DEPECHE MODE - ULTRA
The fire still burn
The world still turn

A BANDA: Depeche Mode, criado em 1981, por Vince Clarke (agora no Erasure), Andrew Fletcher, Dave Gahan e Martin Gore. Em 1982, com a saída de Vince Clarke do grupo, Alan Wilder entra, passando a inteirar a banda, que ao total de 17 álbuns solidificou-se como uma das mais influentes bandas de música eletrônica dos anos 80.

______1981(foto à esquerda), com Vince Clarke (no centro)

1990 (à direita), já com Alan Wilder_____________________



OS FATOS: Depeche Mode lança em 1992 o belo álbum Songs Of Faith And Devotion, concebido entre muita discussão e, por que não dizer, um reencontro dos membros, pois estes, como Dave Gahan declarara na época, haviam mudado muito (ele próprio era um exemplo, pois morava então nos EUA., deixara a esposa e o filho com 8 anos... ).
Superado estes atritos iniciais, a banda inicia tour pelo mundo, lançando em seguida Songs Of Faith And Devotion LIVE... e é então que o tempo fecha para o Depeche Mode.

Dave Gahan torna-se dependente de heroína e cocaína, tendo duas overdoses, até dado como morto durante 10 minutos... Alan Wilder, o studioman do Depeche Mode, que trabalhava toda a parte de produção e dava a banda todo o ar cinematográfica a sua obra, deixa a banda... talvez cansado da imprudência do colega (apenas uma especulação).

_________Alan Wilder agora com seu projeto solo, RECOIL

Todos esperavam o final da banda...

Mas não. Eis que aparece o 17° trabalho da banda:
ULTRA.

Era um clima de mistério sobre as diretrizes do novo trabalho do Depeche Mode. A saída de Alan Wilder levava a crer que a banda teria um processo de simplificação em seu trabalho, pois toda a pesquisa sonora, timbres, bem como a atmosfera musical, que tanto coincidia com a própria estética visual dos álbuns da banda (assinada pelo ótimo Anton Corbjin, que trabalha junto ao DM desde Music For The Masses) era feita por Wilder...
Assim sendo, a dúvida: com o trabalho novo... a banalidade (comum a tantas bandas eletrônicas radiofônicas) ou algo tão intimista que espantaria o público pela excentricidade?
Felizmente, nenhuma das duas...

Na produção, um fã. Sim, trata-se de TIM SIMENON, criador do BOMB THE BASS, que já havia trabalhado com o Depeche Mode anteriormente, mas em produção de remixes das músicas “Everything Counts 2” e “Enjoy The Silence”. Ele confessou várias vezes que era um grande fã do Depeche Mode, que a banda fora uma das principais responsáveis pela sua entrada no mundo da música... Para quem não sabe, Tim Simenon e seu Bomb The Bass foram os causadores da explosão Acid House, onde os DJ’s (como ele) passaram a ser compositores também, com suas pick ups e samples... mas Tim Simenon nunca se limitou às pistas de dança. Sempre inquieto, seu trabalho, fosse no próprio BTB ou produzindo outras bandas, foi voltado para a pesquisa musical, buscando influências de outros países... ares de Depeche Mode o tempo todo...


E isto tudo foi muito, mas muito bom mesmo para ULTRA. Simenon, como bom fã, captou perfeitamente o espírito da banda - as baladas eletrônicas soturnas de Martin Gore, toda a atmosfera de soundtrack combinada ao vocal cada vez melhor de Dave Gahan, que com a ajuda dos amigos estava em tratamento, e agora recuperado, canta com uma paz de espírito surpreendente. As letras de Martin Gore não ficam para trás... é sem dúvida um dos discos mais românticos da banda... temas como família, amor, esperança, são o forte de suas letras neste trabalho. Talvez por ter ficado mais tempo com sua família, Martin, que sempre fazia letras polêmicas, falando em religião, sexo e política, tenha deixado seu talento poético verter para este lado. E o melhor de tudo, não se torna piegas!

