O Príncipe dos Pregadores ao Ar Livre
Do livro Labaredas de Fogo, de 1962, de Rosalee Appleby.


Era pouco compreendida a necessidade de regeneração no tempo em que nasceu Jorge Whitefield. A confusão sobre este assunto trouxera declínio moral e espiritual aos campos chamados cristãos; mas Deus, como tem sempre feito nas horas mais escuras da história, levantou seus arautos em diferentes lugares para um Despertamento Espiritual: um Jonatas Edwards na América, David Brainerd para os índios, um Zinzendorf na Alemanha, os Wesley e Whitefield na Inglaterra. O Todo-poderoso trouxe iluminação espiritual, regeneração e poder a fim de equipar esses vasos modelares para o tempo crítico em que viviam.
Nova Vida em Cristo

Jorge Whitefield era um dos do grupo famoso que pertencia ao CLUBE SANTO de Oxford, Inglaterra, e que desejava profundamente alcançar o alvo do viver santo e serviço frutífero, mas através de austeridades, regras e boas obras. Um dia, Wesley deu-lhe um livro chamado "A vida de Deus na Alma do Homem", no qual o autor ensinava que as obras não são o verdadeiro caminho, mas "a verdadeira religião é união da alma com Deus, a experiência de Cristo em nós". Disse ele: "Um raio de luz divina instantaneamente brilhou em minha alma, e a partir daquele momento, nunca até então, conheci que eu me devia tornar nova criatura". Após longa luta, Whitefield experimentou a vitória, a qual assim ele descreve: "Oh! como daquela alegria, gozo indizível, prazer repleto de imensa glória, foi minha alma cheia, quando o peso do pecado se desprendeu de mim! Um sentimento profundo de amor perdoador de Deus e firme certeza de fé caiu sobre minha alma amargurada! Certamente era o dia de meu desposório, um dia que ficaria para sempre em minha memória. No princípio, as minhas alegrias semelhavam-se à cheia da primavera; para assim dizer, transpunham os barrancos. Aonde quer que fosse, não podia deixar de cantar em voz alta hinos favoritos; depois elas tornaram-se mais firmes, louvado seja a Deus! Salvo poucos intervalos casuais, tem habitado e aumentado em minha alma, desde então. Assim terminaram os dias de meu lamento. Após longa noite de deserção e tentação, a estrela que antes eu vira à distância começou a aparecer outra vez, e a estrela da manhã ergueu-se em meu coração".

Chamada ao Ministério

Jorge sentia-se chamado para o ministério, mas se achava indigno de tal chamada. "Muitas vezes tenho estado em agonia de oração, quando convicto de minha insuficiência e inaptidão. Lembro-me de uma vez, em Gloucester: Olhei pela janela, quando estava ali, e passei os olhos ao longo da rua. Eu conheço também o leito e o assoalho onde me prostrei e exclamei: "Senhor, não posso ir! Sou indigno de pregar em teu grande nome".

No dia de sua consagração ou ordenação ao ministério, Jorge Whitefield submeteu-se inteiramente a Deus, e desde então pregou com grande unção e poder. Assim fala sobre sua ordenação: "Confio em que respondi a todas as perguntas, do fundo do meu coração. Espero que o bem das almas será o meu único princípio de ação. Venha o que vier, vida ou morte, de hoje em diante viverei semelhante a alguém que neste dia estivesse na presença dos homens e dos anjos. Se eu mesmo terei a honra de achar-me a mim mesmo prisioneiro do Senhor, não sei; mas, na verdade, meu caro amigo, clamo ao céu e à terra como testemunhas de que, quando o bispo pôs as mãos sobre mim, dei-me para ser mártir por Cristo, que foi pendido da cruz por mim. Conhecidos d'Ele são todos os eventos futuros e contingências. Lancei-me como cego e confiado, sem reservas, às suas potentes mãos".

De Whitefield, caixeiro de botequim, rapaz tirado do coração deste negócio que era a ruína do povo, Deus fez um cruzado de eloqüência torrencial.

