São Vicente, sua História e seus Destinos

 por Dr. Antonio Teleginski

São Vicente de hoje, tem uma população de trezentos mil habitantes, sendo 130.000 favelados. É uma cidade que apresenta um centro bem definido, bairros e periferia. Ocupa o centro geográfico das cidades da Baixada Santista. Depois de um longo inverno, iniciou uma recuperação pioneira por vocação, a partir do fim de século passado, depois da implantação de indústrias de grande expressão: - a INDÚSTRIA DO VIDRO e a INDÚSTRIA DO COURO - a Vidraria Santa Marina e o Cortume Cardamone.

A Ponte Pênsil, inaugurada em maio/1914, a primeira do Brasil , abriu São Vicente, para o sul. Em 1910 , abrira-se São Vicente, também para o Sul, pela porta da Ponte ferroviária dos Barreiros, obra igualmente monumental para a época.

 

SÃO VICENTE DE ONTEM. Por detrás da humildade e da pobreza material que hoje a caracteriza, São Vicente ostenta, em sua história, as mais expressivas glórias que uma cidade pode almejar:

 

CIDADE MONUMENTO DA HISTÓRIA PÁTRIA

PRIMEIRO PORTO DA AMÉRICA DO SUL

CÉLULA MATER DA NACIONALIDADE

PRIMEIRA VILA LEGALMENTE IMPLANTADA NAS AMÉRICAS

BERÇO DA DEMOCRACIA NAS AMÉRICAS

BERÇO DA CULTURA BRASILEIRA

BERÇO DA JUSTIÇA BRASILEIRA

 

 

Primeira Câmara de São Vicente foi constituída por cinco oficiais (vereadores). Foi eleita e empossada à 22 de agosto de 1.532. Aparecem no quadro de Carlos Fabra:

Martim Afonso, pe. Gonçalo Monteiro, Antonio Rodrigues, João Ramalho, José Adorno e Pero Goes, eleitos pela população da Vila. Foi a primeira eleição realizada nos continentes americanos.

Foi aqui que Leonardo Nunes construiu, em 1549, a primeira escola-seminário para os meninos brancos e índios, que, ampliada em 1553, tornou-se o 2.º Colégio dos Jesuítas do Brasil. Aqui foram encenadas as primeiras peças de teatro, pelos estudantes, em palco montado ao ar livre, na Biquinha, ou no interior do colégio. Daqui partiram as primeiras expedições bandeirantes para o sertão, segundo o vaticínio de Manoel de Nóbrega quando escreveu que “São Vicente é a porta e o caminho mais certo e seguro para as entradas ao sertão”. Em São Vicente implantaram-se as bases da economia brasileira agrícola e Industrial, com a construção dos primeiros engenhos de açúcar. Daqui espelhou-se a criação de gado, eqüinos, suínos, muares e ovelhas para o Sul, Oeste e Norte. Foi aqui que Amador Bueno da Ribeira recusou a coroa real que o povo, por aclamação lhe quis impor.

Eis alguns fatos que a história registra em São Vicente.

 

detalhe de tela publicada no livro de Hans Staden, onde, segundo seu autor, trata-se da cidade de São Vicente. Hans Staden escreveu em 1557 sobre suas duas viagens ao Brasil. Há controvérsias sobre o nome do autor das pranchas do livro.

 

 

Há, todavia, mistérios que envolvem o passado de São Vicente. Gostaria de discorrer, rapidamente, sobre eles.

Os primórdios do Brasil, como os de São Vicente, confundem a cabeça dos pesquisadores.

 

Teriam os portugueses conhecido o litoral brasileiro antes de 1500 ? -

Existia, em 1500 o Porto de São Vicente? -

Quando foi que chegaram à costa brasileira, Mestre Cosme Fernandes, Francisco Chaves, Duarte Peres, Gonçalo da Costa, João Ramalho ?

Quem foi e onde morou o Bacharel de Cananéia? -

Por que a próspera Vila de São Vicente entrou em decadência? -

 

Há um estreito entrelaçamento entre a data do descobrimento do Brasil, o início do povoamento de São Vicente, e a chegada dos primeiros europeus à costa brasileira.

Ninguém duvida que os Portugueses chegaram ao Brasil antes de 1500. Todos admitem que a tomada de posse oficial das terras do Brasil deu-se em 1500, na pessoa de Pedro Alvares Cabral, representante da Coroa Real Portuguesa.

Cada vez mais se firma, entre os pesquisadores nacionais e estrangeiros a convicção de que os portugueses chegaram ao Brasil, em 1493, na esquadra de Francisco de Almeida. Nessa Esquadra, vieram os europeus acima nominados e outros mais que aqui foram deixados.

Há numerosos indícios que estribam essa versão, e a cada ano que passa, novos documentos lhe dão suporte.

Uma prova indiciária é a seguinte:

Os papas eram os mediadores e os árbitros entre as nações católicas da época. - (A reforma iniciou-se, com Martinho Lutero, em 1515).

