INVARIAVELMENTE


Autores:Amigos de Luís Carlos de Oliveira


"...estou com calos acostumados

de ler os teus olhos brotando"

" Para tornar-se grande como o pico mais alto do mundo, o Everest juntou-se a muitas outras montanhas; formaram uma cordilheira."

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Página 2 - Mais Poesias

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Página 6 - Cadernos Negros 27

Página 7 - Cadernos Negros 29

Página 7 - ÚLTIMAS

ÍNDICE

    Helena de Sousa Freitas
  1. Poema de Papel
  2. Adeus, Capitão

    Esther PS Rosado

  3. Éden
  4. Uns Poemas
  5. Abáculo

    Greta Benitez

  6. Soirée

    Neide Archanjo

  7. Ilhas Idílicas

    Uma Poesia de Ângelo Bueno

  8. Brechava

    Helena Kolody

  9. Cromo

    Francisco Barros Cascallar / Chankecham

  10. "V"

    Thiara de Filippo

  11. Introspecção

    Christine Ferreira de Mello

  12. Corpoético

    Cuti

  13. Trincheira

    Poema de Papel

    I- Livro Abres um livro pôes-te a lê-lo. folheias, marcas, sublinhas, se calhar. Viras-lhe a capa desdobras as bandas,se as tiver, e colocas o livro no lugar. II-Folhas Passas os dedos no papel claro, nas linhas finas, nas notas por apagar. Vê as frases com ou sem rumo e és quem decide: recuas ou deixas-te levar. III- Texto Enfim prosseguiste na viagem ao livro as palavras arrastam-te. Uma corrente de letras quer fazer-te render de uma às outras páginas. Se o conto te envolve já estás, mas não sabes, dentro dessa história. Esqueces-te do redor, relfetes no que lês, constrói mil imagens. No mergulho ao texto que dás sem sentir, enrola-se a trama. E então não és tu, já sem saberes de ti, mais do que as personagens. * Helena de Souza Freitas, de Portugal

      

    Adeus ,Capitão

      
    
    Nas ruas
    os meninos sós
    erguem em preces
    a voz - estão perdidos!
    
    Assim se sentem os marinheiros,
    as corajosas e sensuais mulatas,
    os místicos nos seus terreiros, 
    os malfeitores, os bandidos.
    
    E a andorinha e o gato malhado?
    O cacau, o Carnaval, a Bahia?
    O suor, o soldado apaixonado?
    Que milagre lhes ditará a sorte?
    
    Oh Capitão, meu Capitão
    que das mornas areias
    criaste um reino de poesia
    e nos mares leste a morte...
    
    Que farão todos agora
    sem o tempero das tuas frases,
    sem o suave embalo tropical
    das histórias que ao mundo deste?
    
    Como viver hoje no luto o gosto das palavras que, amando, Amado,
    escreveste?
    
    * Helena de Sousa freitas
    Portugal, madrugada de 6 para 7 de Agosto de 2001
    

    Éden

    ( a você que conhece deuses e mistérios

    -porque sim ) Na orvalhada manhã, Entre teias de aranha do jardim, Botões novos, assim, recém-nascendo, Já nascidos, Um jasmim branco e magoado Inclina-se para outro jasmim, Ambos molhados. O olfato que também é novo capta A delicadeza do cheiro doce, Lição de geografia que não está nos livros, anatomia de flor incompreensível, Folhas de esmeralda, verdes, saídas De uma história que está escrita Entre o caule e ao flor. Raízes desesperadas abrem caminhos Na terra, como se soubessem que Abaixo da superfície que os olhos captam Está um caminho silencioso, Humano, vulnerável. Um movimento de pétalas, Gineceus e androceus absolutos, pistilos, A pele branca estala,, Acariciada. E a vida espera, dormindo de olhos abertos, Espreita o movimento da aranha em sua teia. Pequenos insetos voam De asas transparentes. Uma cigarra atônita E absolutamente indispensável, Espera, grudada à árvore, A sua hora de cantar No fim da tarde. Hábitos e ofícios estão congelados no tempo. Para os olhos espantados de duas criaturas É a hora do jardim. E, descortinando o Éden, Os deuses, pacientes e conhecedores do futuro, Observam o trabalho das formigas marrons. * Esther Rosado http://www.navedapalavra.com.br

    Uns Poemas

    1.
    não,
    não foi teu casulo, borboleta
    que nasceu - noite passada -
    a lua cheia.
    Foi em mim,
    que pousou a lagarta
    sem que ambos voássemos.
    
    2.
    pensei escrever mentiras
    sobre a minha dor imaginada
    quem disse? pus a mão na cintura,
    engoli as lágrimas,
    e fui passar a roupa - macia -
    com que me  vestirei amanhã
    ( para nada ).
    