A primeira tarefa foi arrebatar a religião das mãos paralíticas de uma instituição moribunda e amaldiçoada com acadêmica intolerância. Um simples rapaz, arrogando-se o oráculo da igreja, com aparente vaidade e insultando intoleravelmente o complacente clero do tempo! Isto foi a obra de Whitefield, a bem sucedida aerificação dos modos comuns da vida inglesa, com os ventos da religião verdadeira e poderosa. Esta religião, livre das escuras naves e criptas onde esteve por tanto tempo aprisionada, enclausurada, derramou-se como vivificantes ventos através dos campos e colinas, pelas entradas e becos, casas e ruas, pelas minas e fábricas das novas cidades industriais, pelas crescentes metrópoles, forte e poderoso evento do Espírito, destinado a soprar sobre aquelas cidades.

Plenitude de Vida

Whitefield, juntamente com os Wesley e outros, reunia-se para oração e a busca da plenitude em Cristo. Continuaram até que se ateou vivamente o fogo. "Cerca das três da madrugada, enquanto continuávamos em oração, o poder de Deus veio poderosamente sobre nós, de modo que muitos gritaram de inexcedível gozo, e muitos caíram por terra. Logo que nos recobramos um pouco dessa perturbação na presença da Sua Majestade, exclamamos a uma voz: "Louvamos-Te ó Deus, reconhecemos-Te como o Senhor!".

Despertamento Espiritual Previsto

Cinco dias depois disto, oito ministros de Jesus Cristo, que Deus, em Sua providência, havia juntado, encontraram-se em Islington para considerar a situação; e depois de muita oração e discussão partiram às primeiras horas da madrugada, na convicção de que realizariam grandes coisas. Havia muita influência divina entre nós. Assim nasceu o avivamento na atmosfera pentecostal.

Seus Ministros... Labareda de Fogo

No primeiro sermão, após essa consagração ao ministério, houve uma queixa de que Whitefield fizera enlouquecer 15 pessoas.

Num tempo em que qualquer viagem era muito difícil (Jorge tinha um organismo débil), atravessou o Atlântico 13 vezes, pregando a auditórios de 10 a 50 mil ouvintes. Avaliou-se que ele pregara uma média de 10 sermões por semana, durante 31 anos. Perseguições, escárnio dos homens, dificuldades nas viagens, oposição e incompreensão, nada o impedia de proclamar, com toda a força de seu vigor e toda a paixão de sua alma, as maravilhas de Cristo e de Seu poder.

Jorge escreveu, certa vez: "Eu durmo pouco. Se tivesse mil mãos, empregá-las-ia todas. Quisera possuir mil línguas, para louvá-Lo. Ele ainda operará mais e mais por mim". Uma testemunha ocular de seu trabalho na América escreveu: Nunca vi, em minha vida, ouvintes tão atenciosos como os de Whitefield em Nova York. Tudo o que ele dizia era uma demonstração de vida e de poder. Os olhos e os ouvidos do povo estão nele e em suas palavras. Os dotes de sua mente são incomuns, seu talento penetrante e sua imaginação, viva e florida, tanto quanto eu possa discernir, estão sob controle de sólido juízo. Tem a memória mais pronta, e penso que fala inteiramente sem notas. Possui voz calma e musical, além de maravilhoso domínio sobre ela. Cada acentuação de sua voz e cada movimento de seu corpo é natural, não afetado. Sua pregação era muitas vezes terrível. Centenas de almas foram convencidas de pecado em seu poderoso ministério. Os pastores de Boston foram inspirados de nova fé, vida e poder".

Não Morrerei, Mas Viverei e Declararei as Obras do Senhor

No dia anterior à sua morte, Whitefield pregou o seu último sermão ao ar-livre, e um dos ouvintes conta: "O senhor Whitefield levantou-se e ficou ereto; somente sua aparência já era um poderoso sermão. Após diversos minutos incapaz de falar, disse "Esperarei pela graciosa presença de Deus porque Ele, estou certo, me assistirá uma vez mais para falar em Seu nome". Pronunciou, talvez, um dos melhores sermões. "Eu vou descansar. Meu sol levantou-se e com o auxílio do céu deu luz a muitos. Agora está na hora de se pôr; não: na hora de levantar-se no zênite da glória imortal. Sobrevivi a muitos na terra, mas não podem sobreviver-me no céu. Ó pensamento divino! Em breve estarei no mundo onde o tempo, idade, sofrimento e tristeza são desconhecidos. Meu corpo languesce, meu espírito expande-se. Como de boa vontade viveria sempre, para anunciar a Cristo. Mas morro para estar com Ele".