A pedido de Portugal e Espanha, o Papa Alexandre VI editou a Bula “inter Coetera” para evitar uma guerra que se delineava entre os dois reinos, pela posse do Mar Oceano (Oceano Atlântico). Os portugueses queriam assegurar-se da circunavegação da África, para o caminho da Índia, a partir das Ilhas de Cabo Verde.

Ocorre que, com a descoberta de Colombo, os Portugueses sentiram-se humilhados. D.João II chegou a conversar com Colombo, antes dele chegar de volta à Espanha, no retorno das Américas.

Chegou a propor-lhe que a nova descoberta fosse atribuída a Portugal, com o que Colombo não concordou.

Às pressas, o Rei formou então uma esquadra sob o comando de Francisco de Almeida, que zarpou para os Açores e dali para Oeste tendo chegado na altura de Porto Seguro. Percorreu a costa Sul, até a altura de São Vicente, retornando, em seguida, para Portugal, não sem antes deixar nas novas terras, O Bacharel, João Ramalho e outros.

Com o retorno da esquadra de Francisco de Almeida, a Diplomacia portuguesa não aceitou a intermediação do Papa e concomitantemente, recusou as cem léguas a Oeste de Cabo Verde, passando a pleitear 370 léguas do Mar Oceano, mesmo porque, dentro desse espaço, eram compreendidas grandes extensões das terras encontradas. De outra parte, não podiam os portugueses romper o segredo dos conhecimentos que já possuíam e da forma de como se haviam apossado de parte de costa brasileira, onde deixaram os degredados.

Os espanhóis capitularam aos argumentos dos portugueses, e, no dia 07/06/1494 foi assinado, na Espanha, em Tordesilhas, o primeiro tratado internacional leigo da história. A chancela papel viria, apenas, em 1506 com a bula “E a Quo Pro Bono Pacis”, que homologou o Tratado.

É por isso que se diz, que o Brasil esconde sua verdadeira idade, de vez que foi informalmente descoberto em 1493.

 

Outra prova indiciária do que acima ficou dito é a carta do Mestre João, Bacharel, físico e cirurgião do Rei, que acompanhou Cabral. Dentre outras coisas, relata a S. Alteza, D. Manuel o seguinte :

“Ontem, segunda feira, que foram 27 de Abril, descemos em terra, eu e o piloto do capitão-mór e o piloto de Sancho de Tovar e tomamos a altura do sol ao meio dia e achamos 56 graus e a sombra era setentrional...

Quanto, Senhor, ao sítio desta terra, mande V. Alteza trazer um mapa-mundi que tem Pero Vaz Bisagudo e por aí poderá ver V.Alteza o sítio desta terra....”

O próprio D.Manuel, em carta ao Rei de Espanha da data de 28/08/1501, assim relata a descoberta do Brasil:

 

“O dito meu capitão, com 13 naus, partiu de Lisboa a 9 dias de março do ano passado e nas oitavas da Páscoa chegou a uma terra que novamente descobriu a que pôs o nome Santa Cruz.”

Novamente - seria -"recentemente" ou "de novo" ?

 

Estevão Frois, em 1514, escreve para D.Manuel dizendo-lhe, com todas as letras que “Estas terras, como V.Alteza sabe, lhe pertencem há mais de vinte anos’’.

 

Não se deve admirar, pois, que o Porto de São Vicente conste dos mapas europeus, já em 1502 porquanto, sua fundação é pré-cabralina.

 

ONDE SE LOCALIZAVA O PORTO DE SÃO VICENTE ?

 

Indícios: 1- A localização do Porto das Naus, na Ilha de Guaibê, hoje além da Ponte Pênsil.

2- A fachada da Matriz de São Vicente, voltada para o Porto de SãoVicente, como estão todas as igrejas antigas construídas no litoral brasileiro, apontam para os baixios da Rua Japão, como local da antiga Vila.

 

SÃO VICENTE TINHA BARRA PRÓPRIA PARA O MAR.

ERA A TERCEIRA BARRA OU BARRA SUL

 

Documentos - Pe. José de Anchieta em 1585 escreveu dizendo que São Vicente fora, antigamente, porto de mar. Palavras textuais: “Mas depois, com a corrente das águas e de terras do monte se tem fechado o canal, nem podem chegar as embarcações por causa dos baixos e arrecifes.” (Porto Seguro - História Geral do Brasil - I Vol. pág. 155)

Fernão Cardim, na mesma época observa, em relação a São Vicente, que:

 

“Foi rica, agora é pobre por se lhe fechar o porto de mar e barra antiga.”

(Fernão Cardim - Tratado da Terra e Gente do Brasil - pág. 315/316).

 

Para melhor compreensão dos fatos, cumpre alertar para o seguinte: - A Vila SãoVicente foi destruída pelo mar, entre 1542 a 1545. Os documentos que falam da Barra de SãoVicente tratam da barra por onde entrou a armada de Martim Afonso. Não se referem ao canal estreito, como sempre sobre o qual atravessa a Ponte Pênsil, por onde caravelas de 150 toneladas de calado não passariam senão com grande risco de acidente.

