Outros

O trabalho que a seguir se reproduz, em termos de texto e imagem, não em termos de apresentação gráfica, foi por mim realizado, no âmbito de uma acção de formação realizada no PRÓ fessor - Centro de Formação de Professores de Matosinhos, em 1997.
Acho um trabalho interessante, vejam-no com atenção e mandem as vossas criticas.

Szarkosski vê a história da fotografia como o resultado de uma interacção dinâmica entre desenvolvimento e inovação tecnológica e o génio individual daqueles que praticam a fotografia, entre os desafios económicos e sociais e as reacções pessoais dos fotógrafos.

...O que acho mais refrescante em tudo que Szarkoski diz ou faz é que ele não tem vergonha da fotografia. Não precisa de alindar ou de lhe disfarçar as rugas, nem sente necessidade de justificar, a todo o instante que a fotografia é uma arte. Enquanto os charlatães, comerciantes e investidores se atarefam a inchar os preços daquela que é a mais democrática das artes, SzarKosski atira-nos à cara com esforços heróicos e subtis dos ilustres desconhecidos. Tal como nas grandes catedrais medievais pouco interessam os autores - são as fotografias que ficam. Alguns, mais inseguros, chamam a isto conservadorismo; a mim excita-me porque o acho revolucionário.
....Na fotografia, arte e tecnologia são indiscerníveis.


Jorge Calado Expresso 90.06.01



A Fotografia não diz (forçosamente) aquilo que já não é, mas apenas e de certeza aquilo que foi. Esta subtileza é decisiva. Diante de uma foto, a consciência não segue necessariamente a via nostálgica da reconstrução (quantas fotografias estão fora do tempo individual), mas, para toda a fotografia existente no mundo, a via da certeza: a essência da Fotografia é ratificar aquilo que representa.

Um dia, um fotógrafo enviou-me uma foto minha: Apesar dos meus esforços, não consegui recordar-me onde havia sido tirada. Inspeccionei a gravata, o pull-over, a fim de detectar em que circunstâncias os tinham usado: trabalho inútil: E, contudo, porque se tratava de uma fotografia, não podia negar que tinha estado lá (mesmo que não soubesse onde). Esta distorção entre a certeza e o esquecimento provocou-me uma espécie de vertigem e como que uma angústia policial (o tema do Blow-up não andava longe); eu ia à inauguração como a um inquérito para compreender finalmente aquilo que já não sabia de mim próprio.

Esta certeza nenhum texto pode dar-ma. É a desgraça (mas também, talvez, a volúpia) da linguagem não poder autentificar-se a si mesma. O noema da linguagem é talvez esta impotência, ou, para falar de um modo positivo, a linguagem é, por natureza, ficcional. Para tentar tornar a linguagem inficcional é necessário um enorme dispositivo de medidas: convoca-se a lógica ou, à falta desta, o juramento. Mas a fotografia, essa é indiferente a todo o circuito: ela não inventa, é a própria autentificação. Os raros artifícios que permite não são probatórios.

Pelo contrário, são truques: a fotografia só é laboriosa quando faz batota. É uma profecia ao contrário: tal como Cassandra, mas com os olhos fixos no passado, ela nunca mente. Ou melhor, ela pode mentir sobre o sentido da coisa, sendo por natureza tendenciosa, mas nunca sobre a sua existência. Impotente perante as ideias gerais (perante a ficção) a sua força é todavia, superior a tudo o que pode ou pôde conceber o espírito humano para nos garantir a realidade - mas também essa realidade nunca é mais do que uma contingência ("assim, sem mais")

Fotogramas

Toda a fotografia é um certificado de presença. Esse certificado é o gene novo que a sua invenção introduziu na família das imagens. As primeiras fotos que um homem contemplou (Niepce diante da Mesa Posta, por exemplo)

Devem ter-lhe parecido tão semelhantes a pinturas como duas gotas de água (sempre a câmera obscura); contudo, ele sabia que se encontrava face a face com um mutante (um marciano pode assemelhar-se a um homem). A sua consciência colocava o objecto encontrado fora de toda a analogia, como ectoplasma "daquilo que tinha sido". Nem imagem, nem real que já não pode ser tocado.

Talvez tenhamos uma resistência invencível em acreditar no passado, na História, a não ser sob a forma de mito. Pela primeira vez, a Fotografia acaba com essa resistência: o passado, é, a partir de agora, tão seguro como o presente, aquilo que se vê no papel é tão real como aquilo que se toca. é o advento da Fotografia - e não, como foi dito, o do cinema, que partilha a história do mundo.
E precisamente porque é um objecto antropologicamente novo que, segundo me parece, ela deve escapar às discussões vulgares sobre a imagem. Actualmente, a moda entre os comentadores da Fotografia (sociólogos e semiólogos) é a da relatividade semântica: não existe "real" (grande desprezo pelos realistas que não vêem que a foto, é sempre codificada), apenas artíficio: Thésis, não Phisis. A Fotografia, dizem eles, não, é um analogon do mundo. Aquilo que representa é fabricado, porque a óptica fotográfica está submetida à perspectiva albertiniana (perfeitamente histórica) e porque a inscrição em cliché faz de um objecto tridimensional uma efígie bidimensional. Este debate é inútil: nada pode impedir que a Fotografia seja analógica. Mas, ao mesmo tempo, o noema da Fotografia não está de modo nenhum na analogia (característica que partilha com todas as espécies de representação). Os realistas, nos quais eu me incluo e me incluía já quando afirmava que a Fotografia era uma imagem sem código mesmo que, evidentemente, haja códigos