ULTRA, faixa por faixa:

BARREL OF A GUN: A primeira faixa, ( e também o 1°single do álbum ). Tem-se a impressão de que o álbum será extremamente deprecivo. A letra parece ser escrita para Dave Gahan, pois fala sobre o imenso precipício que há na frente de alguém que tem o cano da arma em sua cabeça sempre... já de cara vê-se o trabalho de Simenon, explorando timbres de distorção da guitarra de Martin Gore, obviamente trabalhados em estúdio, que lembram diretamente os sons fractais do Kraftwerk. Nesta faixa, a voz de Gahan soa desesperada, sufocada pela muralha sonora.
THE LOVE THIEVES: O choque. Depois de “Barrel...”, esperando-se algo na sua linha, ouve uma música calma, com um vocal sereno e suave, e uma letra falando de amor. Simplesmente amor...
DAVE GAHAN______________________________

Fala sobre os sacrifícios de quem ama... realmente, é um choque, algo semelhante a um dia inteiro dentro de uma sala com ar condicionado, e, ao sair-se desta sala, uma diferença de temperatura, que pega você e surpresa... e é o que “The Love Thieves” faz... uma bela melodia. Bongos de música Indu ao fundo... ela vai colocando você no clima do cd...

HOME: Aqui, Martin Gore assume os vocais (não estranhe, você que não conhece o DM, isto é bem comum no obra da banda... Dave canta a maioria das músicas, mas em em cada trabalho somos brindados com a grave e eloqüente voz de Gore). Aqui, Martin canta, claramente, sobre a família (certamente a dele), de uma maneira tão apaixonada que pode-se visualizar todo o aconchego que um lar, e alguém que se ama do seu lado... Tô exagerando? NÃO! Garanto que não! A música tem um arranjo de cordas que em alguns momentos lembra algo semelhante feito em Songs... mas aqui de uma maneira bem diferente, ouve-se mesclado ao fundo, uma bateria marcante, com um triângulo marcando o swing, e um solo de guitarra que gruda na memória e não solta mais... a música é linda!
______________________________MARTIN GORE

IT’S NO GOOD: Aqui o peso volta, de uma certa maneira, na sonoridade, mas a letra contêm-se. Uma linha de baixo marcante, extremamente dançante, e um vocal sereno. É Dave, novamente surpreendendo com sua precisão nas notas, uma música extremamente agitada.
USELINK: Uma das bem-vindas “faixas de ligação”que o Depeche Mode sempre fez questão de inserir em seus álbuns... Uma experiência sonora, instrumental, onde sons novos e processados digitalmente partilham o mesmo espaço com “timbres jurassicos” vindos de teclados antigos, ainda analogicos... lembrando muito faixas como OHM SWEET OHM, do Krafwerk.
USELESS: Boa música... com ares de rock, uma bateria marcada, arrastada, acústica, levada por “tapetões” de teclado ( pra quem não sabe, “tapetão”é a expressão que se utiliza para descrever um som arrastado por toda o trecho de uma música, geralmente um som de cordas, ou coral...). O vocal de Dave altera do suave ao alterado, nada tão desesperado como em “Songs...”, mas em tom diferente. Um hit... que logo virou single, e serve para os leigos sobre DM dizerem “báaaa, eles tão fazendo rock agora...”

SISTER OF NIGHT: Uma música que surpreende pela mudança de arranjo, hora calma, extremamente calma, beirando ao som ambiental, hora pesando, tornando-se dançante, mas esta mudança não é dada de forma suave, é no soco mesmo, marcada por uma virada e bateria... é barulho, e de repente...a calma ... A voz e Dave, apesar das mudanças de arranjo, não se altera, imparcial a isto, e comovente.
JAZZ THIEVES: Outra faixa e ligação, timbres distorcidos de violão, repetidos até o fim... novamente experimentalismo... bem vindo, sempre.
FREESTATE: A influência de sonoridades Indus aparece novamente. Freestate tem um vocal tão relaxante, mas tão relaxante, que você sente o nome da música literalmente... um estado de liberdade e leveza sem igual... até os timbres são suaves. Em seu encerramento, uma citarra, presente por toda a música, dá a última nota...

