, na família e na sociedade. Faria isto por
meio DA Formação Comportamental, como uma atividade educativa
paralela, extracurricular, uma vez que os currículos abrem pouco ou
nenhum espaço para isto. Meu propósito aqui é sugerir o modo como essa
atividade poderia se concretizar em clima de autonomia e criatividade,
responsabilidade e disciplina. O tom convocatório do título é por
pensar que uma orientação firme no sentido moral, psicológico e cívico,
nunca foi tão urgente para a juventude como nos dias atuais. Apresentada
a proposta, quero torná-la mais clara particularizando alguns tópicos
que integrariam a programa da Orientação Educacional, dos quais alguns já
estão esboçados nas páginas deste Site. * Psicologia.
Desde a época em que meus cinco filhos cursaram o Ensino Fundamental e o
Ensino Médio, me pareceu que um curso de Psicologia na escola seria de
grande proveito para a formação dos jovens. Por não existir um tal
curso, tive eu próprio que me desdobrar para orientá-los no
relacionamento com os colegas, em vencer a timidez, na escolha da profissão,
e no lidar com todo tipo de problemas comuns à infância e à adolescência.
A
minha convicção do valor do ensino da Psicologia na escola primária ou
secundária cresceu ainda mais em duas oportunidades: a primeira quando,
estando nos Estados Unidos, tomei conhecimento de que lá esse ensino era
ministrado tão cedo quanto o final do Ensino Fundamental de nossas
escolas. A segunda vez, devido às descobertas no campo da química
cerebral relativa ao comportamento, ocorridas pouco depois. Os
Estados Unidos têm mais de um século e meio de experiência no ensino de
Psicologia aos jovens como uma disciplina curricular. Na
tese de doutorado de Bob Thornton (A national survey of the teaching of
psychology in the High School. Department
of Education, Duke University, 1965, 114 p.), encontramos que o ensino de
psicologia na escola de Ensino Fundamental e Ensino Médio já não era
novidade naquele país desde a segunda metade do século XIX. Com o título
de "Filosofia da Mente", um curso de psicologia filosófica era
oferecido nas escolas
Em
1988, atendendo gentilmente a um pedido meu, a American Psychological
Association enviou-me alguns dados que então eram recentes. A A. P.
A. tinha como afiliados seus, em 1986, um total de 929 professores de
psicologia de escolas secundárias. Juntamente com esta informação,
recebi também uma cópia de um relatório apresentado por Rachel G.
Ragland, da Universidade de Columbia, na convenção daquela Associação
realizada em agosto de l987,
Geralmente
o Orientador educacional no Brasil é formado em Pedagogia, com
disciplinas de Psicologia. Orientadores que conheci seguiam em geral a
abordagem "rogeriana", baseada em Carl
Ransom Rogers, então um psicólogo influente, para quem era
importante a qualidade do relacionamento pessoal entre o aluno, o
professor e o Orientador, que deveria ser caloroso, genuíno e cheio de
simpatia. Alguns, porém, preferiam uma densa abordagem
psicanalítica, seguindo ortodoxamente a Freud,
enquanto outros seguiam a linha adleriana (baseada em Alfred
Adler), e outros ainda eram comportamentalistas (o behaviorismo de Burrhus
Skinner). Posteriormente a Análise
Transacional tornou-se também objeto de interesse, porém com menos
proeminência que as linhas clássicas citadas. Clique por favor nos links
em letras azuis para ver as páginas. * Família. Parece-me
merecedora de destaque, por ser de grande influência sobre a
personalidade do aluno, a problemática do relacionamento familiar, hoje
considerada um campo específico da psicologia social.
* Psicofisiologia.
Além de concluir do exemplo de ensino da psicologia nos Estados Unidos a
viabilidade de um projeto semelhante para o Brasil, outra influência para
mim foi o súbito desenvolvimento da Psicofisiologia, da Psicofarmacologia
e da Neurologia Com
respeito a esse item, me parece importante negar, com base nos achados da
própria Psicofisiologia, o determinismo aparentemente implícito nas
revelações científicas. É o que procuro demonstrar na página "A
ilusão das fórmulas comportamentais", onde abordo também a não
menos importante questão da objetivação de valores. * Civilidade.
Atentar para os valores éticos não pode, em meu entender, resumir-se à
preocupação moral. A Ética é mais abrangente que a Moral, e por isso
existem na Ética valores outros, além dos valores propriamente morais. O
respeito aos sentimentos alheios e a busca de criar bem-estar e felicidade
no relacionamento interpessoal estão entre eles. Portanto, a este campo
ético que está fora da Moral considero que pertença a Civilidade,
compreendendo Boas
Maneiras e Etiqueta, cujas noções precisam integrar, também, a Formação
Comportamental. Nas páginas do Site sobre esses itens o
Orientador Educacional encontrará ainda importante matéria sobre higiene
pessoal e ambiental.
Tenho ao seu dispor, também, a apostila Etiqueta e Comportamento
Social, cuja sinopse pode ser vista em Livros
do Autor. Em
relação a Boas-maneiras e Etiqueta, um instrumento educativo importante
pode ser o Baile-de-debutantes.
