Artigo publicado na Folha de Sào Paulo, em 7 de novembro de 1999

CASA PLÁSTICA
PVC sai do cano para conquistar a fachada
SÉRGIO DURAN
da Reportagem Local

O PVC promete deixar o papel secundário que ocupa nas construções brasileiras -escondido nas paredes, em tubos, conexões e conduítes- para virar protagonista nas áreas nobres da casa.
A lista de materiais em PVC já fabricados no Brasil é extensa, incluindo esquadrias, lambris, forros (de placa ou tábua), pisos, "siding" (tábuas para revestimento externo) e portas, entre outros.
Em relação à concorrência, as vantagens são inúmeras. Os produtos em PVC geralmente são mais duráveis, fáceis de instalar e limpar e, em alguns casos, têm custo zero de manutenção. Some-se a tudo isso um preço atraente.
"O plástico está entrando gradativamente na casa. Ele surge para substituir os recursos finitos, como a madeira e os metais. E, quando ocupa um espaço, não recua", afirma o professor universitário Francisco Romeu Landi, 66.
Landi é presidente do Cediplac (Conselho de Documentação e Informação da Indústria do Plástico para a Construção Civil), da Escola Politécnica da USP (Universidade de São Paulo).

Consumo
A arrancada do PVC na construção é fato recente só no Brasil. Em países europeus e nos Estados Unidos, por exemplo, o plástico reina absoluto há anos.
O mercado de esquadrias é um exemplo. No país, movimenta US$ 1 bilhão. Segundo o Instituto do PVC, o plástico não chega a abocanhar 1% disso. Na Inglaterra, detém 70%. O potencial de expansão tem feito a indústria brasileira do plástico se mexer.
"O consumo de PVC no Brasil cresce 14% ao ano. Os destaques ainda são os tubos e conexões, mas os laminados (forros) já ocupam o segundo posto", afirma Francisco de Assis Esmeraldo, 58, presidente do Instituto do PVC.
O encontro anual da organização, que representa toda a cadeia produtiva do plástico, acontece dia 2 de dezembro, em São Paulo. O tema será o PVC na construção.
Na ocasião, será apresentado um estudo inédito a respeito, do qual partes foram adiantadas para a Folha.
 
 

Produto PVC Outro material
piso R$ 17 o m2 da Easy Import,
padrào madeira.
R$ 43 o m2 colocado de
carpete de madeira
Lamett ou Durafloor
esquadria R$ 450 a peça de
1,20m x 1,20m, com
persiana da Petroll
R$ 248 a peça de
aluminio, de 1,00m x 1,20m
da Ebel.linha ouro
(de melhor qualidade)
porta R$ 80 a de tamanho padrão
da Medabil, instalada,
nas cores areia, cinza 
ou branco
R$ 72 a de tamanho padrão
em inbuia, da Alpimade
lambril R$ 16 o m2, da Medabil
imitando diversos padrões
de madeira
R$ 28 o m2, da
Trevotex Premium,
padrào jatobá

Esquadrias são caras e difíceis de encontrar, mas o aumento da produção pode mudar a situação
Materiais estimulam a bricolagem

Os materiais em PVC são ideais para os adeptos da bricolagem ("faça você mesmo"). Porém são difíceis de encontrar, e os preços nem sempre compensam.
Mas as desvantagens são passageiras, afirmam os fabricantes de materiais de construção.
As esquadrias, por exemplo, custam atualmente quase o dobro das de materiais nobres como o alumínio. O quadro só deverá ser revertido com a entrada de grandes indústrias nesse mercado.
É o caso da Tigre, cuja fábrica de janelas em Indaiatuba, a 110 km de São Paulo, começou a funcionar em março, mas o primeiro showroom em São Paulo foi inaugurado na última sexta-feira.
No entanto, mesmo caros, os plásticos acabam saindo mais em conta ao longo do tempo.
As esquadrias, por exemplo, já vêm montadas, inclusive com vidros, que são presos em borrachas. Além disso, dispensam pintura, o que torna a manutenção quase nula.
Há ainda outros fatores que tornam o plástico econômico, como a facilidade na limpeza (requerem somente água e sabão neutro) e instalação e a durabilidade.
Dados do Instituto do PVC indicam que 64% dos materiais de construção nesse plástico duram de 15 a 100 anos.

Estética
"Eu acho que o PVC está chegando tarde ao mercado brasileiro", considera a arquiteta Lilian Ramalho de Andrade, 44.
Em relação aos plásticos, Lilian faz somente uma ponderação quanto à estética: "Não é interessante usar os que imitam madeira ou qualquer outra coisa. O ideal é explorá-lo em sua característica original", analisa.
A arquiteta recomenda, no caso das esquadrias, atenção na escolha da cor. "O ideal são as brancas ou as de tons pastel porque combinam com qualquer outra cor, caso se queira mudar a fachada da casa, por exemplo", diz.
Sobre as janelas, Lilian elogia a vedação que oferecem. Isso ocorre por causa dos vidros duplos, da estrutura de aço (que dá segurança) e do fato de não levarem solda, sendo uma peça única. "São ótimas para as residências próximas ao centro da cidade."

Leveza
A facilidade que as esquadrias têm na instalação são por causa da sua leveza. Primeiro, o contrabatente é chumbado na parede. Depois a esquadria é instalada. A vedação é feita com espuma de poliuretano expandido. Na mesma linha vêm os forros, em placas ou tábuas. Há uma estrutura interna onde são encaixados. Os de placa têm acabamento de quinas como o do gesso.
Os pisos vinílicos são velhos conhecidos, mas pouco sabem que produtos como Paviflex ou Decorflex são de PVC. Os mais modernos vêm em lajotas.
Em vários padrões, os da Easy Import, por exemplo, já têm cola, e a instalação é igual à do plástico adesivo. Basta somente que o contrapiso esteja nivelado.

Ecologia
Há, no entanto, duas informações negativas em relação ao PVC. A primeira é a de que vedam demais a casa. "É importante o equilíbrio na hora de usá-lo", diz Lilian de Andrade.
A outra diz respeito à poluição que o plástico provocaria na casa. Segundo a pesquisadora em saúde pública Kátia Regina de Moraes, 37, o PVC é conhecido por liberar dioxina ao longo dos anos.
Recentemente, o Greenpeace propôs a proibição dos brinquedos fabricados com esse plástico.
Francisco Romeu Landi, da USP, discorda. "Não há nenhuma pesquisa conclusiva sobre isso. O PVC é um material estático, que só sofre alterações quando exposto ao calor de, no mínimo, 70C. Aí, sim, poderia liberar algo", diz.
Landi explica ainda que o PVC é um dos poucos plásticos que não propagam a chama, por causa do cloro em sua composição. "Eles amolecem, mas não pegam fogo."

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