ANDREW FLETCHER______________________________

THE BOTTOM LINE: Novamente a paz se faz presente. Sua bateria tem timbres e puro jazz, e um solo de steel guitar de B.J. Cole soberbo, de ficar na mente e não sumir mais... Martin Gore aqui canta novamente, em sua segunda participação como vocalista no álbum, de uma maneira tão emocionante quanto em “Home”. A letra é linda! Nem conseguiria mais descrever... se você ama alguém, vai entender o que estou dizendo. “...the sun will shine / the bottom line / I follow you.” Jaz diz tudo!
INSIGHT: Quem conhece o trabalho do Depeche Mode pode concordar com esta minha afirmação (ou não): cada trabalho do DM tem uma temática, que, em cada álbum, deixa as músicas todas interligadas, quase que como contando uma grande história... mas cada álbum tem uma música-símbolo, algo como “o espirito” do álbum. E acreditem, “INSIGHT” é, sem dúvida alguma, o espirito de Ultra. Ela diz tudo! Sua sonoridade, sua letra, o clima todo em volta dos timbres, do instrumental... é maravilhosa!!! Poderia abrir o disco, mas funciona perfeitamente como encerramento do álbum, pois faz você ouvir até a última nota, e pensar...”Nossa, este disco é muito bom!”
Mas ela não é a última. Após aproximadamente 2 minutos de silêncio, chega aos nosso ouvidos a faixa de encerramento,
“JUNIOR PAINKILLER” uma faixa instrumental que soa como uma promessa de retorno. Um retorno triunfante.

CONCLUSÕES:

- Dave Gahan, pra quem beijou a face da morte, passa uma paz incrível. Sua voz é como um vinho, que a medida em que passam os anos, fica cada vez mais valiosa. Controle absoluto!

- Martin Gore é um excelente compositor. Ele tem uma música que não se limita as pistas de dança, nos faz pensar com suas letras, é consegue implantar emoção em seus ouvintes a cada nota de suas melodias. Um verdadeiro manipulador de almas... um maluco genial!

- Tim Simenon: guardem este nome. Ele tem firmeza, conhece estúdio como ninguém, e tem uma mente aberta para várias sonoridades. Que venham mais trabalhos dele, como Bomb The Bass, ou apenas como produtor.

- Ainda considero VIOLATOR, de 1990, como a obra-prima da banda... Flood (que produziu este e “Songs...”) fez um ótimo trabalho, realmente fantástico, e Alan Wilder, ainda na banda àquela época, mostra toda seu talento para arranjos memoráveis... É um trabalho insuperável. Mas confesso que, quando ouví ULTRA, vi que Violator tem um forte concorrente. Realmente.

- ULTRA é, sem sombra de duvida, o disco mais romântico da banda! Sem tornar-se piegas, ele é um retrato do atual DM, maduro, consolidado, e, acima de tudo, ciente de seu lugar.

- Tendo em vista a situação em que a banda estava, ULTRA é um milagre!

- E pra finalizar... sim, sou suspeito para falar deste trabalho, sim... pois sou um fã da banda, mas tenho um senso crítico, e, realmente, este álbum é muito bom mesmo. Se você gosta de música eletrônica, seja pesada ou pop, ou então gosta de rock, mpb, bom, ... seja lá o que for... não ignore este álbum. Realmente, é algo de extremo bom gosto, que merece, no mínimo, uma única audição. E vale cada centavo do que custa, coisa difícil e se achar hoje em dia na indústria fonográfica, por que tem tanta porcaria por aí...

DANIEL Inuyasha HDR

DEPECHE MODE - DISCOGRAFIA

1981 - Speak & Spell
1982 - A Broken Frame
1983 - Construction Time Again
  1983 - People Are People
1984 - Some Great Reward
  1985 - Catching Up With Depeche Mode
1985 - The Singles - 81--->85
1986 - Black Celebration
1987 - Music For The Masses
1988 - 101
1990 - Violator
1992 - Songs Of Faith And Devotion
1993 - Songs Of Faith And Devotion LIVE
  1997 - ULTRA

 

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