Autor: Luís Carlos de Oliveira
Ao negro executado sumariamente nos últimos capítulos de Os Sertões Uns batizam com água, Batismo-de-fogo na guerra; Outros batizam-se com sangue. Batisma-sertão-conselheiro Com terra. SOPRO
Lá vai Zumbi comandando seu povo. Moisés novo. Desde a sereia de Itapuã Apontou a lança para Agudá; Abriu-se neste instante o mar Vermelho pelas bandeiras dos sem-qualquer-coisa. Atlânticos por trabalhar, lutar e amar. Neo-êxodo, De novo ao Egito Depois ao mar Morto. !Para as terras em conflito? !Incrédulos de novo? Futuros arqueólogos estudarão poetas Nos impressos do mar Atlântico Edições de Negros Cadernos. – Lá vai Zumbi comandando seu povo. ÊXODO
Para Carolina Maria de Jesus À medida que a cidade cresce Produz no seu útero Fetos ao aborto lançado em dejeto. Seriam gente caso Ratos e vermes não lhe compusessem a casta. Pois que sonham São superiores a estes? A mesma história dos nossos: Buscar emprego, migrar. De pipoqueiro, leiteiro, pedreiro, Aos mais honestos Um catar papel. O pai do aborto ainda promete Batizar com sobrenome: Secretaria de Segurança Pública Nossa carteira de identidade. Oferece controle da natalidade Pois o garoto persiste vivo; Oferta banho No esgoto que vem do condomínio ao lado. Como despir destas verônicas Estes seres ainda em sangue de parto? Minaretes menires, totens, respondei! RUA A BARRACO N° 9
Para Mário Cravo Se abandonarmos os nossos deuses Alguém poderá adotá-los; Cobrir-lhe de armas os braços Ou vestir-lhe um manto de estampa. Um neto de escravo, Cravo Neto, Resgatou da voragem do tempo Um deus africano. Objetaram reinar unidas Nações grandes aquém das nuvens Sob este emblema. Filho da terra e da água, Lama. Batizado em sopro, chama. – Se os deuses nos abandonarem Nossas armas serão tão inúteis na guerra Como agora, nossas armas Para a paz. SÍMBOLO DE FORÇA
Sou da cor do betume Negrume Negro lume. O estrume Da flor O perfume. Imune Às leis “não rume”. A raiz, a semente, A flor, o legume... Suspeito bípede implume, Do aço o gume. Alhures alguém pune. Este costume Fez da minha pele O que faz o curtume. A obra-prima! Não tapume. Nossas tribos Se se unem, Resumem a posteridade: Cardume. PEZ
Este corte A boca Meu melhor açoite Sangra palavras. Este entalhe Lábios em detalhe Cicatriza beijos, Sela nossa correspondência, Decora-se de sorrisos. Este talho Quando cala transborda, inunda; Se fala Vem a calhar. Morde o gosto Pelo qual Nosso desejo saliva. Halo da alma Hálito da carne Se recita Excita. Se declama, transforma poetas em bonecos Da ventriloqüência divina. A BOCA
No Aeroporto Zumbi dos Palmares – Maceió Chega-se tarde ao aeroporto de Maceió. A noite pertence aos zumbis... Depois da escada, do elevador, O herói no térreo retratado, Vítreo, imoto, emoldurado; Rei do clã. Pela escada rolante sobe-se Ao deck de observação. Assiste-se ao empregado, Servente no turno, Com sua lança em esfregão liberto, Auto-retratando-se: Rei do clã Clamando aos reis. – Assim salda-se a escravidão? Açoite cívico. Açoite cívico. Açoite cívico. Açoite cívico. AÇOITE CÍVICO
Co-Autores Ademiro Alves (Sacolinha), Allan da Rosa, Andréia Lisboa, Carlos Gabriel, Cristiane Sobral, Cuti, Décio Vieira Edson Robson, Edson Silva, Eduardo de Oliveira, Élio Ferreira, Elizandra, Esmeralda Ribeiro, Graça Graúna Helton Fesan, Jamu Minka, Jônatas Conceição, Landê Onawale, Lourenço Cardoso, Luis Carlos de Oliveira Márcio Barbosa, MeL Adún, Miriam Alves, Oubi Inaê Kibuko, Ruth Saleme, Serafina Ferreira, Sergio Silva, Sidney de Paula Oliveira, Tico de Souza ![]()