domingo — 27.8.2000

?? 28-08-2000

É domingo e tudo está deserto. Volto a comer no Tivoli Forum. Há uma pastelaria chamada (sic) «A Padaria», que serve um pretzel aportuguesado (recheado com doce de ovos) que é uma delícia. Ah e a média aqui se chama café com leite a galão.

Vou dali direto para a Spread (é meu empregador, não havia dito?) e trabalho o dia inteiro, até umas 21h. Saindo dali, a intencão era assistir a Gone in 60 Seconds, mas ligo pro meu chefe e ele diz que David (do marketing) nos convidou para jantar em Alfama. Não precisa dizer duas vezes.

Vou dirigindo o Vitara da mãe de David até Rua do Terreiro do Trigoveja foto, onde estaciono e subimos as ladeiras, becos e vielas de Alfama, entrando num labirinto fantásticoveja foto que não me preocupo em decifrar, até a Calçadinha de Santo Estêvão, onde fica o restaurante Pateo 13veja foto. David quer que experimentemos as sardinhas portuguesas, com um sorriso que mal esconde a troça (eles não conseguem ser malandros, nem com esforço). Entro na brincadeira e peço as tais sardinhas, para ouvir do garçon que acabaram-se. Linguado, então, que era meu pedido original. Bebemos uma sangria bem razoável e não consigo fotografar a menininha em trajes típicos que tenta, em vão, vender flores aos turistas. Saímos dali e ficamos dando voltas até chegar na igreja de Santo Estêvãoveja foto, no largo homônimo, onde há um mirante que rende a única foto decente da noiteveja foto.

Voltamos sei lá por onde, passando por casas de fado (que serão visitadas oportunamente) onde lamentam as cantoras os amores perdidos. Mais algumas voltas e chagamos ao Pateo do Peneireiroveja foto, onde há um restaurante muito simpático com mesas do lado de fora e onde o fado rola solto. Um dos clientes se empolga e começa a cantar. O fulano não tem voz mas, enebriados todos, isso não parece fazer a menor diferença.

Alfama é ímpar. Habitada por visigodos no século V, foi dominada pelo mouros, que lhe deram o nome. Dizem que ainda há vestígios dos visigodos (os visigodos são os godos do leste, ou esses são os ostrogodos, eu nunca sei) por ali, mas eu ainda não fui à caça desses sítios. A presença dos mouros, entretanto é mais fácil de perceber. Alfama permanece medievalveja foto porque foi um dos poucos bairros da cidade poupados no terremoto (e subseqüente incêndio) de 1755.

Hoje em dia o fado escorre pelas vielas saído dos restaurantes, os gatos povoam os becos, que são infinitos em sua pequenez e simplicidade. Olhe com carinho, além das óbvias armações para turistas, e você vai ver que Alfamaveja foto está aqui desde o começo do mundo.

«Isso aqui é uma aldeia», diz-me David. Como se Lisboa toda não o fosse, penso e me calo, em polidez exemplar. Voltarei aqui, com certeza, para subir até o castelo de São Jorge, escalada pouco democraticamente abortada (nosso chefe não queria subir as escadarias à meia-noite).

Voltamos ao carro e David nos leva a um rápido giro passando pelo Panteão Nacional, Santa Apolônia, mosteiro de São Vicente de Fora e dali para a Rua da Graça, de onde subimos pela Rua da Senhora do Monte até o Mirante da Senhora do Monte. Uma visão incrível da cidade à noite, dominada pelo Castelo de São Jorge à esquerda, o Largo Martim Moniz, todo iluminado lá embaixo. A escuridão não colabora e eu tenho de mexer ainda mais na velocidade do obturador. O cansaço e o sono também não ajudam a firmar a mão e as fotos saem todas tremidas. Pity. Volto lá de dia e vocês poderão ver o que leram.

A volta é pelos labirintos do Socorro até a baixa. Valeu a noite. Compensou o domingão no escritório. Mesmo.



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