Index Clientes Alunos UCAM-Ipa Pérolas dos Alunos Ex-Alunos Paraninfo 99.1 Paraninfo 00.2 Patrono 01.2 Fotos Homenagens Pesquisa novidades Visitas In English who Email


Magnífico Reitor, Professor Candido Mendes, Senhores Pais, nobres colegas homenageados, caros formandos, Minhas Senhoras e Meus Senhores:

  Foi uma grande surpresa a honra que me dá esta turma ao incumbir-me do munus de paraninfá-la. A razão de ficar profundamente emocionado com sua homenagem, meus caros formandos, é que tenho plena consciência que as disciplinas que ministro são de complexa compreensão para o jovem. Estou ciente que as minhas aulas costumam ser extremamente densas e que meus genes prussianos, não poucas vezes, fazem de mim um rabugento pouco propenso a qualquer condescendência no trabalho acadêmico. Além disso, em um país onde o sobrenome, tantas vezes é tão importante, sou apenas descendente de imigrantes que, em seu sonho por um mundo melhor,  venceu um caminho muito áspero para poder dedicar-se ao  Direito. No país do "sabe com quem está falando?", sou apenas um professor.

  Por tudo isto, meus caros formandos, francamente, nunca, ao longo da minha carreira docente, tive qualquer expectativa de ser homenageado, nunca sonhei com a hipótese de paraninfar uma turma de formandos. Recebam, assim, meu comovido agradecimento pelo gesto de estímulo com que me agraciaram.

  O mote - entre as diversas definições deste termo, permitam-me eleger o sentido de: mote - lema ou dito usado pelos cavaleiros andantes da Idade Média com o intuito de identificar sua empreitada, campanha ou missão - O mote que eu gostaria de deixar para a caminhada que vocês hoje encetam é uma imagem criada pelo poeta Fernando Pessoa. Creio que é uma imagem eloqüente para o momento que vivemos a constatação de Fernando Pessoa, em sua fase mística, de que: "À noite, pelas ruas e vielas de Lisboa, esgueiram-se três fantasmas ... são eles: O que fomos? O que deixamos de ser? O que poderíamos ter sido?"

  Quando olho para o meu país, desculpem-me, mas não posso deixar de pensar nos 3 fantasmas que rondam pelas ruas de Lisboa: por praticamente toda a minha vida fomos, no Brasil, o gigante adormecido, a grande potência do futuro. Temo em pensar no que atualmente, estamos deixando de ser, submetidos que estamos à Capitis Deminutio consubstanciada nesta perfídia globalizante. Indago-me, muitas vezes: Imputar-nos-ão nossos filhos e netos a desdita de restar-lhes apenas a companhia do fantasma denominado: o que poderíamos ter sido?

  A esperança que ouso acalentar é que uma Nação que historicamente tanto deve aos seus Bacharéis e Juristas possa contar doravante também com estes profissionais que aqui hoje estão iniciando sua caminhada. São universitários da melhor cepa, são jovens de caráter, são pessoas de coragem indômita. Posso assegurar-lhes, Magnífico Reitor, nobres homenageados, Senhores Pais, lembro-me que não foram poucas as vezes em que vi um significativo brilho no olhar e uma inquietação enérgica nestes Universitários, em sala de aula, ao tratarmos dos humilhados e ofendidos, vitimados pela excludência do sistema em que nos encontramos. Peço-lhes que não esmoreçam, caros formandos, porque vocês são hoje o bastião de nossas esperanças.

  Ao lembrar dos 3 fantasmas que, conforme Fernando Pessoa, pelas noites de Lisboa, rondam por ruas e vielas, caros formandos, pensei também na nossa vida profissional e pessoal. Também em nossa vida quantas vezes nos defrontamos com os fantasmas: O que fomos? O que deixamos de ser? O que poderíamos ter sido?

  Por paradoxal que pareça, é vital que nos lembremos dos 3 fantasmas de Lisboa exatamente em nossos momentos mais auspiciosos, quando nos encontramos na plenitude da mais completa alegria, nos momentos em que nossas vitórias pessoais nos dão a sensação de onipotência. Ensinou-me a vida, caros formandos, que a lembrança destes fantasmas nos momentos de glória e realização é a melhor forma de exorcismo das fantasmagorias que assombram os momentos de dificuldade que a existência e a profissão, por vezes, nos reservam. Com humildade, com consciência, com autocrítica temos o poder de neutralizar toda a espécie de fantasmagorias que, de outra forma, tripudiam de nossa impotência nos momentos de angústia.

  Permitam-me, assim, caros formandos, almejar que o caminho que hoje vocês encetam seja um caminho ensolarado, brilhante e sem assombrações. Não se esqueçam, entretanto, de lembrar, exatamente naqueles momentos em que vocês se sentirem mais poderosos e invencíveis, dos 3 fantasmas que se esgueiram, à noite, pelas ruas de Lisboa. Parabéns e Felicidades à todos.


 



1