Compilado por Salatiel Alves de Araujo, todos direitos reservados © 1996

Pantanal - Geologia / Geomorfologia


AB'SABER (1988), em um extenso trabalho sobre a origem do Pantanal Matogrossense, desenvolve a idéia de que o que hoje é uma depressão teria sido no passado uma vasta abóbada de escudo, que funcionava como área de fornecimento detrítico para as bacias sedimentares do Grupo Bauru (Alto Paraná) e Parecis.

A vasta abóbada de escudo existente até o Cretáceo comportou-se depois como anticlinal esvaziada, de grande amplitude regional. Isto teria acontecido porque durante o soerguimento pós-cretácico de conjunto teriam ocorrido nela falhamentos importantes facilitando seu desventramento.

Hoje o Pantanal Matogrossense se caracteriza por extensas planícies de acumulação, com cotas inferiores a 200 metros. Sua evolução pretérita, atual e futura está submetida às condições das áreas elevadas que o rodeiam, pois estas constituem sua fonte de água e sedimentos (Godói Filho, 1986). Este autor apresenta algumas características geológicas das formações que ocorrem nas planícies de acumulação e daquelas que constituem sua área de influência: Complexo Rio Apa, Complexo Xingu, Grupo Rio Branco, Suite Intrusiva Guapé, Grupo Cuiabá, Grupo Corumbá, Grupo Jacadigo, Grupo Alto Paraguai, Grupo Amoguijá, Suite Intrusiva Alumiador, Suite Intrusiva Rio Alegre e Grupo Aguapeí (Pré-Cambriano); Formações da Bacia Sedimentar do Paraná, Basalto de Tapirapuã, Formação Jauru e Intrusivas Ácidas (Paelozóico e Mesozóico); Cobertura Detrito-laterítica, depósitos detríticos, Formação Xaraiés e Formação Pantanal (Cenozóico).

Ao longo dos trabalhos de mapeamento geomorfológico realizados através do Projeto RADAMBRASIL (Franco & Pinheiro, 1982) foram identificadas nove unidades geomorfológicas na região, destacando-se a unidade denominada Planícies e Pantanais Matogrossense, que os autores descreveram como sendo um enorme anfiteatro voltado para oeste. Esta unidade foi subdividida em oito Pantanais, individualizados por suas características morfogenéticas (altimetria relativa, litologia e pedologia) e botânicas: Pantanal do Corixo Grande-Jauru-Paraguai, do Cuiabá-Bento Gomes-Paraguaizinho, do Itiquira-São Lourenço - Cuiabá, do Taquari, do Negro, do Miranda-Aquidauana, do Jacadigo-Nabileque, e de Paiaguás. Toda a discussão relativa à incorreção do uso do termo Pantanal (uma vez que não se trata de uma área com características pantanosas) e às diferentes propostas de sub-divisões da região foi extensamente relatada por da Silva (1990). O principal fato é que embora toda a área esteja submetida a uma gênese comum, caracterizada pelo processo de acumulação, a diferente disposição dos sedimentos confere características distintas a cada subunidade.

O Grupo Cuiabá é o substrato mais importante da Bacia do Bento Gomes. De acordo com Almeida (1948, citado por Franco & Pinheiro, 1982), o Grupo Cuiabá consiste de rochas de baixo grau de metamorfismo, constituídas predominantemente por filitos com intercalações de quartzitos.

As rochas dominantes na região de Poconé são sedimentares, que sofreram posterior metamorfismo (sequência metassedimentar detrítica do Grupo Cuiabá). Caracterizam-se por filitos sericíticos, grafitosos e piritosos. Normalmente os filitos acham-se cortados por veios de quartzo, que preenchem as zonas de fraturamento de orientação N25-60W, e que podem atingir desde poucos centímetros até decímetros de espessura. O ouro está concentrado nestes veios (Fernandes, 1989).

Segundo este mesmo autor, os processos de concentração aurífera no sistema de fraturamento provavelmente foram decorrentes da ação de fluídos hidrotermais. Os fluídos provocaram a remobilização do ouro contido nas rochas encaixantes, representadas pelos filitos grafitosos e/ou sericíticos, principalmente nos estágios finais do último evento tectônico que afetou as unidades geológicas da região.

Almeida (1965, apud Fernandes 1989), considera este evento como parte do Ciclo Brasiliano (900-600 milhões de anos). Nesta fase, as modificações da crosta terrestre relacionadas a um tectonismo rígico provocaram fraturamentos nas zonas de fraqueza para onde, devido ao alívio da pressão, migraram os fluídos hidrotermais que lixiviaram o ouro disseminado nas encaixantes.

Luz et alii (1980, apud Barros et alii 1982) descrevem três modos distintos de ocorrência de ouro no Grupo Cuiabá: em veios de quartzo, em elúvio-coluviões e em aluviões. O ouro que ocorre em veios de quartzo, discutido anteriormente, atualmente se constitui como o principal tipo em exploração. A ocorrência do tipo elúvio-coluvionar, de menor importância em termos de quantidade disponível, fornece ouro como subproduto da extração de cascalho para a construção civil. O tipo aluvionar de jazimento constituiu a principal fonte do metal garimpado no passado, por ocorrer na superfície dos solos das planícies de inundação.


Informática, Consultoria e Treinamento Paiaguás

Salatiel Alves de Araujo - Geólogo e Especialista em Sensoriamento Remoto
Comentários para o autor: salatiel@nutecnet.com.br
Todo conteúdo protegido por copyright © 1996
Todos os direitos para a língua portuguesa reservados pela
Informática, Consultoria e Treinamento Paiaguás
All rights reserved.- Revisado: Agosto de 1996
Endereço eletrônico desta página - file://geolog.HTM

1