O avivalista, neste último campo, pregou por duas horas, gastando a si mesmo até a última gota de seu magro vigor. Posteriormente, com assistência, ele alcançou a casa pastoral. Enquanto estava jantando, multidões começaram a reunir-se à frente de sua casa. Elas se comprimiam também no salão da casa, esperando ouvir aquela poderosa voz outra vez.

"Estou cansado", disse Whitefield, "devo ir-me deitar". Tomou uma lanterna e procurou o quarto, mas a visão do povo que enchia a sala e a rua, e esperava paciente, era demais para ele. Arrimando-se no patamar, começou a falar, e então pregou. Era paixão dominante, forte na morte. Sua voz prosseguiu apelando, exortando, flamejando, até consumir-se.

Às duas horas da manhã, violento ataque de sua velha inimiga, a asma, dominou-o. Incapaz de prosseguir no sono, gastou o tempo em oração, pedindo a Deus que abençoasse as pregações que fizera nos últimos tempos, que o ajudasse a trazer novas almas a Cristo, e guiá-lo nos seus planos futuros.

Às cinco horas, levantou-se para a janela outra vez, lutando para obter mais ar. Neste instante, volta-se para o seu amigo, Ricardo Smith, e diz-lhe: "Estou morrendo". Seus amigos fizeram o que podiam para aliviá-lo, mas nada foi de proveito. Às seis horas da manhã, a 30 de setembro de 1770, ele, que acordara tão grandes multidões de almas do sono da morte do pecado para a vida que realmente é VIDA, acordou-se a si mesmo do sono mortal para a vida que é sem fim.

Disse acertadamente James Stephens: "Se a filantropia já viajou no coração humano, com puro e intenso vigor, abraçando a humanidade inteira no espírito da caridade universal, fê-lo no coração de Jorge Whitefield. Ele amou o mundo que o odiou".

(De Jorge Whitefield, Belden Barrie e Rockliff Pub.)

Neste quinto folheto, extraído do quinto capítulo do livro "Labaredas de Fogo" (coletânea de folhetos escritos que a autora Rosalee Appleby distribuiu em 1962 pelas igrejas do nosso país), temos um pouco da vida de um dos grandes homens de Deus.

Notemos que ele achava-se incapaz e indigno de proclamar o evangelho da salvação do nosso Senhor Jesus Cristo, como hoje muitos de nós nos achamos incapazes e indignos!

Mas, imperfeito como nós – homem como qualquer um de nós – optou por confiar em Deus por toda a sua vida, e Deus o abençoou.

Humilhando-se perante Deus, foi revestido do poder do Espírito Santo e pregou prodigiosamente a palavra que cura almas enfermas e liberta almas perdidas no cativeiro de Satanás.

E era tão humano, e fraco, e pecador como qualquer um de nós... Peço a Deus que nós – eu e você – busquemos de coração o nosso Deus, colocando diante dele nossas fraquezas, mas lembrando que Ele nos capacita a irmos muito além do que possamos imaginar.

Ele nos ama e quer-nos abençoar com uma vida abundante! Que abramos nossos corações diante dEle. Ele há de nos abençoar! Sejamos sensíveis ao toque do Espírito, sensíveis aos que estão do nosso lado em tantos lugares e padecem pela falta de conhecimento do Deus vivo. Sensíveis, inconformados e "chorões" como Deus é por esses que Ele tanto ama, tanto que sofreu no lugar deles, fez-se como nós e eles, e padeceu na cruz do Calvário.

Mas vive eternamente para dar dessa nova vida aos que buscam uma solução para o mundo que perece! Lembremos de orar como Jesus orou: não em favor próprio, mas por amor aos seus irmãos sem conhecimento do Pai.

Edemar A. Santos, novembro de 1995


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