Muitos resumos da história do Baile-de-debutantes salientam suas origens
nas cortes européias, e colocam a finalidade original do baile na
necessidade vulgar da jovem encontrar um marido rico. È duvidoso que um
baile fosse suficiente para isto. Os autores desses resumos ignoram que as
moças eram observadas pela nobreza quanto ao seu desembaraço social, a
correção de suas maneiras e seu conhecimento de etiqueta, e sua inteligência
e argúcia na conversação. Põem de lado a real finalidade da apresentação
na corte, que era demonstrar que se achavam preparadas e aptas ao convívio
com a elite social. E ignoram também quanto as jovens tinham que se esforçar
para atingirem esse patamar de conhecimento e de maturidade. O
Baile-de-debutantes é
precedido por uma etapa educativa, de modo que a realização do projeto
do Baile em sua inteireza implica em várias atividades práticas das
quais as jovens adolescentes tiram lições para sua vida adulta. Uma
delas é o trabalho social, que as coloca em contacto e interação com
pessoas, famílias e comunidades, através do trabalho caritativo junto a
uma creche, hospital, asilo de idosos, etc. Outra é a formação da sua
consciência de cidadania, através de explanações sobre a organização
política e social, marcadas por visitas às sedes dos poderes executivo e
legislativo de seu Município, do seu Estado ou do País, e a museus e
locais históricos. E, finalmente, o curso de Boas-maneiras e Etiqueta
integrado a esse programa preparatório para o sua apresentação à
sociedade, que se dá através do baile, que é o coroamento do projeto.
Esta pode, portanto, ser uma promoção de interesse para a Formação
Comportamental digna de consideração da parte dos Orientadores
Educacionais, em que pese não ser um empreendimento fácil e depender de
recursos para o seu custeio. * O
Teatro Pedagógico, ou
Teatro Educativo, é um instrumento tradicional da pedagogia. Os missionários
jesuítas, conscientes da estreita relação entre religião e cultura,
criavam escolas em todas as aldeias que fundavam, e se valiam
magistralmente desse método que consiste em trazer para a sala de
aula as técnicas do teatro e aplicá-las na comunicação do
conhecimento. Esteja o aluno como espectador ou como figurante, o Teatro
é um poderoso meio para gravar na sua memória um determinado tema, ou
para levá-lo, através de um impacto emocional, a refletir sobre
determinada questão moral. Noção
de valores. Finalmente, que
valores norteariam a atividade educativa da Formação Comportamental e o
preparo do Orientador Educacional que caberia à Pedagogia Comportamental?
Em minha proposta, que divulguei em conferências e artigos de jornal ao
final dos anos 70 e início dos anos 80, era um pressuposto que os valores
morais estariam dados pela educação doméstica e religiosa, e o curso
seria de noções puramente de Psicologia Social. Na época me pareceu que
interferir nas noções de valores do estudante poderia ser considerado
uma intromissão indesejável. A formação individual para o bem e o
correto viria do lar e da Igreja, e apenas precisaria ser complementada
com os elementos de psicologia, na escola. Porém,
as dificuldades dos estudantes são radicadas, na sua maior parte, em seu
ambiente doméstico, onde a criança e o jovem estão sujeitos a sofrer em
conseqüência de toda sorte de problemas, que podem proceder da condição
de pobreza, da má alimentação, do despreparo dos pais, da necessidade
de trabalhar ainda com pouca idade, da exploração que sofrem, da influência
de companheiros de rua, etc. Falhando a educação doméstica, é certo
que dificilmente freqüentará uma igreja, para lá receber uma formação
moral religiosa. Sua última esperança e derradeira oportunidade pode ser
algum socorro que receba de sua escola. Esse
cuidado em não ultrapassar domínios da responsabilidade da família não
pode ser um empecilho. Também o ensino religioso não pode ser visto como
insubstituível, porque não é a única fonte de conhecimento de valores
morais: existe também a Filosofia. Se, através desta última, sacarmos
da própria condição humana os valores nela reconhecíveis, poderemos
honrar esses valores como um ideal ético básico para todas as pessoas. Pedagogia
Comportamental. A fim de se
preparar para a atividade Formação Comportamental o Orientador teria,
ao nível universitário da sua preparação, um grupo de matérias distribuídas
em semestres letivos, constituindo uma nova disciplina que chamo tentativamente Pedagogia
Comportamental. Essa disciplina, de caráter multi-setorial, reuniria
tópicos de Psicologia e Psicofisiologia, Higiene, Responsabilidade Ecológica,
Boas-maneiras e Etiqueta, e de outras áreas, orientados para a
maturidade pessoal do aluno, e escolhidos debaixo de um
critério ético para valores
humanos fundamentais, além de itens metodológicos e ferramentas pedagógicas
como, por exemplo, técnica e crítica teatral voltadas para o teatro
pedagógico, e outras técnicas didáticas que fossem adequadas à
atividade. Rubem Queiroz Cobra Aberta em 19/02/2003 |
Direitos reservados. Para citar este texto: Cobra, Rubem Q. - O orientador educacional e o seu momento. COBRA PAGES: www.cobra.pages.nom.br, Internet, Brasília, 2003. ("Geocities.com/cobra_pages" é "Mirror Site" de COBRA.PAGES)
Utilize a barra de rolagem desta janela de texto para ver as NOVIDADES DO SITE
Todos os links desta página devem estar funcionando. Se há um link nesta página que não está funcionando, por favor, avise-me. Insira em sua mensagem o TÍTULO da página onde encontrou o link defeituoso. Fico-lhe antecipadamente agradecido pela cortesia de sua colaboração.Rubem Queiroz Cobra |