Outros
O trabalho que a seguir se reproduz, em termos de texto e
imagem, não em termos de apresentação gráfica,
foi por mim realizado, no âmbito de uma acção de formação
realizada no PRÓ fessor - Centro de Formação de Professores
de Matosinhos, em 1997. Szarkosski vê a história da fotografia como o resultado de uma interacção dinâmica entre desenvolvimento e inovação tecnológica e o génio individual daqueles que praticam a fotografia, entre os desafios económicos e sociais e as reacções pessoais dos fotógrafos. ...O que acho mais refrescante em tudo que Szarkoski diz
ou faz é que ele não tem vergonha da fotografia. Não
precisa de alindar ou de lhe disfarçar as rugas, nem sente necessidade
de justificar, a todo o instante que a fotografia é uma arte. Enquanto
os charlatães, comerciantes e investidores se atarefam a inchar
os preços daquela que é a mais democrática das artes,
SzarKosski atira-nos à cara com esforços heróicos
e subtis dos ilustres desconhecidos. Tal como nas grandes catedrais medievais
pouco interessam os autores - são as fotografias que ficam. Alguns,
mais inseguros, chamam a isto conservadorismo; a mim excita-me porque
o acho revolucionário.
Um dia, um fotógrafo enviou-me uma foto minha: Apesar dos meus esforços, não consegui recordar-me onde havia sido tirada. Inspeccionei a gravata, o pull-over, a fim de detectar em que circunstâncias os tinham usado: trabalho inútil: E, contudo, porque se tratava de uma fotografia, não podia negar que tinha estado lá (mesmo que não soubesse onde). Esta distorção entre a certeza e o esquecimento provocou-me uma espécie de vertigem e como que uma angústia policial (o tema do Blow-up não andava longe); eu ia à inauguração como a um inquérito para compreender finalmente aquilo que já não sabia de mim próprio. Esta certeza nenhum texto pode dar-ma. É a desgraça (mas também, talvez, a volúpia) da linguagem não poder autentificar-se a si mesma. O noema da linguagem é talvez esta impotência, ou, para falar de um modo positivo, a linguagem é, por natureza, ficcional. Para tentar tornar a linguagem inficcional é necessário um enorme dispositivo de medidas: convoca-se a lógica ou, à falta desta, o juramento. Mas a fotografia, essa é indiferente a todo o circuito: ela não inventa, é a própria autentificação. Os raros artifícios que permite não são probatórios. Pelo contrário, são truques: a fotografia só é laboriosa quando faz batota. É uma profecia ao contrário: tal como Cassandra, mas com os olhos fixos no passado, ela nunca mente. Ou melhor, ela pode mentir sobre o sentido da coisa, sendo por natureza tendenciosa, mas nunca sobre a sua existência. Impotente perante as ideias gerais (perante a ficção) a sua força é todavia, superior a tudo o que pode ou pôde conceber o espírito humano para nos garantir a realidade - mas também essa realidade nunca é mais do que uma contingência ("assim, sem mais")
Toda a fotografia é um certificado de presença. Esse certificado é o gene novo que a sua invenção introduziu na família das imagens. As primeiras fotos que um homem contemplou (Niepce diante da Mesa Posta, por exemplo) Devem ter-lhe parecido tão semelhantes a pinturas como duas gotas de água (sempre a câmera obscura); contudo, ele sabia que se encontrava face a face com um mutante (um marciano pode assemelhar-se a um homem). A sua consciência colocava o objecto encontrado fora de toda a analogia, como ectoplasma "daquilo que tinha sido". Nem imagem, nem real que já não pode ser tocado. Talvez tenhamos uma resistência invencível em
acreditar no passado, na História, a não ser sob a forma
de mito. Pela primeira vez, a Fotografia acaba com essa resistência:
o passado, é, a partir de agora, tão seguro como o presente,
aquilo que se vê no papel é tão real como aquilo que
se toca. é o advento da Fotografia - e não, como foi dito,
o do cinema, que partilha a história do mundo.
que venham influenciar a sua leitura- , não tomam, de forma alguma, a foto por uma "cópia "do real, mas por emanação do real passado: uma magia, não uma arte. Interrogarmo-nos se a fotografia é analógica ou codificada não é um bom método de análise. O importante é que a foto possui uma força verificativa e que o verificativo da Fotografia incida não sobre o objecto mas sobre o tempo. De um ponto de vista fenomenológico, na Fotografia, o poder de autenticação sobrepõe-se ao poder de representação. Roland Barthes "A câmara escura"
...A Fotografia não rememomora o passado (já não há nada de proustiano numa foto). O efeito que ela produz em mim não é o de restituir aquilo que é abolido (pelo tempo, pela distância), mas o de confirmar que aquilo que vejo existiu realmente. Trata-se, portanto, de um efeito verdadeiramente escandaloso. A Fotografia espanta-me sempre, com um espanto que perdura e se renova inesgotavelmente...
...Como a Fotografia é contingência pura e não pode ser mais do que isso (é sempre alguma coisa que é representada) - ao contrário do texto que, pela acção súbita de uma única palavra, pode fazer passar uma frase da descrição à reflexão... Aquilo que a Fotografia reproduz até ao infinito só aconteceu uma vez; ela repete mecanicamente o que nunca mais poderá repetir-se existencialmente. Nela, o acontecimento nunca se transforma noutra coisa; ela é o Particular absoluto, a Contingência soberana... ROLAND BARTHES
PROPOSTA PARA UM CLUBE DE FOTOGRAFIA OBJECTIVOS ESPECÍFICOS:
CONTEÚDOS A DESENVOLVER:
ESPAÇOS; RECURSOS E MATERIAIAS: |