Para quem não sabe, rádios livres são emissoras que não possuem autorização do governo para funcionar. Elas ocupam os espaços vazios do dial no FM, como um sem-terra que invade uma terra improdutiva. As intenções de quem quer promover essa reforma agrária no ar são as mais variadas: o estabelecimento da democracia na comunicação, a abertura de um espaço para uma comunidade ter acesso a um meio de comunicação - esses, os motivos mais nobres. Por outro lado, tem gente que entra nisso apenas para ganhar dinheiro mesmo. Aqui no Brasil, o movimento tem mais de dez anos e neste final de anos 90 o tema finalmente terá uma deliberação do Congresso Nacional. A tão sonhada regulamentação está próxima. Meu envolvimento com rádios livres é recente. Participo de uma rádio, a Onze, aqui de São Paulo, desde 1995. Mas lá pelos idos de 1985 e 1986, eu já acompanhava o noticiário dos jornais paulistanos sobre o tema (que saudade daquela época; hoje os jornais não dão uma linha sequer sobre o tema, mas isso eu abordo mais adiante). Cheguei a ouvir nesse ano esparsas transmissões da Dengue FM. Eu era um adolescente e tinha enorme vontade de participar de uma rádio livre. Os anos passaram e meu interesse sobre as rádios livres diminuiu um pouco. Culpa do trabalho que passou a me absorver mais que o necessário. Também estava estudando, freqüentando um cursinho para conseguir uma boa colocação numa boa faculdade. Porém, num dos dias que matei o cursinho, resolvi ficar em casa, pois toda essa rotina vertiginosa estava me deixando cansado. Liguei o rádio, esperando o programa do Kid Vinil. Ele na época apresentava um programa na Rádio Brasil 2000, que ficava bem no canto direito do dial. Estava na escuta e, para matar o tempo, fui fazer um "zapping" de rádio. Por engano fui para a direita. Digo por engano, pois depois do 108Mhz, em tese, não teria nada. Mas tinha. Era uma estação bem picareta chamada Studio M. Tocava umas músicas horrorosas, mas continuei ouvindo, pois desconfiei que se tratava de uma rádio livre. E era. Para falar a verdade, era a rádio de uma pessoa só: o Marcelo Marcos, que diga-se de passagem, nunca cheguei a conhecer. A rádio dele funcionava entre 20h e 24h. O "play-list" era o mais convencional possível: poperô, Falcão e Mamonas Assassinas (que na época estavam estourando). Passei a ouvir a Studio M com mais assiduidade, até para descobrir de onde ele estava transmitindo (me disseram que era perto de casa). Um belo dia, sintonizei a rádio e percebi que a programação dela estava um pouco diferente. Ouvi uma música dos Titãs e estranhei, pois ele nunca tocou essa banda. Continuei na escuta e percebi que a rádio estava em cadeia com uma outra. Era a Rádio Onze, rádio ligada ao C. A. XI de agosto da Faculdade de Direito - USP. Nessa ocasião, o Marcelo estava sendo entrevistado pela Onze e deu um jeito de colocar as rádios em cadeia. A partir de então, passei a acompanhar mais a Rádio Onze como ouvinte. Um belo dia Rodrigo Lobo, um dos idealizadores da emissora, numa das transmissões, anuncia que estão admitindo projetos de programas. E que qualquer pessoa poderia fazer isso. Pensei que seria uma ótima ocasião para realizar meu sonho. Liguei para um amigo e logo surgiu a idéia (nada original) de fazer um programa de rock. Na próxima vinda a esta mesa do LAO Bar, conto a segunda parte dessa história. |
Texto: Rodney Brocanelli