  

que venham influenciar a sua leitura- , não tomam, de forma alguma, a foto por uma "cópia "do real, mas por emanação do real passado: uma magia, não uma arte. Interrogarmo-nos se a fotografia é analógica ou codificada não é um bom método de análise. O importante é que a foto possui uma força verificativa e que o verificativo da Fotografia incida não sobre o objecto mas sobre o tempo. De um ponto de vista fenomenológico, na Fotografia, o poder de autenticação sobrepõe-se ao poder de representação.

Roland Barthes "A câmara escura"



...Uma vez que toda a foto é contingente (e por isso mesmo, sem sentido), a Fotografia só pode significar (visar na generalidade) adoptando uma máscara. É precisamente essa palavra que Calvino utiliza para designar aquilo que faz de um rosto o produto de uma sociedade e da sua história...

     

...A Fotografia não rememomora o passado (já não há nada de proustiano numa foto). O efeito que ela produz em mim não é o de restituir aquilo que é abolido (pelo tempo, pela distância), mas o de confirmar que aquilo que vejo existiu realmente. Trata-se, portanto, de um efeito verdadeiramente escandaloso. A Fotografia espanta-me sempre, com um espanto que perdura e se renova inesgotavelmente...


 

 


...No fundo a Fotografia é subversiva não quando assusta, perturba ou até estigmatiza, mas quando é pensativa...

...Como a Fotografia é contingência pura e não pode ser mais do que isso (é sempre alguma coisa que é representada) - ao contrário do texto que, pela acção súbita de uma única palavra, pode fazer passar uma frase da descrição à reflexão...

Aquilo que a Fotografia reproduz até ao infinito só aconteceu uma vez; ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente. Nela, o acontecimento nunca se transforma noutra coisa; ela é o Particular absoluto, a Contingência soberana...

ROLAND BARTHES


 

PROPOSTA PARA UM CLUBE DE FOTOGRAFIA

OBJECTIVOS ESPECÍFICOS:
- Possibilitar a aquisição de conhecimentos básicos sobre as técnicas de fotografia
- Desenvolver as capacidades criativas dos alunos
- Servir como meio de realização pessoal
- Dar a conhecer o trabalho da Escola ao Meio e vice-versa
- Possibilitar e fomentar a interdisciplinaridade

CONTEÚDOS A DESENVOLVER:
- Técnica fotográfica
- O que é a fotografia?
- História da fotografia
- Suportes fotográficos
- Adaptação da imagem
- A fotografia ao serviço da Escola e do Meio
- Recolha de imagens
- Prática fotográfica
- Fotografia com caixa
- Fotogramas
- O laboratório fotográfico:
.Revelação fotográfica (preto e branco)
Realização de cópia em papel (preto e branco) por contacto e por ampliação

ESPAÇOS; RECURSOS E MATERIAIAS:
- Uma câmara escura que permita o trabalho de 5 a 10 alunos
- 2 máquinas fotográficas de 35m/m sistema reflex
- 5 máquinas fotográficas tipo"instantamatic"
- 5 ampliadores
- 5 placas marginadoras
- 5 relógios para adaptar aos ampliadores
- 2 tanques de revelação de filme com sistema de lavagem
- 1 secador de revelação "tipo manga", para filmes
- 1 esmaltadeira
- 3 tinas de revelação 30x40
- 3 tinas de revelação 40x50
- 3tinas de revelação 50x60
- 1 proveta de 100 cm3
- 1 proveta de 1000 cm3
- 4 pinças de plástico
- 6 lanternas vermelhas
- 2 relógios para revelação
- 1 termómetro
- 1 guilotina
- 5 jogos de filtros Multigrade
- 1 rebobinador de filme
- 2tesouras
- filme a preto e branco em bobine de diferentes sensibilidades
- papéis fotográficos de diferentes graus e formatos
- revelador de filme
- revelador de papel
- fixador universal
Esta proposta é feita com o intuito de proporcionar aos alunos (10-12 anos) a descoberta de uma actividade diferente, longe dos programas rígidos e das turmas enormes, em que se vai (pretende) estabelecer uma relação mais estreita entre o professor e o aluno.
Aqui vai perceber (tentar) que a fotografia está na encruzilhada de dois processos distintos: um de ordem química, a acção da luz sobre certas substâncias: o outro, de ordem física, a formação da imagem através de um dispositivo óptico. E assim vai descobrir novas formas de ver e olhar a vida, ou melhor, vai passar de
SUJEITO OLHADO a SUJEITO QUE OLHA

 

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