Frei Gaspar da Madre de Deus, no livro MEMÓRIAS PARA A HISTÓRIA DA CAPITANIA DE SÃO VICENTE, pág. 46 e seguintes, irrita-se e se embaraça, quando fala sobre a Barra de São Vicente. Ele faz confusão, não sei se proposital, entre o canal da Ponte Pênsil e a antiga barra de São Vicente, ou Barra Sul.

São palavras suas:

"É opinião ou erro comum que a esquadra de Martim Afonso entrou pela mencionada Barra de São Vicente. Dizem eles, que nesse tempo ela conservava fundo suficiente para naus maiores e que depois se areara e hoje somente é capaz de canoas.” pág. 46.

 

Na pág. 48:

“Ainda teimam os moradores desta Vila, que todos os navios antigamente entravam pela sua barra e davam fundo no Porto de Tumiaru.”

O mesmo Frei Gaspar traz um documento de Sesmaria dada em 31 de dezembro de 1536, a Estevão da Costa, por Gonçalo Monteiro, vazado nestes termos: (documento anterior à destruição da Vila)

“Da Ilha de Guaibe, onde é o Porto das Naus, defronte desta

Ilha de SãoVicente, onde todos estamos..... e da banda do

Sul partem com a barra e Porto da dita Ilha de Guaibê, e desta

de São Vicente, que é onde ancoram as náus quando vem para

este porto de São Vicente.”

 

JERÔNIMO LEITÃO ao pedir o uso do Porto das Naus, dentre outras coisas, diz em seu requerimento:

“Martim Afonso ........ deu na dita terra ao Conselho um tiro de arco em roda, para varadouro dos navios “ (porque naquele tempo parece que varavam ali). (doc. de 1580 posterior à destruição da Vila).

Confirmando tudo o que acima ficou dito, quero trazer ao conhecimento dos leitores, um documento que reputo de grande valia para o tema em exame. Trata-se da doação que fez Pero Correia, à Casa da Companhia da Ilha de SãoVicente, das terras que recebera em Sesmaria, de Gonçalo Monteiro, em 1542:

 

“... digo ser verdade que no livro do tombo são duas cartas registradas das terras que Gonçalo Monteiro sendo Capitão deu ao dito Pero Correia. A primeira que foi dada que é defronte desta ilha e Vila de São Vicente que era antes dada pelo Governador a um Mestre Cosme Bacharel, que o dito Gonçalo Monteiro houve por devoluta, começa a partir do Porto de Naus ......... Começou a partir que é no dito Porto das Naus, ficara um rocio de um tiro de arco, assim como foi mandado e ordenado pelo senhor Governador que fica livre e desembargado para quando as naves ali ancorassem.”

(Serafim Leite - História da Companhia de Jesus no Brasil - Tomo I - Ed. 1938)

 

Esse documento lavrado em cartório, em 1553 dá conta, de maneira inequívoca sobre a real situação da Vila de São Vicente, antes do fenômeno marinho que a destruiu em 1542/45

 

Outra feição importante é situar a Ilha de Guaibê, que não é outra senão o belo maciço que se estende desde o Porto das Naus, Prainha (praia de Paranapuã ou das Vacas) até a Fortaleza de Itaipu.

Hoje ainda, pode-se ir de canoa do Mar Pequeno, até a ponta de ltaipu, por água, sem pisar em terra firme, em dia de maré alta.

É isto que ainda resta da Barra Sul de São Vicente.

Resta, ainda, também, o maciço tornado Parque Ecológico por Decreto Estadual de nº 37.536 de 27/09/93.

Neste particular, São Vicente é, também, pioneira.

A antiga Ilha de Guaibê é Parque Estadual, unidade de preservação de relevante signaficado científico, cultural e ambiental.

Desde 1988 a UNESP vem desenvolvendo trabalhos de ensino e de pesquisa na região, através de seu Centro de Ensino e Pesquisa do Litoral Paulista - CEPEL. Conta atualmente, com o aporte técnico-científico e diversas equipes de docentes dos diferentes “campus” da Universidade espalhados pelo Estado. Além de estarem sendo desenvolvidos inúmeros projetos para o aperfeiçoamento e especialização dos profissionais em biologia, microbiologia, oceanografia e outros profissionais da baixada santista, existem, em andamento, pesquisas científicas, neste Parque, pioneiras no mundo, como é o caso da absorção e transformação dos poluentes pesados, por organismos vivos das águas marinhas.

 

Hoje, o estudo da biodiversidade representa, para o amanhã, riqueza de projeção incalculável.

Nesse Parque de 901,00 hectares razoavelmente preservado, biodiversidade e os ecossistemas de Mata Atlântica guardam, ainda, características notáveis.

O Parque, além de servir de pouso e reprodução de aves migratórias, apresenta, ainda, moluscos e outras espécies marinhas que não existem mais, em outros lugares da região.

Com a criação do Parque Xixová-Japuí, São Vicente não terá problemas com favelas em morros. Quando desaparecerem as favelas urbanas, com o desenvolvimento das populações hoje carentes, São Vicente prosseguirá desenvolvendo sua vocação histórica de cidade pioneira do Brasil.

 

 

Ilha Porchat, 11 de Janeiro de l995.

 

Dr. Antonio Teleginski.

 

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