domingo — 17.9.2000

3:12 18-09-2000

Não tenho vontade de fazer nada. Não tenho sequer vontade de levantar. Odeio o sol com todas as minhas forças. Mas quando eu acordo de verdade não consigo mais ficar deitado. Respiro fundo, olho pro teto, pra janela e levanto.

Está garoando. U-hu!

Boto uma roupa e vou pro Il Caffé di Roma, experimentar o capuccino com natas (creme), o café guatemalteco e o etíope. E o folhado de espinafre que me fez lembrar do tempo em que o Bread & Co. era delicioso (hoje é apenas bom). Os cafés são bons (o guatemalteco é mais ácido, o etíope mais encorpado). E o folhado, delicioso. Ah, uma dica: peça o creme "on the side". Vem uma montanha e o café fica escondido...

A chuva havia parado no minuto em que pus o pé para fora do hotel. É claro... Quando saio do café o sol já está reclamando o espaço que parece ser cativo. A chuva, penso, foi apenas um erro... Resolvo voltar pela rua e praça das Amoreiras, fazendo um tempo para talvez assistir alguma coisa na TV ou escrever esses relatos e colocar as páginas no ar, que eu ando meio relapso.

Ao passar pela Praça, escrutinando a vizinhança com vagar, descubro o Museu da Fundação Arpad Szenes - Vieira da Silva. O museu é pequeno e apresentava parte do acervo de Arpad Szenes e sua mulher Vieira da Silva (Maria Helena, se não me engano). A história dos dois é interessante (eu conto depois) e o trabalho da Vieira da Silva é bem melhor que o do Arpad. Esse acervo está dividido entre o período em que eles moraram no Brasil e o "resto". Do acervo eu destacaria os quadros La Macumba e o trabalho dela sobre Nova Amsterdã e a «Biblioteca».

Volto para o flat decidido a bundar o resto do dia, mas meu chefe me liga e e pergunta se eu quero dar uma volta até Sintra. Kazi pensa duas vezes mas enfrenta a preguiça. E lá vamos, pela estrada que leva a Cascais e alhures, passando novamente por Estoril (e em frente ao cassino onde Elton John deixou os portugueses a ver navios, numa história que ninguém ainda explicou). Sugiro Cabo da Roca e cola. Oba, fotos!

No caminho para Sintra, via Cascais, há uma feirinha que, me dizem, é uma das melhores para se comprar coisas. Que coisas? Verduras e frutas... OK, vá lá. Aqui, ao menos, deve ser tudo natural, sem agrotóxico. Ou não.

Sintra é uma cidade na Serra de Lisboa, incrustada nas pedras, com suas famosas quintas, que são espécies de chácaras ou sítios, mas perde-se a noção de quão velhos são estas. A viagem de ida é alucinante, uma estrada estreita que, em partes, só um carro passa, às vezes com as paredes das quintas a comer o acostamento. E as quintas vão se sucedendo e o tempo vai recuando.

Não consigo contá-las, não registro mais que borrões do carro em movimento. Mas são belas. Passamos pela entrada do Castelo da Pena e do Castelo dos Mouros, passamos em frente à Quinta da Regaleira e ao Palácio de Seteais (que é um hotel).

Em Sintra há para se visitar o Museu do Brinquedo, o Palácio Nacional de Sintra o Centro da cidade e a Piriquita, que serve os mais famosos travesseiros de sintra (folhados com recheeio de ovos e amêndoas). Almoçamos num restaurante qualquer duma rua qualquer. O país se mostra cada vez mais belo, há cada vez mais lugares para ir ver com calma (Sintra, por exemplo deve ser visitada assim: pega-se o trem até lá e hospeda-se numa pensãozinha para visitar os castelos a pé, um dia para cada dois, talvez, e mais um dia para a cidade) e com tempo. E com alguém com quem você dormiria... Mas continuo a encontrar atitudes que me deixam cabreiro com Portugal. Acho que estou dando azar...

Voltamos a tempo de eu ir até a casa do Manoel preparar a macarronada que havia prometido. Fica um pouco ácida (já disse que vou ter de me acostumar aos ingredientes daqui). Daí para casa e para mais uma semana de trabalho.



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