    3.
    Tu me disseste:
    É de azul que te vestiste hoje
    Para o trabalho?
    Não, eu disse. mas como explicar-te
    Que rego nuvens e varro o céu?
    É claro que me cobria de azul
    Naquele instante,
    mas escondi dentro do regador,
    A água dos meus olhos:
    tenho trabalhado de graça...
    
    4.
    Nunca vi teu olhar,
    Mas sinto de vez em quando
    Teus olhos, de longe,
    Me lambendo a nuca.
    
    5.
    Ah, meus seios passarinhos
    Nada souberam
    Das tuas mãos que eram
    Ninhos.
    
    Esther Rosado
    http://www.navedapalavra.com.br
    

    Abáculo

     
    
    Sentada diante de ti, 
    Sobre a toalha ponho as pedras 
    E leio a sorte de nós dois, 
    tal como as sacerdotisas 
    Romanas. 
    
    Canto 
    Entoando palavras antigas 
    De antigos cantos, canto. 
    Allea jact est 
    Me dizem os teus olhos inquietos. 
    (Ouves os sinos?) 
    
    Se toda a sorte está lançada ao vento, 
    A sorte então ao vento está lançada 
    E o azulejo-mosaico 
    Se desvenda: 
    Caleidoscópio, 
    Janela, piso inóspito: 
    Vejo o meu rosto refletido 
    em teus inumeráveis espelhos. 
    
    Teus olhos puderam ver, 
    Mas teu cérebro, adormecido, 
    Repetiu apenas palavras 
    Sem sentido: mentes? 
    
    Sobre o mundo, 
    Pairam enigmas, há silêncio de seixos. 
    Guardo os segredos antigos, 
    recolho as pedras, os sete búzios, a toalha, 
    desvendo os velhos segredos 
    Guardo-te, 
    Abáculo, 
    No fundo da minha mais antiga areia 
    (ficaste surdo ao canto da sereia...). 
    
    (julho/2002) 
    
    
    Esther Rosado
    http://www.navedapalavra.com.br
    

    Soirée

    Um vestido de teias de aranha
    pedras de calçada nos anéis
    perfume de água do mar
    e uma mosca no decote prestes a voar
    flores murchas pra enfeitar o cabelo.
    Quem se atreve a dizer que isso não é belo?
    
    *Greta Benitez
    

    de ' Ilhas Idílicas'

    E 
    estando
    me 
    faltas.
    
    * Neide Archanjo
    "As Marinhas", Ibis Libris 2001
    

    Brechava

    Brechava
    A fresta
    A festa que havia
    todos sorriam
    todos bailavam
    todos dançavam
    Eu? Ora,
    eu brechava.
    
    * Uma poesia de Ângelo Bueno
    1ª Edição, exemplar nº 19 
    "A Cor da Exclusão"
    Edição Artesanal
    

    Cromo

    No silêncio luminoso da tarde
    as árvores desfolham-se em pardais.
    
    * Helena Kolody
    "Poesia Sempre" Biblioteca Nacional - Outubro 1999
    
    
    

    " V "

    Aqui nesta praia meiga
    donde as ondas mansas
    ao caer da tarde brincam
    na branda areia, sonho eu
    com o momento ansiado
    de possuir o teu corpo belo,
    a tua alma e toda tua vida.
    O embruxo da tua lembranza, 
    troca este cantinho de praia
    num edem sonhado donde
    o estar quedo é um vibrar
    tam sublime que sô aos eleitos
    do amor, conhecer è dado.
    Já desperto, oh amor!
    vejo, ai de mim! que sem ti
    o que Deus criou tam belo,
    apacível e grato, troca-se
    em tâo feio, triste
    e desolado!!
    
    * Francisco Barros Cascallar / Chankecham
    http://www.terra.es/personal2/chankecham/
    De Santiago de Compostela, Espanha
    Em Portugês-gaélico
    

    Introspecção

    
             Em 5 de Junho de 1997
    
    
    A folha seca caída na grama molhada
    ao lado da lama silenciando os caminhos,
    as esquinas.
    
    As frestas das janelas se fechando.
    
    Chaves trancando as escadas
    cravando palavras
    no dorso da folha.
    
    * Thiara de Filippo
    "Ave Palavra"
    Revista de Criação Literária- Instituto de Letras - UFBA
    1998
    

    Corpoético

    meu corpo fala
    pelos cotovelos
    pela boca
    pelos pêlos
    pelos seios
    pelos meios
    pelo menos
    pelos lábios
    grandes
    ou pequenos
    meu corpo fala
    e mostra sua cara
    mesmo quando cala
    
    *Christine Ferreira de Mello
    

    Trincheira

    falaram tanto que nosso cabelo era ruim
    que a maioria acreditou
    e pôs fim
    (raspouqueimoualisoufrisoutrançourrelaxou...)
    
    ainda bem que as raízes continuam intactas
    e há maravilhosos pêlos crespos
    conscientes
    no quilombo das regiões
    íntimas 
    de cada um de nós
    
    *Cuti
    Cadernos Negros Volume 23
    Quilombhoje .  2000
    

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